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"Eu me sentia egoísta, pois agora eu seria capaz de tocá-la, mas ela jamais sentiria e eu jamais sentiria sua pele quente novamente"
—AQUELA QUE EU AMO

No domingo Liz e Alice já estavam sentindo falta daquele lugar mesmo antes de irem embora, elas arrumaram as coisas logo cedo para não se atrapalharem no momento de ir. Ambas foram aproveitar o mar mais uma vez, o grupo de homens apenas aproveitavam o mar, Liz tentou não olhar muito para eles e apenas aproveitar seus últimos dias de paz.
Elas apanharam as malas e com um bico choroso deixaram o pequeno chalé a beira da praia mais linda que elas já viram, pegaram seu carro de volta do estacionamento e tomaram a balsa, Alice tentando contar as horas que o carro ficou no estacionamento e pressentindo de alguma maneira que o homem as havia roubado alguns trocados.
―Não importa ― disse Liz um milhão de vezes, antes que Alice pudesse voar no pescoço do rapaz.
Dirigiram até o hotel da pequena vila onde ficava a dona do chalé, mas encontraram uma garota nova e sorridente no lugar, pelas semelhanças com Ângela só poderia ser sua filha, Liz se dirigiu a recepção.
―Olá! ― disse Liz, a menina engasgou antes de responder.
―O...Oi ― os olhos azuis da menina marejaram ― Com... C...
―Eu só vim devolver a chave ― disse Liz depositando a chave com cuidado do balcão ― Você está bem?
―Sim... Sim... S... Ai meu Deus! Você é a Liz a Liz! Minha mãe não estava mentindo pra mim, as vezes ela mente sabe? Acho que é porque ela quer que eu trabalhe aqui para ela, enquanto ela fica cantando o padeiro, o que não é boa ideia, já que ela é alérgica a glúten, mas ela estava falando a verdade ― a garota falou tudo tão rápido que Liz não pode deixar de rir ― Pode assinar meu livro?
―Claro, posso sim ― Liz sussurrou, piscando.
A garota tremia feito um pinscher de tão animada, Liz descobriu o nome da menina com muita dificuldade, pois ela não parara de gaguejar um minuto ― Angélica ― assinou com uma dedicatória amorosa.

“Espero que você possa levar um pouquinho de minha história consigo Angélica, que o amor de Cristopher e Elizabeth seja um exemplo de superação. Muito obrigada por ler.
Com amor A. Liz”

Em seguida Liz voltou para o carro Alice em seu encalço, quieta o bastante para causar estranhamento, quando Liz perguntou se algo a havia deixado assim, Alice apenas respondeu que estava com um mal estar relacionado ao calor. Antes que ela pudesse entrar no carro Liz viu algo que a fez correr para o poço, seu coração pulsando e batendo com tanta força no peito que a fez perder o ar.
―Tinha uma pessoa aqui ― disse Liz aos gritos quando Alice chegou ofegante ― Alguém pulando aqui dentro ― agora Liz tremia feito um pinscher.
―O que?! Tipo a Samara? ― Alice a afrontou fazendo o sinal da cruz, mesmo não sendo religiosa ― Credo Liz, que horror.
―Não... era... diferente.
Liz preferiu não falar mais nada e se aproximou do Poço dos Desejos e um vislumbre de luz avermelhada brilhou no fundo, não havia nada ali para fazer tal reflexo, estava uma noite com muitas estrelas e a lua brilhava imponente no céu, não avermelhada como na noite passada, mas amarelada e gigante. Os braços de Liz doeram como se algo a puxasse para o fundo, uma corrente elétrica atravessou sua espinha.
Alice a olhava com tanta curiosidade que ela percebeu que a amiga também não via a luz avermelhada, indo para o carro Liz repetiu em silêncio para si mesma que havia tomado sol demais e isso a estava fazendo ter alucinações, Alice pediu para voltar dirigindo, já que Liz não estava em sua melhor condição.
A volta foi mais rápida que a ida, como se a cidade as chamasse, passaram na casa de Elena, que estava dormindo, Liz pegou Capitu e Casmurro beijando e apertando cada um dos dois, Capitu gostou do abraço de sua dona, já Casmurro protestou um pouco antes de ir para o suporte.
―Tem certeza que está bem? Posso dormir na sua casa ― disse Alice no batente da porta.
―Tenho sim, te ligo amanhã de manhã.
Liz abraçou forte a amiga e foi para o carro, prendendo os suportes no banco de traz a acenando para Alice antes de dar a partida.
Liz abriu a porta, o cheiro de casa fechada já estava começando a se instalar pelos cômodos. Seu celular ainda estava no chão, ela o pegou antes que Casmurro pudesse engolir alguma peça e colocou em uma caixinha para descartar e comprar outro amanhã. Sua secretária eletrônica piscava feito louca.

