Características Intrigantes da personalidade de Cristo
Os sonhos surpreendentes de um homem que viveu no deserto.
Há muitos séculos, um homem estranho viveu numa terra seca e sem esperança no deserto. Sua
veste era bizarra, feita de pele de animal. Ela caía mal no corpo, sobravam bordas, como um
longo vestido mal confeccionado. Sua dieta era mais estranha ainda, composta de insetos e da
doçura do mel, não conheceu as benesses do trigo. Sua pele era seca, desidratada, maltratada
pelo sol e pela sórdida poeira. Seus cabelos eram revoltos, sua barba era longa e cheia de
espículas.
O vento era seu companheiro e os seus assobios eram a sua música. Deu as costas para a
civilização desde a mais tenra infância. Estava preparado para morrer. Seus ossos se depositariam em qualquer canto sem nunca ter um contato estreito com a sociedade. Mas o
estranho homem do deserto sonhava como qualquer ser humano. Só que seu sonho era tão
grande que lhe roubava a tranqüilidade. Ele sonhava com alguém que não apenas conhecia os
conflitos e as misérias sociais, mas que mudaria o mundo. Certo dia, parou de sonhar e
começou a agir. Saiu da secura da areia e se aproximou da brisa de um rio. Que refrescante!
Mas não havia refrigério para o homem do deserto. Nas margens do rio, ele começou a falar
do homem dos seus sonhos e das mazelas humanas. Era de se esperar um homem de torpes
palavras que não convenceria nem os loucos a segui-lo. Mas, para a surpresa de todos, ele era
eloqüente e ousado. Falava aos gritos. As pessoas tremiam ao ouvi-lo. Suas palavras não
aquietavam a alma, pois expunham as suas feridas. Ele criticava os erros, as injustiças, a
manipulação dos grandes sobre os pequenos, a hipocrisia religiosa.
Os fariseus, famosos por serem moralistas e por serem versados na lei de Deus, ficaram
abalados com seu discurso. Este homem bizarro julgava falsa a postura religiosa reinante.
Ninguém tinha tal ousadia, mas o homem do deserto não tinha compromisso com a sociedade.
Não sabia o que era status social, não tinha interesses subjacentes, queria apenas ser fiel aos
seus sonhos. Dizia aos líderes religiosos que eles eram carrascos, pois aprisionavam as
pessoas no pequeno mundo das suas vaidades e das suas verdades. Pela primeira vez na
história, alguém chamou a casta mais nobre de religiosos de raça de víboras: belos por fora,
mas venenosos por dentro (1). Eles não se importavam com as lágrimas dos outros. Faltava-
lhes amor por cada miserável da sociedade. Só amavam a si mesmos.
O homem do deserto era tão ousado que não poupou nem mesmo o violento governador
daquelas terras: Herodes Antipas. Tal ousadia custou-lhe caro. Não demorou muito e foi
decapitado ( 2). Mas ele não se importava de morrer, queria ser fiel à sua consciência. Seu
nome era João, o batista. Por fora era mais um João; por dentro, um homem que queria virar o
mundo de cabeça para baixo. Ele inaugurou a era da honestidade da consciência. Uma era que
se perdeu nos dias atuais, na qual a aparência vale mais do que o conteúdo. Pode se estar
podre por dentro, mas se houver fama e dinheiro, há valorização. Usando apenas a ferramenta
das idéias, ele afrontou o impermeável sistema religioso judaico e o intocável império
romano. Suas idéias contagiaram a muitos. Dos grandes aos pequenos, as pessoas de toda a
Judéia, Galiléia e da cidade de Jerusalém afluíam para ouvilo nas margens do Jordão. Ao
ouvi-lo, as pessoas mudavam a sua mente e abriam o leque dos seus pensamentos.
Persuadidas por ele, elas entravam nas águas do Jordão e saíam de lá para escrever uma nova
história. Tal gesto foi chamado de batismo e revelava um simbolismo psicológico fascinante,
uma mudança de rota existencial a partir das águas cristalinas de um rio. Gotas de esperança
escorriam pela alma das pessoas enquanto gotas de água percorriam os vincos do rosto. O
sorriso havia voltado.