The Kiss Is Better

Nova fase, velhos costumes

Eu pensei que sempre soube o que era realmente amar alguém.

Quando era mais jovem, idealizava que na hora certa a pessoa certa, aparecia e ficaríamos juntos para sempre. Teríamos filhos, uma bela casa. Isso era amor para mim. Mas, até lá eu não deixaria de lado as fabulosas noites que Hollywood me proporcionaria. Juventude, holofotes, mulheres e câmeras apontadas para você, isso faz a cabeça de qualquer pessoa no início da sua carreira.

E lá estava eu, tentando uma chance na disputada vida das estrelas de Hollywood. Era o meu sonho ser visto, eu queria mostrar o quanto eu amava atuar, e como tudo aquilo seria o suficiente pra mim.

Não foi.

Com o passar do tempo as coisas mudaram, assim como os meus pensamentos e expectativa de vida. Apareceu Jillian. Uma mulher linda, que me apoiava e sempre dizia que acreditava no meu potencial, além de ser bem compreensível em relação ao mundo que eu estava disposto a conquistar.

Os anos se passaram, a fama chegou, e Jillian continuou ao meu lado, e quanto o mais o tempo passava, cravava na minha cabeça que ela era a mulher da minha vida, e a mulher na qual merecia respeito, pois estava comigo desde o início, certo?!

A primeira filha chegou, as responsabilidades começaram a se duplicar, e minha visão de mundo, amor, fama estavam em constante mudança. T era uma criança linda, segura-lá no colo pela primeira vez foi uma das melhores sensações da minha vida, e estava certo que iria ser eternamente grato pela mulher que foi capaz de me proporcionar isso. Talula me fez ver o mundo de uma nova forma, um novo tipo de amor, e novas prioridades surgiram, mas não deixei meu sonho de lado.

Grey's Anatomy foi o ápice do meu sucesso. Tinha feito outros filmes, mas nada se comparou  ao glorioso casal Meredith e Derek e sua química memorável dentro de um elevador. Acredite, não estava nos meus planos me apaixonar pela minha co-estrela.

Quando eu pensei que já sabia de tudo sobre a vida, e que não poderia aprender mais nada com as circunstâncias, Ellen apareceu. A sua forma de ver o mundo, a levesa das suas falas, os seus planos e como ela lidava com todas as dificuldades e problemas da vida, me fazia aprecia-lá.

Eu a admirava, não só como mulher, mas como pessoa também. Ela me ensinou a ver o mundo com outro olhar, de outra forma e com um novo ângulo. Enquanto a ouvia falar, eu poderia muito bem me imaginar deitado a seu lado na cama do fim do dia enquanto conversávamos e ríamos, perdidos nos braços um do outro. E para duas pessoas que se amam, essa realidade não soa tão absurda assim, não é?

Não no nosso caso. Embora um parte de mim ainda acredite que isso seja possível, não vai acontecer...pelo menos não hoje.

E isso me leva a manhã de hoje cedo. Parte de mim se ressente da idéia de ela estar tão perto e, ao mesmo tempo, tão longe. Houve um tempo que compartilhávamos a mesma história, mais isso faz mais de dois anos atrás.

De uma forma ou de outra, Ellen me ajudou a amadurecer, ela era o que faltava para saber realmente o sentido da vida e o que realmente importa nela.

Eu me apaixonei por ela enquanto estávamos juntos, e me apaixonei mais profundamente nos anos em que estávamos separados, e esses dias com ela me provou isso mais uma vez.
Fico refletindo essas coisas e, como sempre volto a pensar no tempo em que passamos juntos. E sempre me vejo relembrando com tudo começou, pois agora essas lembranças são tudo que me restam, pelo menos por enquanto.

O som da campainha do quarto ecoa pelo ambiente interrompendo os meus pensamentos.

-Jillian?!

-Surpresa!

-Percebi.

-Que ótima forma de me receber. Vai deixar eu entrar ou vou ficar aqui fora mesmo?

Liberei a passagem da porta, e ela logo entrou.

-Não está feliz em me ver? - ela diz desapontada.

-Claro que estou! - tentei fingir entusiasmo.

-Então porque o seu rosto diz o contrário? - ela para por um instante e começa a observar o ambiente. Para o olhar na mesinha de centro.
Minha boca já estava aberta pra negar a sua afirmação, quando imito o seu olhar, e vejo o que ela observava. Duas taças de vinho sob a mesinha.

Quase que por um ato espontâneo, o seu olhar vai em direção ao quarto, e consequentemente, a cama com os lençóis ainda espalhados da noite passada. Meu sangue para de circular e minha mãos ficam geladas. Aguardo sua próxima atitude, e então ela me encara... com os olhos cheios de dor e raiva, mas que já sabiam o que estavam vendo.

-É ela de novo, não é? - tentei dizer algo, mas eu não conseguia. Não suportaria mentir. - Não precisa responder. É ela! É sempre ela. Eu não tenho mais forças pra lutar contra isso, eu estou exausta!

-Você está exausta? - eu comecei a aumentar o tom de voz. - Nos últimos dois anos eu vivi por você, com você e pra você. Unicamente pra você! Você me impediu de fazer o que eu amo, me chantageou em relação aos nossos filhos! - eu já estava gritando. - Nossos filhos, Jillian! Nos últimos dois anos tivemos que viver algo forçado, e você sabe exatamente do que eu estou falando, então não aja como se fosse a única que esteja tentando, por favor. - falei cada palavra com os olhos fixados nos dela.

-Eu sei que nada justifica... -meu tom de voz estava voltando ao normal. -Mas você sabia, sempre soube. Eu nunca te escondi sobre meus sentimentos. -falei derrotado e completamente exausto dessa conversa novamente. -Mas você preferiu viver um mundo fictício, fantasiar a família perfeita...e antes eu não entendia o porque, mas agora eu entendo... -me limitei a dizer apenas isso, não queria entrar nesse assunto.

Seus olhos estavam cheios de lágrimas, mas o olhar de raiva não estava mais lá... deu o lugar a um olhar de culpa e arrependimento.
Ela não falou nada. Caminhou até a porta, a abriu, e antes de ir embora, virou-se e disse:

-Eu também trai você. - fechou a porta atrás dela, e me deixou sozinho novamente, com o quarto girando sob meus pés.

As frases que estão assim são do livro "Querido Jhon". Peguei algumas referências porque achei o livro totalmente incrível e perfeito. ✨