À chegada do outro dia, concluo eu que seja o terceiro desde do que fiz aquele idiota passar, sinto os insetos no meu corpo, ainda mais as moscas que voam por meu corpo, provavelmente sentindo o cheiro de carne morta. O suor começa a brotar em minha pele, por cima dos que já vieram, e não entendo os motivos de Deus em não me levar logo e tirar disso.
Me arrependo amargamente de não ter aceitado comida daquele ser, meu organismo já não é mais capaz de gerar ao menos saliva, o que deixa minha garganta completamente ressacada. Já perdi as contas de quantas vezes me prendi e soltei as necessidades carnais essenciais do dia. Tais como urina, literalmente apenas essa, já que não tenho nada no corpo para gerar a outra.
Por um breve momento, chego a cochilar ignorando a dor que sinto no pulso pela corrente, mas desperto com a consciência razoavelmente sã. Na verdade, não sei mais o que é ou não certo ou errado...
— HYUNWOO PELO AMOR DE DEUS! — ouço a voz do seqüestrador e os batuques no chão de madeira se aproximarem de mim. — Olhe para mim, Hyunwoo, por favor — choraminga quando não atendo seu pedido. Estou acordado e razoavelmente ciente do que ocorre, mas meu corpo não.
Ele mexe em um dos meu pulso, mais particularmente nas algemas e ambos os pulsos caem na cama, sinto eles arderem.
Liberdade, é você?
Não sei exatamente o que ocorre depois, apenas sinto que sou erguido com dificuldades, quase caio no chão, mas sou posto contra parede com outro corpo me segurando e resmungando do meu peso. E como se fosse uma obra divina, sinto a água sobre mim. Aproveito um pouco aquela água fresquinha e após, sou sentado, encostado em algum lugar.
— Hyunwoo, abre os olhos. — ele pede novamente e sinto seus dedos molhados em um leve contato contra minha pálpebras, as molhando. Abro devagar os olhos, encontrando o rosto mascarado e a íris castanhas claras. Ele respira fundo e expira aliviado — Nunca mais me dê um susto desses! Eu trouxe roupas limpas, estão ali em cima. Há uma corrente no seu tornozelo, imagino que... — por um momento paro de ouvi-lo — entendeu? — pergunta. Assinto, o garoto se afasta e sai do local, fechando a porta.
Volto a aproveitar meu ótimo momento embaixo dágua, eu nunca senti tanto prazer em estar embaixo de um chuveiro como agora. Me desfaço das minhas roupas, as deixando num canto do chão, abro o sabonete que me foi deixado e vejo um barbeador junto.
Faço minha higiene corporal com um enorme prazer, nunca foi tão gostoso tomar banho e me sentir limpo e cheiroso, faço a barba com a lâmina nova, e num segundo, depois de horas embaixo do chuveiro, encerro o banho. Me visto com as roupas limpas que me foi deixada, e ao que indica os selos delas e a data em que foram impressas neles, todas são novas, só não tem o preço, mas não me importa. Visto a bermuda e a blusa. Após, escovo os dentes, me perfumo e ajeito os fios com os dedos mesmo. Saio do banheiro encontrando o mascarado sentado num puff, no que pode ser chamado de sala, e com a cabeça baixa. Pigarreio chamando sua atenção.
A cabana é pequena, com a corrente em meu tornozelo, posso ter acesso a sala e a uma cozinha pequena com um fogão elétrico, uma pia pequena ao lado, uma geladeira pequena, e uma mesa de madeira. O mascarado se levanta vindo até mim e me surpreende com um abraço apertado, o cheiro fraco de uva me intoxica por dentro, mas não de um jeito negativo. Com os braços ao redor da minha cintura, ele passa n nariz em meu pescoço, inspirando meu cheiro. Duvido muito ele ter feito isso quando eu estava daquele jeito deplorável, se ele ainda continuaria de pé.
Com a mão em seu ombro, peço que se afaste, sou atendido.
— Senta um pouco. — pede também. Atendo, me sentando na ponta da cama. Ele se senta à minha frente e abre uma quentinha com macarrão e carne dentro, além de alguns legumes. Ele dá comida em minha boca, e durante todo o processo, não posso deixar de notar alguns sorrisos que ele esboça por debaixo da máscara. Apesar de ter saído do banho ainda pouco, bebo os 2litros de suco de maracujá que ele trouxe, só me dou por satisfeito quando acaba. O garoto se agita a recolher as coisas sujas, coisas essas que são poucas, já que provavelmente deve ter arrumado tudo enquanto eu ainda estava no banho.
