CAPÍTULO 9-O PESADELO

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Acordou com o som de uma corrente de água muito próxima dele.

Abriu os olhos.

O dia estava extremamente claro e ele pode ver que, finalmente, a torneira estourara e, agora, jorrava água para todo lado.

Chamou por Casimiro, a mãe, a tia...o síndico do prédio...até por Beth. Ninguém apareceu!

Pessoal inconsequente...como saía todo mundo e deixavam ele sozinho?

O gesso da clavícula circulava todo o peito e praticamente imobilizava o outro braço e a perna tinha o gesso, que estranhamente parecia estar mais pesado do que ele se lembrava, até a coxa.

A água, numa rapidez incrível, encheu a pia, entornou na cozinha e, de repente, começou a subir dentro do apartamento como se não houvesse os ralos da área de serviço ou o ralo do banheiro.

Sentiu a água encharcar o colchão, chegar aos lençóis e, no segundo seguinte, começar a afogá-lo, enquanto ele via as faixas que formavam o gesso da perna irem inchando e boiando como se ele fosse uma múmia.

O corpo começou a boiar por inteiro, até que ele foi arrastado pela água corrente e jogado da altura de seis andares pela janela numa queda livre que o fez gritar apavorado.

Assustou-se com a luz do quarto ferindo os seus olhos e sentiu Casimiro sacudi-lo levemente.

_Pedro...você está tendo outro pesadelo...calma, meu anjo!_disse com a voz compreensiva.

"Droga!"

Seriam os remédios...o ócio...as contas que, com certeza, logo começariam a chegar...a impotência de poder se levantar sozinho e sumir dali...se livrar daquela dependência toda...

_Tome. Tome devagar pra não engasgar._Casimiro lhe estendeu um comprimido e um copo de água.

Ele tomou sem querer saber se era morfina pra dor ou algum sonífero.

Precisava dormir e deixar o coitado dormir.

Ao contrário dele que passaria o dia sem fazer nada, Casimiro precisaria estar em forma para trabalhar no dia seguinte inteirinho.

Olhou para o relógio da parede.

"Merda! Ainda não são nem dez horas da noite?"

_Você fez xixi._anunciou o outro tocando a sua fralda.

Também, depois de sonhar com tanta água, alguma deveria ser real.

_Não vai trocar porra nenhuma! Deixa aí ou minha perna vai começar a doer de novo!_decretou.

_Deu pra ficar porco depois do acidente? Assim você vai longe._declarou o outro já abrindo a gaveta da cômoda e pegando a fralda.

Desistiu de discutir. Casimiro fez tudo em silêncio. Pedro também não queria conversar.

Talvez realmente estivesse caindo em depressão.

O remédio deveria ser um placebo, porque continuou com dor e não dormiu o resto da noite, mas deixou o amigo dormir em paz.

No outro dia, olhou para a enorme cesta de frutas que quase escondia o rosto de Vítor naquela manhã.

Será que a esposa dele não se incomodava de todo aquele zelo?

_Licença que eu vou pegar o Kiwi, a manga e a carambola, porque Pedro não gosta. Deixa que eu guardo o resto, me dê aqui.

Casimiro fez a divisão e deixou o outro levemente sem graça por ver o desfalque em seu presente.

VOCÊ VEM?-Armando Scoth Lee (Revisado em 2020)Onde histórias criam vida. Descubra agora