Capítulo 7

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Os olhos de Sehun estavam mais escuros e pareciam mais vazios, se possível. Luhan ficou impressionado olhando a expressão em branco do marido durante as últimas doze horas. Sehun permaneceu em silêncio, desde o telefonema de Kyungsoo, suas feições eram as mesmas de alguém que recebera dolorosas notícias da morte súbita do pai.

Não foi tão repentino, pra falar a verdade. Insuficiência renal não é algo que acontece ao longo de uma noite. Sehun apenas não sabia disso, sendo o filho cego que ele era, nem sabia se o pai parecia doente e abalado. Luhan suspeitava disso, mas ele nunca se importou em tirar satisfações com o Oh mais velho. Ele pensou que não importava, não até ver o sofrimento e a dor nos olhos geralmente sem emoção de Sehun.

Luhan recostou-se, seus olhos ainda fixados no rosto de Sehun enquanto o avião decolava, levando-os de volta para a sua terra natal, a tempo do funeral.

Sehun não chorou e Luhan encontrou-se desejando que ele simplesmente o fizesse para colocar toda a dor para fora. Luhan sabe porque ele costumava ser aquele filho indecente e indesejável que chorava muito cada vez que o insultavam, fazendo com que ele se sentisse o verdadeiro erro de sua mãe. Ele sabe que Sehun vai se sentir um pouco melhor se ele apenas desabafar, mas seu marido não derramou lágrimas, apenas permaneceu sólido como sempre.

Não era o certo.

— Sehun — Luhan chamou suavemente, engolindo o nó na garganta. — Sehun, você está... bem?

Estúpido, claro que ele não estava bem. Luhan reconhecia que não conseguiria confortá-lo. Isso porque ele nunca foi acalentado antes. Nunca.

As maravilhas de estar em torno de Oh Sehun o assustava.

— Eu não... estou, mas... está tudo bem — Sehun estava confortando-se, seus olhos se fecharam firmemente e os nós de seus dedos estavam brancos de tanto que apertava sua mão.

Luhan olhou para ele sentindo-se com o peito apertado. Ele desviou os olhos para as mãos trêmulas de Sehun e sem pensar pegou-as em suas próprias mãos menores e delicadas. Sehun congelou por um segundo, mas manteve os olhos fechados e não se afastou. Luhan acolheu o convite. Ele sabia que Sehun precisava disso, não importa o quanto ele tentasse disfarçar.

— Não está tudo bem, eu sei que não está — Luhan sussurrou, seu suspiro trêmulo quando Sehun não fez um único movimento. — Eu... estou aqui.

Luhan abriu as mãos do marido, estremecendo ao ver as marcas de unhas nas palmas pálidas. Ele esfregou suavemente sobre as manchas avermelhadas com a ponta dos dedos, pedindo profundamente para que os deuses tomassem a dor de Sehun e apenas colocassem nele. Ele estava acostumado, mas Sehun não merecia.

Assim como... também não merecia uma vida infeliz, tendo o ganancioso Luhan como seu companheiro.

— Eu sinto muito, Sehun. — Ele sussurrou contra o ombro do mais alto, colocando sua testa sob a dele enquanto suas mãos ainda esfregavam suavemente seus machucados. Ele não sabia se oferecia suas condolências ou se pedia desculpas por seu egoísmo. De qualquer forma, doía ver que Sehun não reagia.


♬♬♬♬♬


O funeral foi realizado no cemitério dos Oh 's, duas horas após o pouso do avião. Luhan ficou na primeira fileira, observando as costas rígidas de Sehun enquanto Kyungsoo o guiava para o caixão do pai. Não parecia certo estar ao lado de Sehun no momento.

O tamanho do coração de Luhan dobrou ao ouvir os choros suaves de sua mãe atrás de suas costas e a voz de Junmyeon confortando-a. Ele fixou seus olhos em Sehun que sussurrava algumas palavras para o corpo frio de seu pai antes de sentir-se trêmulo para tocá-lo. Os olhos de Kyungsoo estavam vermelhos, mas ele não derramava lágrimas, ele guiou suavemente a mão de Sehun até descansar no rosto pálido do pai.