— Não quer descansar um pouco? — pergunta quando volta da cozinha
— Passei três dias descansando. — respondo com a voz rouca, pigarreio um pouco, ele afirma balançando a cabeça
— Vem. — segue para o puff novamente e se senta, me chamando para o local. Reluto, notavelmente, por segundos, mas me dou por convencido visto que ele cuidou de mim à segundos atrás, sem abusar da ocasião. Me sento à sua frente e de costas para sí, ele me puxa para que eu encoste as costas em si, e ele fique abraçado à mim. Me detesto por isso.
— Por onde esteve? — começo. Por um momento penso que não vai responder, mas continua me fazendo um carinho muito bom na extensão do meu peitoral
— Resolvendo uns problemas. — diz baixo
— Não pode me dizer? — insisto
— Não, não por enquanto. Me perdoa por ter deixado você daquele jeito...
— Pensei que tivesse sido um castigo...
— E foi. — sorri soprado — Você foi muito mal-criado com quem só queria te ajudar...
— Agora, falando sério... — tiro o braço dele de torno de mim e me viro um pouco para olhá-lo — por que disso? Disso tudo? Por que fez isso? Seqüestro é algo ainda mais feio do que uma resposta malcriada. — pergunto, olhando nos olhos dele, que é o único lugar que posso ver com clareza o que se passa, talvez não com tanta intensidade, mas visível à mim. Eles brilham sobre os meus.
— Por que... Aish Hyunwoo, porque é tão ridiculamente frustrante te ver sorrir até para um inseto do que pra mim. Eu... Quando nos conhecemos eu me apaixonei perdidamente por você, eu sempre soube que nunca seria notado, ainda mais sabendo sua opção sexual. Eu sempre fui apaixonado por cada pequeno detalhe seu... — ele ergue a mão pro meu rosto onde acaricia suavemente — seu sorriso fofo, seus dois dentinhos tortos na frente, sua seriedade. Os dias em que chegava animado perto de mim, eram como se fossem os dias de glória, os abraços espontâneos que me dava, me tirava o ar durante todo o dia, e meu coração se partia quando você ficava triste, eu sentia vontade de abraçar e não soltar até que melhorasse. Mas aí... Quando a gente estava começando a se dar bem, veio à mulher que você chama de namorada. Eu fiquei com tanta raiva que passei o dia inteiro com febre de 40graus, aquilo foi o fim pra mim, e pior ainda, quando ela brigava com você por puro capricho. — ele bufa — Eu não aguentava mais ficar longe de você, longe do seu sorriso, do seu abraço, do seu cheiro, eu não conseguia mais te tirar da cabeça, e menos ainda dormir sem te imaginar comigo, apenas me abraçando e me dizendo o quanto me adora. Não pude deixar de planejar isso, eu tô errado sim, não tiro minha culpa, vou pagar pelo meu crime, mas só quero ter uma oportunidade de estar com você, te tocar e te sentir... — me olha nos olhos e sorri — Você não deixa de ser lindo confuso. — sorrio junto
— Nos conhecemos então? Eu conheço muitas pessoas com quem tenho uma relação afetiva forte, então isso não me diz muito. Você não é o Hoseok.
— Não mesmo! — ele ri — Já disse, sou alguém que você nunca olharia. Quem é sua pessoa de confiança na acadêmia?
— Motivo da pergunta?
— Deixa de ser chato, Hyunwoo. — se ajeita colocando as pernas enlaçadas em minha cintura — Estou iniciando um diálogo, colabora.
— Meu assistente e melhor amigo, Minhyuk.
— Nossa, temos um prestigiado aqui, não?
— É, temos. Ele me ajudou muito e seria injusto não colocá-lo num pódio alto. Mas e você? Tem pais? — pergunto e ele fita meus lábios enquanto os acaricia
— Posso te dar um beijo?
— Eu não sei se é uma boa ideia...
— Qual é a diferença?
— Você é um menino e... — me sinto confuso com a explicação — por enquanto não.
— Por enquanto? Então está considerando liberar? — se anima — Eu sou um menino na sua cabeça, posso ser uma menina, caso queira, não é sobre o modo como você olha, é sobre o modo como você vê. Ainda temos tempo, Hyunwoo. — diz, não sei exatamente o que isso significa, mas acho melhor não questionar.
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O seqüestro - ×ShowHyuk×
FanfictionO principal objetivo foi fazê-lo se apaixonar por mim, ou pelo menos poder senti-lo. Sentir por um segundo seus cuidados e que sou um alguém pra ele... Mas meus planos não deram certo.