Quarta-feira,15 de fevereiro

5 0 0
                                    

Graças a Deus o carnaval passou. Não posso dizer que passou bem porque
apanhei de vovó, coisa que ela nunca fez.
É sina minha todo o mundo que gosta de mim me infernar a vida. Todas as
minhas primas são governadas só pelos pais. Ah, se eu também fosse assim! Meus pais é que menos me amolam. Não tivesse eu o governo de vovó e tia Madge, teria ido ao baile de máscaras do Teatro. Desde os sete anos eu sonhava fazer doze para ir ao baile. Agora estou com treze e apanhando para não ir!
Quem me fez vontade de ir ao baile foi tia Quequeta, contando o que elas
faziam no tempo delas. Uma amiga dela pôs máscara, disfarçou a voz e buliu com o pai a noite inteira, a ponto de ele ficar apaixonado e no dia seguinte, em vez de ir para o almoço, ficou passeando no jardim, de cabeça baixa, pensando na mascarada. Outra amiga deixou o marido ir para o baile e foi atrás, de
máscara, brincou com ele, deixando-o apaixonado, a ponto de ele ficar
suspirando a noite inteira.
Minhas tias ainda têm as saias-balão que se usavam. Que vontade de ter
sido desse tempo! Hoje não há nada disso, mas eu queria ir assim mesmo.
Glorinha ficou só me inchando a cabeça desde cedo. Pedi licença a mamãe e ela disse: “Se sua avó deixar, eu deixo”. Pedi a vovó: “Vovó, mamãe deixou. A senhora me deixa ir ao baile com a Glorinha?”. Ela disse: “Não deixo não!”. Saí batendo o pé com força e caí na cama dela, chorando. Ela vem, tira a chinela do
pé e me dá duas chineladas, dizendo: “Então chore com razão!”. Bati com as pernas mas não me levantei.
Mas valeu, porque hoje ganhei um vestido e uma pratinha de dois mil-réis.

minha vida de meninaOnde histórias criam vida. Descubra agora