Capítulo 7

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Todo o ar de meus pulmões foi retirado num sopro silencioso da minha parte, enquanto meu coração, provavelmente com a frequência maior que 180bpm, bombeava sangue diretamente para todos os pontos estrategicamente visíveis do meu corpo, tornando tudo um vermelho vergonhoso e revelador demais. Eu verdadeiramente nunca quis tanto explodir; espalhar meu ser em milhões de pedacinhos pelos ares e virar um átomo sem compromisso com nada, inclusive — e principalmente — com homens muito bonitos que me tiram do sério.

— Eu achei que te encontraria aqui. Não suporto mais nem o cheiro de McDonald's, mas sei que você gosta, então pensei em comprar o de sempre pra você — Changkyun continuou em vista de que eu não tinha conseguido encontrar nem uma sílaba para respondê-lo. — Só um agrado, sabe.

Direcionei meus olhos esgazeados à embalagem familiar de hambúrguer pra viagem e depois de volta para o rosto de Changkyun, não tão ardente quanto o meu mas sem dúvidas um rosa-bebê suficiente para imaginar que, no mínimo, estava formigando. Ele sorriu pra mim de novo com cara de poucos amigos, olhos desesperados, quase gritando por uma resposta minha. Qualquer resposta.

Dei um beliscão sutil em mim mesmo, só o suficiente para causar um espasmo no cérebro.

— Muito obrigado — falei involuntariamente e um pouco mais alto que meu tom normal, agudo, gritante e febril. Vergonha é o pior sentimento do mundo e quem inventou de romantizar isso só pode ser um louco.

— Não precisa. — A voz de Changkyun também havia subido umas notas, mas permanecia firme, talvez um pouco sem jeito, mas firme. — Trabalho? — Ele direciona o olhar para os cadernos e estojos na mesa.

— É- É sim, sobre Fotografia Kirlian, conhece?

— Ah, aquela técnica de captar a aura dos objetos? Melhor- aura não, né, mais pra correntes elétricas.

— É, é basicamente isso — minha tentativa de relaxar os ombros só os fez tensionarem mais. — Estávamos tentando concluir, na verdade, mas hoje eu estou muito aéreo.

— Aéreo? Pensando no quê? Se quiser falar, é claro — Changkyun se inclinou um pouco mais perto, sua voz agora havia soado extremamente baixa. Nem parecia que estávamos na praça de alimentação de um shopping público; tudo ao redor parecia acontecer em uma linha temporal distante da que estávamos. Ele me olhava pedindo resposta da primeira pergunta que fez, eu evitava realmente olhá-lo de volta porque não queria respondê-lo meu mais desesperado e carecente sim.

— Pensando... no dia da sopa...

— No seu engasgo? — Changkyun deu uma risadinha e eu acabei dando também, resmungando a ele um "deixa de ser bobo".

— Não, não nisso. Eu realmente espero que um dia você esqueça isso. Estive pensando no que aconteceu depois.

— No que aconteceu depois... — Changkyun se aproximou um pouco mais; agora, eu conseguia ver claramente o piercing dele, o nariz reto até demais e, é claro, a boca, se mexendo devagarinho enquanto falava: — o quê, você diz? — O movimento de suas sobrancelhas me fez entender que mesmo ele já sabendo, ele queria me ouvir falando.

— O beijo que você me deu no canto da boca, merda. — Revirei os olhos, o formigamento atingindo meu rosto de novo. — Aquele papinho barato de gostar de mim... tudo.

— Ah — Changkyun sorriu de soslaio, respirando fundo audivelmente, tomando toda minha boca na sua em um estalar molhado de segundos que me fez piscar várias vezes. — Esse beijo, você diz? Ficou pela metade, é verdade. Não é assim que se termina uma noite tão boa.

Eu senti que poderia realmente morrer do coração.

— Changkyun, se você estiver brincando comigo... por favor- eu não tenho tempo pra isso, pra brincar, okay? Você- você tem uma lábia barata e eu levo tudo a sério, como você sabe. Por favor, não esteja brincando comigo.

— Confesso que é muito divertido tomar os lábios de alguém sem aviso prévio, ainda mais se esse alguém for um esquentadinho diplomático como você, mas não brinco onde ponho a boca, Kihyun, e nem meu coração.

— Aquele... aquele papo sobre- sobre ser mais que afinidade... você realmente- realmente estava gostando de mim?

— Com todas as letras — Changkyun sorriu. — Eu enchi minhas palavras de duplo sentido, eu te disse que era um problema você não reconhecer. E eu sou muito cético com sentimentos amorosos de pouco tempo, mas algo em você simplesmente me cativou. Provavelmente foi seu chinelo rosa.

— Aquele chinelo rosa é ridículo- argh, para de contornar assunto, Changkyun.

— Tudo bem então — e ele me beijou de novo.

Dessa vez, consegui relaxar os ombros do jeito certo. E arrisco dizer que, quando me separei da boquinha de coração de Changkyun, passei a gostar um pouco mais dos meus chinelos cor de rosa; mas isso não é um final totalmente feliz, porque passe o tempo que for, eu nunca vou conseguir entender duplo sentido. Mas é melhor assim. Nunca gostei muito de sanduíche duplo mesmo.

[FIM]

- wjsnchateau

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