Acordou com o som de uma corrente de água muito próxima dele.
Abriu os olhos.
O dia estava extremamente claro e ele pode ver que, finalmente, a torneira estourara e, agora, jorrava água para todo lado.
Chamou por Casimiro, a mãe, a tia...o síndico do prédio...até por Beth. Ninguém apareceu!
Pessoal inconsequente...como saía todo mundo e deixavam ele sozinho?
O gesso da clavícula circulava todo o peito e praticamente imobilizava o outro braço e a perna tinha o gesso, que estranhamente parecia estar mais pesado do que ele se lembrava, até a coxa.
A água, numa rapidez incrível, encheu a pia, entornou na cozinha e, de repente, começou a subir dentro do apartamento como se não houvesse os ralos da área de serviço ou o ralo do banheiro.
Sentiu a água encharcar o colchão, chegar aos lençóis e, no segundo seguinte, começar a afogá-lo, enquanto ele via as faixas que formavam o gesso da perna irem inchando e boiando como se ele fosse uma múmia.
O corpo começou a boiar por inteiro, até que ele foi arrastado pela água corrente e jogado da altura de seis andares pela janela numa queda livre que o fez gritar apavorado.
Assustou-se com a luz do quarto ferindo os seus olhos e sentiu Casimiro sacudi-lo levemente.
_Pedro...você está tendo outro pesadelo...calma, meu anjo!_disse com a voz compreensiva.
"Droga!"
Seriam os remédios...o ócio...as contas que, com certeza, logo começariam a chegar...a impotência de poder se levantar sozinho e sumir dali...se livrar daquela dependência toda...
_Tome. Tome devagar pra não engasgar._Casimiro lhe estendeu um comprimido e um copo de água.
Ele tomou sem querer saber se era morfina pra dor ou algum sonífero.
Precisava dormir e deixar o coitado dormir.
Ao contrário dele que passaria o dia sem fazer nada, Casimiro precisaria estar em forma para trabalhar no dia seguinte inteirinho.
Olhou para o relógio da parede.
"Merda! Ainda não são nem dez horas da noite?"
_Você fez xixi._anunciou o outro tocando a sua fralda.
Também, depois de sonhar com tanta água, alguma deveria ser real.
_Não vai trocar porra nenhuma! Deixa aí ou minha perna vai começar a doer de novo!_decretou.
_Deu pra ficar porco depois do acidente? Assim você vai longe._declarou o outro já abrindo a gaveta da cômoda e pegando a fralda.
Desistiu de discutir. Casimiro fez tudo em silêncio. Pedro também não queria conversar.
Talvez realmente estivesse caindo em depressão.
O remédio deveria ser um placebo, porque continuou com dor e não dormiu o resto da noite, mas deixou o amigo dormir em paz.
No outro dia, olhou para a enorme cesta de frutas que quase escondia o rosto de Vítor naquela manhã.
Será que a esposa dele não se incomodava de todo aquele zelo?
_Licença que eu vou pegar o Kiwi, a manga e a carambola, porque Pedro não gosta. Deixa que eu guardo o resto, me dê aqui.
Casimiro fez a divisão e deixou o outro levemente sem graça por ver o desfalque em seu presente.
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VOCÊ VEM?-Armando Scoth Lee (Revisado em 2020)
RomancePedro era um cara boa pinta, tinha uma vida tranquila, um namorado jovem e sexy, uma cadela Cocker que ele amava e que se chamava Beth, um apartamento, bons amigos. De repente, de uma hora pra outra, o seu mundo vira de pernas pro ar e tudo desmoron...