Quando ele decidiu que deveria arrumar um cachorro, logo decidiu que não poderia ser um macho.
Queria uma cadela...sempre sonhara em ter uma cadela! Castrada, claro! Mais companheira, mais comportada, sem urinar pelos pés dos móveis ou correr atrás dos carros quando fossem passear.
Pensou naqueles que caberiam perfeitamente no bolso do suéter, ou mesmo um Poodle...mas Poodle é cachorro de veado e ele não queria posar de veado pelas ruas da cidade.
Estava ruim de grana, na época. Acabara de decidir se separar. Precisava mobiliar o apartamento novo onde passaria a morar a partir de então e pensar na pensão do filho.
Entrou na internet procurando uma raça dentro do seu perfil. Saiu de casa pensando em uma Basset caramelo que o lembraria as propagandas dos Amortecedores Cofap.
Foi nos petshops, mas descobriu que deveriam ter colocado uma placa em cada animal da vitrine: "VENDA UM RIM E ME LEVE PRA CASA".
Bicho era caro pra caramba e quanto menor o cachorro, mais caro, ele percebeu.
Optou por seguir os conselhos dos amigos e adotar.
Visitou canis municipais e terminou adotando a Beth.
Na verdade, ele não adotou a Beth. A Beth adotou ele.
Depois de andar durante quase uma hora de um lado a outro das celas atulhadas de cães agrupados por porte e idade, pensou que talvez fosse melhor adotar um peixe ou uma tartaruga mesmo. Aqueles animais faziam barulho demais...os vizinhos iriam acabar com ele, ou, pior, jogariam veneno para a sua cadela quando ele estivesse fora.
Mas ao lado dele havia um veterinário que tomava conta do lugar como voluntário. Passava por lá todos os dias, em intervalos que tinha na clínica onde trabalhava, talvez para aliviar a consciência de permitir que a classe rica torrasse fortunas com seus animaizinhos exóticos com caras de alienígenas, enquanto aqueles rejeitados eram confinados ali gritando por socorro.
Casimiro era atraente, sexy e tinha um sorriso acolhedor, como os cachorros que ele indicava para os visitantes.
Pedro percebeu que ele roçava os braços peludos pelo seu corpo, quando nem tinha tanta necessidade assim de fazê-lo. Creme dental recente, cabelos máquina um ou dois, mãos enormes com unhas cortadinhas, limpas...adorava homens de mãos grandes e unhas limpas.
_Não implicam com essa quantidade de cachorros amontoados todos em uma baia só?_indagou observando os animais se atropelarem para serem vistos pelo visitante.
Era impressão dele ou eles haviam sido treinados para gritarem "me leve...me tire daqui..." com aqueles olhares de pedintes?
_Não assiste a TV? Esses animais têm mais espaço do que os presos numa cadeia pública. Tem neguinho em presídio que não tem espaço nem pra espichar o corpo à noite e dormir, cara.
Sorriu quando viu a minha expressão chocada pensando em alguém amontoado daquele jeito numa cela sem a luz do sol. Minimizou num pedido de desculpas:
_A gente faz o que pode.
Casimiro tocou as costas de Pedro.
Aquilo foi um toque ou ele realmente sentiu um afago maior com um dedo que deslizava até sua nuca arrepiando os seus pelos?
Quando sentiu os músculos se contraindo um pouco abaixo da cintura, pensou que deveria se esforçar mais em encontrar a sua nova melhor amiga justamente naquele canil.
_Poderá levar o animal ao meu consultório, quando precisar. Faço um preço camarada pra você.
Ele estava insinuando que Pedro não tinha dinheiro pra pagar uma consulta ao veterinário, ou aquilo era um convite para se verem novamente?
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VOCÊ VEM?-Armando Scoth Lee (Revisado em 2020)
RomancePedro era um cara boa pinta, tinha uma vida tranquila, um namorado jovem e sexy, uma cadela Cocker que ele amava e que se chamava Beth, um apartamento, bons amigos. De repente, de uma hora pra outra, o seu mundo vira de pernas pro ar e tudo desmoron...