29 de novembro de 2011

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Era a primeira manhã em muito tempo em que não me tinha de preocupar com os estudos. Fui à cozinha para preparar o meu pequeno-almoço e o meu pai já não estava em casa, deixou um bilhete em cima da bancada da cozinha a dizer que saiu para trabalhar mais cedo e para lhe irmos ligando para dizer se estava tudo bem enquanto ele estava fora.

Ouvi uma voz a vir do quarto da Catarina e fui ver se ela estava acordada. Quando abri a porta do quarto vi a Catarina no chão a fazer desenhos enquanto dialogava com algo ou alguém que não existiria, provavelmente um amigo imaginário, normal em miúdas com seis anos. Perguntei-lhe com quem estava a falar e ela disse-me que estava a falar com o "Billy".

A minha irmã disse isto num tom de voz tão suave e tão inocente que uma brisa estridente que arrepiou todos os esporos na minha pele. Perguntei-lhe se sabia que o "Billy" não existia mas ela insistiu, estava convencida que ele realmente existia e que o mesmo estivera ali mesmo antes de eu entrar no quarto. Eu deixei-a estar, não quis arruinar a infância da minha irmã, só gostaria que ela percebesse que tinha ali uma irmã, agora presente, com quem se podia se podia divertir e conviver. Antes de sair do quarto notei nos desenhos da Catarina colados com fita cola na parede, mas não pareciam desenhos que transmitiam felicidade que uma criança de seis anos devia transmitir, todos os desenhos naquele quarto apresentavam uma figura azul, triste e com uma espécie de fio no pescoço. A minha irmã notou o meu foco nos desenhos e perguntou-me se gostava dos retratos do "Billy" que ela fizera. Recusando-me a dizer a verdade disse que estavam muito bonitos. Saí do quarto e desci as escadas para a sala, mas, enquanto descia degrau a degrau dei de caras com um dos desenhos da minha irmã, e eu tinha quase a certeza que aquilo não estava ali quando subi as escadas para o quarto da Catarina...


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