Luhan sentiu que iria vomitar enquanto observava Sehun que sorria quase de um jeito doentio, seus olhos brilhavam com lágrimas, mas ainda não chorava. Ele sentiu o rosto de seu pai como se quisesse gravar seus traços em sua memória.

A cerimônia terminou depois que todos fizeram suas condolências. Luhan viu sua mãe e Junmyeon antes do marido de Kyungsoo os levar de volta para casa.

— Eu virei amanhã, Sehun-ah — Kyungsoo sussurrou no ouvido de Sehun, abraçando-o pela última vez antes de sair com seu marido. Pela primeira vez, Luhan não conseguiu olhar para trás para os olhares cautelosos de Kyungsoo.

A casa nunca fora tão fria. Luhan manteve-se em silêncio enquanto caminhava atrás de Sehun, que eventualmente caiu no sofá, puxando as pernas para o peito. Ele estava desmoronando lentamente.

— Eu... vou trazer algo para você comer — Luhan disse antes de fugir para a cozinha. Por que foi tão difícil olhar Sehun desabar assim? Esta deveria ser uma oportunidade para manipular Sehun e finalmente levar qualquer coisa que ele quisesse, mas Luhan não conseguia pensar em nada do que desejava antes, ele só precisava ver Sehun aliviado de sua tristeza.

Luhan preparou um prato rápido de omelete, encheu a bandeja adicionando um copo de suco e frutas frescas antes de voltar para a sala de estar. Sehun ainda estava sentado rígido no sofá como o havia deixado, só que havia uma sonata tocando no rádio velho.

A cabeça de Sehun virou-se quando Luhan colocou a bandeja na mesa de café, como se ele já não tivesse sentido sua presença antes.

Ele silenciosamente tomou seu lugar ao lado de Sehun.

The Lost Soul, uma peça composta por Beethoven para uma princesa francesa em luto por seu filho perdido no nascimento — Sehun sussurrou suavemente, apoiando o queixo em seus braços cruzados.

O coração de Luhan apertou-se por ele.

— Meu pai não apoiava tanto a minha escolha de carreira, mas ele finalmente cedeu depois da morte da minha mãe no acidente. Eu só segui porque ele estava lá me encorajando e me lembrando do por que eu não podia ceder.

— Sehun — Luhan não poderia dizer mais.

— Quando eu era jovem, prometi ganhar todos os prêmios para minha mãe e depois da morte dela eu ganhei em sua homenagem, e para provar ao meu pai que eu nunca iria desistir — Sehun suspirou trêmulo, lentamente deitando-se do seu lado no sofá.

Luhan se moveu inconscientemente, levantando a cabeça de Sehun e colocando-a gentilmente em seu colo. Sehun levantou sua mão devagar, apertando os joelhos de Luhan. Ele estava tremendo, tentando segurar as lágrimas.

— Eu deveria ter desconfiado da súbita vontade dele em me casar, ele sabia que não ficaria por muito tempo — Sehun respirou, engolindo em voz alta. — Para quem eu vou provar agora? Para quem eu vou ganhar prêmios até minhas mãos cansarem?

Luhan franziu os lábios, colocando gentilmente a mão na cabeça de Sehun e passando os dedos pelos cabelos macios do marido como um pequeno conforto.

Ele se importava, Sehun tinha razão.

— Para mim — as palavras deixaram seus lábios sem pensar. Luhan fechou os olhos, disposto a parar para pensar por um segundo, mas as palavras ainda saíram da mesma forma. — Faça isso por mim, eu ainda estou aqui. — Porque eram palavras verdadeiras.

Sehun suspirou, sua mão segurando firmemente no joelho de Luhan. Uma risada amarga saiu dos lábios dele.

— Pare de ser tão forte — sussurrou Luhan. — Você já foi forte o suficiente.

Luhan manteve-se em silêncio logo após isso, sentindo as lágrimas esmagadoras escapando de seus próprios olhos quando as risadas suaves de Sehun se transformaram em soluços sufocados, destruindo seu corpo. Luhan permitiu que seu marido voltasse ao seu colo, enterrando o rosto contra sua barriga e finalmente chorando com todo o coração.

Sonata do Amor [TRADUÇÃO PT-BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora