Capítulo 1 - O deus

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 — O Jimmy!? — pensei eu.

 — Ajoelhe-se, humano — disse a figura mística que simplesmente aparecera na minha frente.

     Veja bem, eu não quero parecer um completo maluco, ou algum drogado — até porque eu nunca usaria drogas —, mas eu simplesmente não consigo explicar o que havia acontecido comigo naquele dia. Eu tinha saído da escola atrás de uma garota na intenção de confessar meus sentimentos e acabei me perdendo e parando numa pequena passagem que atravessava o quarteirão, o beco não era muito estreito, e para falar a verdade era até um pouco sujo e cheirava mal, além que, era possível ver a rua do outro lado de onde eu estava. As paredes do beco eram cinzas e ao longo do chão tinham algumas poças, as quais eu não sei do que eram, não poderiam ser d'água porque já fazia um tempo que não chovia. Também tinham alguns cartazes rasgados colados ao longo de todo o beco e algumas lixeiras. Falando em lixeiras, havia uma em especial: em uma parte do beco tinha uma espécie de depressão com uma grande lixeira verde com o símbolo de reciclagem. Mas ela em si não é o grande ponto, o problema foi que eu pensei ter visto algo se mexer atrás dela, e eu ignorei, dei dois passos e a luz fria do anoitecer começara a se transformar na luz cálida do sol. Eu estava com medo de chegar em casa tarde e minha mãe me matar. Até eu me virar e encontrar a coisa mais enigmática que já vira em toda a minha vida. A coisa, ou ele, se tratava de um losango. Sim, um grande losango dourado, ele parecia ser feito de algum tipo de metal chumboso, e nas extremidades verticais a cor dourada se transformava num preto tribal, era como se alguém alguém tivesse pegado um carro muito maneiro e o prensasse até chegar àquela forma. Poderia dizer que naquele momento ele era um pouco maior que eu. Das extremidades horizontais brotavam penas, mas não eram como penas de pássaros, era como se as penas houvessem sido feitas há muito tempo por um famoso pintor, então a pintura ganhou vida e se juntou a um imenso losango sobrenatural. O pior de tudo é que exatamente no centro dele havia um olho grande e muito vivo, o olho era exatamente como o de um ser humano, porém muito maior e muito mais cheio de vida, como se houvesse acabado de nascer, pouco acima dele se posicionava uma pequena esfera cheia de espirais com uma ponta como uma espécie de chifre que apontava em direção ao céu e brilhava bastante. Por fim, da extremidade superior saía uma linha uniforme que cruzava o corpo do ser de uma ponta a outra, mas parava pouco antes de encostar à extremidade inferior. A linha crusava inclusive o olho. Ele emitia um brilho intenso, mas nada a ponto de não ser possível olhar para ele, e um calor reconfortante.

     O Jimmy!, essas palavras simplesmente apareceram em minha mente quando o vi, além do pensamento do quão bizarro aquele momento era. Por algum motivo em meio aquela situação eu acabei perdendo a atenção no Jimmy e me focando numa folha de papel no chão. A folha não tinha nada de mais, apenas alguns borrões de tinta, não sei como perdi o foco desse jeito. Foi então que a criatura disse:

 — Ajoelhe-se, humano.

     A voz dele ecoava em minha mente. Era uma voz estridente e metálica. Tive a sensação de que ele se comunicava telepaticamente e isso me assustou de inúmeras maneiras, na verdade, toda aquela situação era assustadora. Há poucos segundos parecia que ia anoitecer, e a cidade seria tomada pela escuridão da noite, mas ali, naquele local, estava claro. Como se o sol acabasse de nascer. Olhei ao redor e vi que do outro lado do beco os postes estavam acesos e as pessoas caminhavam normalmente, como se não pudessem enxergar essa coisa. Pude reparar que realmente havia anoitecido. Eu não sabia que hora era, só sabia que precisava sair dali. 

 — O que é você? — perguntei com a voz trêmula, aterrorizado.

     A criatura fez algo que eu não sei como descrever, por um segundo me pareceu que ele havia franzido o cenho. 

 — Pensei ter te dito para se ajoelhar. 

 — Por que eu deveria me ajoelhar? — consegui rebater.

A Forma do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora