Capítulo 6

1.8K 368 140
                                    

Duas semanas se passaram depois do encontro com Changkyun, já beirando o início de outro mês. De todo mal, eu e ele agora nos encontramos pelos corredores e até saímos para almoçar juntos um dia desses. Ele nunca mais tocou no assunto do encontro de novo; nunca sequer mencionou o beijo que me deu no canto da boca, e eu meio que nunca tive coragem o suficiente pra mencionar também.

Queria poder dizer que minha extrema atração por ele não foi além disso, mas eu estaria mentindo. Changkyun consegue dar nós no meu coração cada dia mais, com aquela lábia barata e gentileza e educação únicas que compõem muito bem o conjunto de perfeição que é a existência dele. Não consigo parar de pensar naquela boca, naquela voz. E falar isso me deixa constrangido o suficiente, então vamos parar por aqui.

No momento, eu, Minhyuk e Momo estamos no shopping próximo à universidade, sentados em uma das mesas da praça de alimentação, discutindo pontos interessantes para adicionar ao trabalho sobre Fotografia Kirlian, já que somos do mesmo curso, mas a angústia dos meus sentimentos torna muito complicado debater sobre emulsão fotográfica e corrente elétrica e fótons.

Momo percebeu isso, e me olhou de cara emburrada depois de aparentemente "ter me chamado pela terceira vez", bebendo seu Iced Americano como se fosse o fogo do Inferno.

— Que é? — Perguntei, um pouco sínico, confesso.

— Vai dizer o que você tá sentindo ou prefere ficar quieto e deixar eu e Minhyuk discutir eletrofotografia sozinhos?

— Desculpa — bufei, jogando o torso na mesa, afundando o rosto nos braços e resmungando em alguma língua não-humana o quão frustrado e possivelmente apaixonado eu estava. — Estou pensando demais.

— Pensando em quê? — Minhyuk perguntou, colocando os dedos no meu cabelo e enrolando as madeixas.

— Em Changkyun — suspirei, erguendo o rosto, agora recebendo os dedos de Momo em meu cabelo também. — Naquele beijo no canto da boca... em tudo. Por que estou pensando nele?

— Não é óbvio? — Momo disse quase em espanto — Porque você gosta dele! Não se deve ignorar essas coisas, Kiki. Vira uma tempestade além do copo d'água se sempre ficar deixando pra lá.

— Mas eu deveria! Eu deveria ignorar! Estou no penúltimo ano de fotografia, meu Deus... vou me formar e ser fotógrafo arquitetônico... não tenho tempo pra ficar perdendo pensando em um- um atendentezinho do McDonald's.

— Que tem piercing na sobrancelha, uma voz rouca que atinge os nervos errados, boca de coração, nível de educação, intelecto e gentileza maior que o da maioria e vai ser músico. — Minhyuk rebateu, e eu quis tanto socar a cara dele porque ouvir as qualidades de Changkyun não era bem o que eu precisava no momento. Precisava ouvir defeitos. O problema é só achá-los.

— Você não tá ajudando! — Me sentei corretamente de novo, com o rosto vermelho e levemente eufórico, encarando Minhyuk que me encarava de volta com cara de deboche. — Preciso ouvir os defeitos pra poder desgostar um pouco dele, sabe? Não só as qualidades!

— O único defeito de Changkyun é não ter te beijado ainda, Kihyun. — Momo disse e logo depois arregalou os olhos, beliscando o braço de Minhyuk, que também arregalou, e eu por consequência tive que checar por que diabos eles estavam com aquelas caras.

Foi como voltar à loja de conveniência, mas dessa vez não ter como se esconder.

— Eu também concordo — Changkyun, em toda sua graça e inconveniência, segurando um saco de papel com o M do McDonald's constrastando em amarelo, de pé, de frente para nós três.

— C-Chang-

— Oi, Ki. — Ele olhou pra mim com as bochechas levemente rosadas, a voz tão gentil quanto nunca. — Olá pra vocês também. Você eu conheço — ele disse, sorrindo pra Minhyuk, que sorriu de volta. — Você é?

— Hirai Momo — ela sorriu também, agarrando o pulso de Minhyuk e pegando seu copo de Iced Americano com a outra mão. — Vou comprar uns marcadores na FUN, está bem, Kiki? Com licença, Changkyun, foi um prazer te conhecer. — Ela levantou, puxando Minhyuk junto. — Vem comigo, Minhyuk!

E quando eles foram embora, Changkyun sentou-se onde Minhyuk antes estava.

— Você também concorda?

— C-Concordo com o quê?

— Que meu maior defeito é ainda não ter beijado você?

MCDONALD'S Onde histórias criam vida. Descubra agora