CAPÍTULO 8-PERDENDO O FOCO

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_Não sei como é que a Regina queria arranjar espaço para tudo isso aqui. Onde ela acha que o Pedro está? Num spa?

A voz da mãe o acordou, mas, tentando evitar a presença dela, fingiu que ainda estava desacordado e não abriu os olhos.

A primeira coisa que fez foi passar a língua discretamente pela boca pra conferir se estava com todos os dentes. Tinham custado uma nota com o clareamento e tal. Não deu falta de nenhum, graças a Deus.

_Eva, não precisa arrumar tudo de novo, vai acordar o Pedro._agora era a voz da tia.

O que era aquilo? Um milagre? As duas estavam no mesmo lugar sem dar início a Terceira Guerra Mundial?

Não sentia nada, esse era o problema. Nada mesmo. Era como se estivesse boiando em águas tranquilas e o seu corpo estivesse muito, mas muito leve...apagou de novo.

_Doutor Avelino, favor comparecer à sala de cirurgia seis...doutor Avelino, favor comparecer à sala de cirurgia seis...

Não deu outra. Agora sim ele não conseguiria manter os olhos fechados nem que quisesse.

Estava num hospital?

_Vítor...Vítor...ele acordou!

Definitivamente, era a voz de Casimiro, mas o primeiro rosto que ele viu foi outro.

_Você se lembra do que aconteceu com você?

Cabelos grisalhos, moreno, uns cinquenta anos, uma boca bem carnuda, camisa polo verde água, sobrancelhas grossas, barba feita, óculos sem armação, olhos definitivamente negros.

_Onde estou? O que aconteceu?_tentou se mexer e soltou um grito desengonçado.

O que era aquilo? Haviam passado ele numa máquina e depois prensado dentro de uma armadura?

_Fique quietinho, lindo. Você sofreu um acidente horroroso, está num hospital e vai ficar bem graças ao Vítor.

_Vítor?_indagou.

Casimiro fez um gesto com a cabeça e ele entendeu que era o outro cara...aquele que parecia seu professor de matemática charmoso do ensino médio.

Será que só agora se dava conta de que estivera apaixonado por todos os professores homens que passaram em sua vida?

_Vimos você distraído falando ao celular quando percebemos que o Rufus estava em rota de colisão com você._a voz parecia insegura, talvez assustado com a aparência dele.

Será que estava com o rosto deformado, o nariz torto, os olhos roxos? Será que havia perdido muito cabelo?

O rosto parecia estar ardendo em chamas e tinha um tubo enfiado no nariz.

_Rufus?_interrompeu.

_Meu cão boxer. Ele se soltou da guia e te lançou bem no meio do asfalto. Se não fosse a esperteza da Marilene de parar o trânsito imediatamente, teria sido pior. _finalizou.

Marilene? Parar o trânsito?

Estava confuso.

_Cadê a Beth?_gemeu.

Precisava saber da sua cachorra.

_Você se esqueceu que havia deixado a Beth lá na clínica pra tomar banho? Deixou todo mundo doido, cara! De repente, todo mundo saiu gritando pelo nome da Beth pela rua. Acharam a guia com o nome dela na sua mão e entenderam que ela tinha se soltado e fugido. Dizem que armaram uma equipe de busca pela sua cachorra e a danadinha tomando banho quentinho lá comigo. _riu.

_E cadê ela agora?

Tinha uma leve lembrança de ter acordado uma hora em que percebera que era de dia...mais umas duas vezes à noite...estava ali há quanto tempo?

Não queria ouvir que a Beth estava na casa da mãe ou de Regina. Especialmente com Regina, sua esposa,  que detestava cachorro.

_Minha esposa achou que seria prudente deixar a sua cachorra na nossa casa. A gente tem duas Golden e elas estão se dando muito bem. Não seria justo deixar a pobrezinha presa em seu apartamento por tantos dias, também._explicou o grisalho charmoso.

Ele dissera "tantos dias"?

Vendo o olhar confuso e interrogativo dele, Casimiro resolveu intervir.

_Você sofreu o acidente no sábado e hoje é quarta-feira. Quebrou a perna direita na queda e trincou o ombro esquerdo que bateu num carro. Se não fosse a esposa do Vítor conseguir parar o trânsito rapidamente, teria sido muito pior. Também teve uma concussão e demorou um pouco a recuperar a consciência. Os médicos acharam que seria prudente te segurar aqui por mais uns dias. Se tudo correr bem...sairá na sexta.

Uma perna...o ombro...

_Não acha melhor a gente chamar o médico?_perguntou o estranho de cabelos grisalhos.

Por quê? Havia algo que eles não tinham tido coragem de lhe contar, pensou Pedro em alerta.

O médico entrou. Velho, careca...fez as perguntas de praxe, pra ver se ele estava normal. Prometeu liberá-lo na sexta, se tudo corresse bem. Saiu do mesmo jeito que entrou. Andando como um robô e falando apenas com o paciente. Que os outros se entendessem com o prontuário, mais tarde. Talvez estivessem dando um boletim para a família todas as noites.

Ele reclamara sentir dor. A enfermeira veio. Removeu alguns aparelhos. O tubo no nariz. Será que tivera uma parada respiratória?

Aplicou uma injeção no cateter do braço e logo ele estava dormindo novamente. Mas não sem antes perceber que não estavam num hospital comum.

Era um hospital dos bons. Não soube dizer se o hospital da previdência, do convênio da mãe, seria tão bom. Mas, se não fosse, quem estava pagando aquilo tudo?

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VOCÊ VEM?-Armando Scoth Lee (Revisado em 2020)Onde histórias criam vida. Descubra agora