Capítulo I: da aposta

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(Veja o final do capítulo para notas importantes.)


Cabelos loiros, na cor de ouro, longos e com belas e definidas ondulações. O corpo magro com generosas curvas nos quadris, ombros relativamente largos e os olhos esverdeados completavam o perfil físico da tão adorada cantora revelação.

Contudo, mesmo que tal descrição a encaixasse nos "padrões" hollywoodianos, sua alma estava ali para refutar veementemente cada parte dessa afirmação.

Emma Swan odiava toda falsa perfeição que a fama trazia. Qual era o problema em ser uma pessoa comum? Qual a necessidade de ser extraordinária? E, mais que isso, quem disse que aquelas características – não somente físicas – eram as melhores? Quem as elegeu?

A loira não era a mais famosa, pelo contrário, sua carreira ainda estava em ascensão com as vendas de seu primeiro CD, mas já podia sentir na pele o impacto midiático. A batida do pop rock com pegadas de indie-folk acabaram por conquistar o público e fazer do "The Dead Roses" um dos álbuns mais procurados do país.

Mais que isso, dentre os três singles, "Fallen" era não somente a música mais pedidas das rádios como, por três semanas, ficou entre os videoclipes mais assistidos. E, juntamente com ela, as canções "Mannequin" e "Useless" estavam sempre presentes na setlist de quase todos os programas dos quais era convidada.

O teor intenso e melancólico de suas músicas fazia jus ao recente apelido recebido de "Rainha do Gelo", mas suas letras iam além de meros versos e notas vem encaixadas. Emma, apesar de toda imagem capturada pelas lentes dos paparazzi, estava quebrada. E era disso que seu álbum se tratava.

Sua alma sentia dor pela carga emocional acumulada em seus 28 anos de vida.

Swan não tinha pais biológicos, pois fora abandonada na porta de um orfanato quando bebê e, por isso, passou boa parte de sua vida em casas de apoio à mercê do sistema de adoção. Felizmente, essa espera teve fim quando Ruth Nolan apareceu em seu caminho e, então, a loira viu-se em uma casa com comida na mesa, carinho e amor... E, além disso, um irmão mais velho: David, seu melhor amigo.

E não somente seu início de vida fora turbulento, Emma encarou a realidade de repetidos e consecutivos relacionamentos falhos. Todos infrutíferos, tóxicos e abusivos. Mas sua esperança não havia sido arrancada facilmente... Swan chegou a acreditar ter encontrado sua alma gêmea em seu ex namorado, Neal Cassidy, quatro anos mais velho, jogador amador de tênis e, aparentemente, uma boa pessoa...

E ela nunca esteve tão enganada em toda vida.

A pior lembrança desse último envolvimento, porém, não foram as descobertas das inúmeras traições, das brigas ou imposições desproporcionais, mas um único comentário... Aquele que ainda ecoava em sua mente.

— Você é como uma rosa, Emma. Linda e cheirosa, é verdade, mas inútil e que murcha com o tempo. Perde a graça e morre.

Como uma rosa que morre...

The Dead Roses.

Exceto por Ruth, David e Mary, sua cunhada, nenhuma outra pessoa jamais confiou em seu potencial ou num hipotético futuro bem-sucedido no ramo da música. E, por essa razão, usava seu dom para finalmente mostrar-se.

Swan acreditava que, como figura pública, deveria ter um comprometimento com sua música e não queria resumi-la a batidas e ritmos grudentos. Não que isso fosse errado, ela mesma tinha algumas faixas assim, mas ela queria mais.

Ela queria contar a sua vivência e seus valores para que, de alguma forma, atingisse a história de alguém também.

Ela queria encontrar rosas mortas como ela e regá-las. Resgatá-las.

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