“Olá senhorita Anne Liz, aqui quem fala é Paloma, gostaria de convida-la para uma palestra em uma escola pública, entre em contato assim que puder, agradecida”

Liz anotou o número da mulher em um bloco adesivo para cola-lo na geladeira, a escritora jamais negara dar palestras já que ela mesma já havia estudado em escolas públicas de partes periféricas da cidade.

“Oi Liz, eu sei que sou um idiota e acabei com tudo, mas por favor liga pra m...”

Ela excluiu a mensagem antes de poder ouvir as outras que Caleb havia gravado.

“Oi, sou eu de novo, por que desligou o celular? Por favor fala comigo, preciso esclarecer...” mensagem excluída.
“Liz, porra, fala comigo não seja in...” mensagem excluída.

“Eu esqueci que você iria para o chalé, sou um idiota, nossa, olha, quando escutar essas mensagens liga pra mim”

Mas essa ela não excluiu, no fim da mensagem Liz estava chorando, ela subiu para seu quarto fungando feito uma adolescente, deitou-se na cama, junto com seus gatos que já dormiam tranquilamente por ali e chorou até pegar no sono.

Liz acordou sentindo sua cabeça doer por conta do choro da noite passada, ela foi até o banheiro e seus olhos estavam inchados, tateou o criado mudo a procura do celular, até se lembrar que não o tinha mais. Um barulho vindo do andar de baixo a chamou atenção. Em sua cama só dormia Capitu, Casmurro deveria estar tentando derrubar sua televisão novamente.
Ela desceu os degraus um por um, apoiando-se no corrimão, Casmurro dormia tranquilamente encima da pia da cozinha, ela o tirou dali, ouviu outro barulho vindo da sala de jantar, ela ficou paralisada, pegou um jarro e devagar andou até lá, estava escuro, ela acendeu a luz e seu coração quase saltou pela boca, sua respiração tornou-se pesada e ela quis correr.
Deixou o vaso cair no chão, estilhaçado.
Havia um homem.
Não um homem comum.
Ele vestia roupas de época, tinha seu um metro e oitenta, cabelos cor de areia, olhos castanhos, quase verdes, lábios rosados e carnudos e parecia assustado, muito assustado. Ele fitou Anne Liz da cabeça aos pés e corou imediatamente diante da pouca roupa que Liz usava, ele se virou de costas.
―Deveria vestir roupas mais adequadas, senhorita ― ele falou, sua voz suave e grave ao mesmo tempo.
―Quem é você? ― gritou ela, fazendo-o se virar novamente.
―Sou o Príncipe Cristopher Augusto III ― o homem fez uma mesura.
―Você é o que? ― Liz estava histérica e gritava em pleno pulmões.
―Sou o Príncipe Cristopher e a senhorita está quase nua, se me permite ― ele tirou seu casaco, azul com grandes botões talhados com diamantes, Liz conhecia muito bem aquele casaco.
―Foda-se a minha roupa! ― disse ela recusando o casaco ― Não sei se você é um fã maluco ou coisa do tipo, só saia da minha casa ou irei chamar a polícia!
―Perdão, o que seria um fã maluco? ― ela o empurrou para sala e destrancou a porta, o empurrando para fora ― e polícia...
Ela o levou para depois do portão e o colocou na rua, batendo o grande portão de metal, em seguida verificou todas as fechaduras e todas as janelas de sua casa, todas devidamente trancadas, pois ela sabia se houvesse algo aberto Casmurro teria fugido.
Em sua televisão ela colocou a visão das câmeras da frente de sua casa, o homem parecia realmente muito confuso, ele retirou sua coroa e se sentou na calçada passando a mão pelos cabelos, aquele movimento que Liz conhecia muito bem, com aqueles olhos, aquela roupa, ela conhecia tudo muito bem.




PRÍNCIPE DE PAPEL [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora