Um homem surpreendente

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Após João apresentá-lo, todos esperavam que ele, pelo menos, fizesse um grande discurso.
Mas optou pelo silêncio. Entrou nas águas do Jordão e quis cumprir o símbolo do batismo(9).
Deixaria de ser o carpinteiro de Nazaré, mudaria sua rota depois de trinta longos anos de
espera e se tornaria o mestre dos mestres, o mestre da sensibilidade, o mestre da vida, o
mestre do amor. Ensinaria o mundo a viver.
João se recusou a batizá-lo. Um rei não poderia abaixar-se diante de um súdito, pensava João.
Mas o rei se abaixou. Esse é mais um paradoxo. Ele entrou calado e saiu calado. O mestre dos mestres não tentou convencer a multidão da sua identidade. Tinha uma
oportunidade ímpar para impressionar as multidões, mas se calou. Muitos compram jornalistas
para falar bem de si ou para serem destacados nas colunas sociais. Amam aparecer. Jesus,
embora fosse muito visível, apreciava o anonimato. João ficou maravilhado com sua
humildade, mas a multidão ficou confusa. O choque foi inevitável. As pessoas saíram de cena
e tiveram insônia. O sonho delas havia se esfacelado. Jesus de Nazaré entendia de madeiras e
pregos. Não parecia ter sabedoria para envolver as pessoas. Mas quando abriu a sua boca,
todos ficaram perplexos. João, um brilhante orador, ficou pequeno diante da profundidade de
sua eloqüência. Ele foi um dos maiores oradores de todos os tempos. A coragem e a gentileza
se entrelaçavam na sua oratória. Raramente alguém foi tão sensível e destemido na terra da
censura. Falar contra o sistema político e o sinédrio judaico geravam tantas conseqüências
quanto falar contra Saddam ou Stalin na época em que estavam no poder.
Sua inteligência era assombrosa. Ele falava com os olhos e com as palavras. Suas aulas
encantavam. Ninguém resistia ao fascínio dos seus discursos. Ele encantava prostitutas e
intelectuais, moribundos e abatidos. Suas palavras incomodavam tanto que geravam ódio por
parte dos fariseus. Depois que o mestre dos mestres apareceu, os intelectuais da época
desapareceram de cena.
Apesar de odiá-lo, os fariseus caminhavam longos dias para beber um pouco da sua intrigante
sabedoria. Eles perguntavam inúmeras vezes: "Quem és tu?", "Até quando deixará
nossa mente em suspense?". Quanto mais perguntavam, mas eram vítimas da dúvida. Eles
queriam sinais, atos miraculosos, como a abertura do Mar Vermelho. Mas o delicado mestre
queria a abertura das janelas da inteligência. Os fariseus chegavam sempre antes ou depois
das cenas sobrenaturais acontecerem. Eles nunca o entenderam, pois não falavam a linguagem
do coração, não sabiam decifrá-lo com uma mente multifocal, aberta, livre. Hoje, Jesus reúne
bilhões de admiradores, mas ainda permanece um grande desconhecido.
Você consegue decifrá-lo? Procurar conhecê-lo é o maior desafio da ciência, é a maior
aventura da inteligência!

O Mestre InesquecívelOnde histórias criam vida. Descubra agora