Mark não suportava a ideia de que aquele sentimento de rancor e medo iriam voltar ara seu peito, arrancando toda a sua frieza sem aviso. Não querendo voltar a chorar ou fazer coisas ruins que estragariam seu corpo, apenas foi até seu guarda-roupa e logo no meio do caminho foi tirando seu pijama. Sem muita cerimônia, logo o jogou na cama e puxou do armário o moletom, uma calça e em seguida, vestiu-os, fazendo seus fios da franja balançarem em perfeita harmonia.
Sem nem se dar conta desse ato maravilhoso, olhou novamente para dentro do armário. Ciente de pelo menos cinquenta por cento dos seus próximos atos, pegou um par de luvas e um boné. Procurando por ser o mais organizado possível, colocou o par de luvas no bolso do moletom e com o dedo indicador, arrumou os óculos no rosto. Estava um dia meio chuvoso lá fora, havia vento frio e Mark apenas sorriu de canto; um sorriso pequeno, sem sarcasmo. Ainda focado, agachou-se e pegou de debaixo da cama sua mochila de estudante: preta, levemente pequena. Como era sustentado pelo seu mais velho, não ia à faculdade.
Mark ajudava em casa. Limpava. Varria. Cozinhava. Porém não movia uma palha para sair dali. Com exceção de sair para fazer compras e quando era o caso, aliviar algo preso no peito que não podia soltar com palavras, pois poderia soar arrogante. Ao pegá-la com as duas mãos, colocou-a em cima da cama e começou a pensar no que mais colocaria ali.
No auge de seus conhecimentos — e desde que se conhecia por gente —, Seungwan temia e ao mesmo tempo detestava o canadense e sabia do que ele era capaz de fazer se pensasse demais. Lee transmitia essa áurea de matador pela casa silenciosa todo dia. Estava completamente ciente de que Mark mataria apenas para aliviar a raiva acumulada que ele possuía. Como um bom assassino e um belo de um cabeça dura, Mark não hesitaria em gastar todas as suas balas e a sua energia com um assassinato em plena manhã de sábado. Ou na bela noite de sábado.
Mark havia colocado tudo necessário na mochila em poucos segundos. Colocou a mochila nas costas e desceu para a cozinha, onde encarou o garoto mais velho sentado à mesa, antes perdido em seus pensamentos. Agora, ambos fitavam-se.
— Para onde você vai? —Perguntou ele. Mark desviou olhar para a parede atrás de Seungwan. Bege ou branca? Qual era sua cor? Ele não sabia ao certo. Sorriu sarcasticamente de lado e respondeu:
— Voltarei tarde, não quero que me espere para o almoço, nem para o jantar. — Disse seco e sem vontade alguma.
— Você não respondeu minha pergunta. — Mark ficou em silêncio e após alguns segundos, virou os calcanhares e saiu da cozinha, saindo de casa, saindo dali.
Logicamente com um plano em mente.
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Mark caminhou pelas ruas de Seol como se não possuísse uma casa. A cada passo que dava, observava tudo ao seu redor. As pessoas que estavam passeando pelos camelôs, as mulheres ruivas, loiras, morenas, as com maquiagem, as de saia, as de calça jeans, as de bermuda, com tênis brancos, pretos, azuis vermelhos, rosas. As mulheres mais velhas, com sacolas e roupas que indicavam que elas haviam trabalhado bastante ou que eram empregadas de alguma casa. Homens de terno e calças justas, sapatos pretos e impecáveis, carros mais caros possíveis, cachorros sem dono ou com dono, pessoas tirando fotos, a praia, os celulares e o som, o cheiro da comida.
O mundo de Mark estava começando a sair do controle. Ele andou até uma loja. Andou bem devagar e, quando chegou lá, pediu um café e um pão de queijo. Sentou-se em uma cadeira, apoiando as mãos na cabeça. Ela estava latejando. Mark puxou seus fios com força, logo soltando-os e respirando fundo com a música calma que rodava o ambiente. Olhou para todos os lados, com seus orbes tremendo e ele respirou bem fundo novamente. Seu pedido chegou, e a moça que havia ido o entregar estava com uma saia preta e uma blusa verde.
Verde. Seungwan.
Encarou a moça desde a sua chegada, sempre focando em sua saia u pernas lisas e macias. Ele queria tocá-las. Balançou a cabeça, respirando fundo de novo e observou seu pedido. Com uma das mãos pegou o pão de queijo e deu uma mordida, sentindo toda aquela agonia e loucura passarem. Quase ouviu Seungwan dizer "Isso que você descreveu mentalmente se chama fome, Mark".
Bebeu um gole do café e então percebeu que a moça havia lhe trazido um cappuchino. Bebeu-o todo e arrumou as pernas debaixo da mesa, comendo seus pães de queijo sem pressa. Observou pessoas indo e vindo o dia todo e quase sempre elas olhavam para o garoto de fios pretos com o moletom e roupas brancas sentado, comendo lentamente, como se apreciasse a comida. Ás quatro da tarde, a mesma moça veio até ele e gentilmente perguntou se podia trazer-lhe a conta. Sem fitá-la, Mark balançou a cabeça e respondeu que sim. Da vez que a moça trouxe a conta, ele pôde observar seu nome em um pequeno papel preso na blusa: Krystal. Ela realmente não tinha cara de coreana.
Com um sorriso gentil, ele pagou e se levantou, saindo dali.
Eram quase cinco da tarde. Mark caminhou por uma rua pouco conhecida e por ali ficou... rondando. Seus passos eram preguiçosos ele andava de cabeça baixa, agora, com seu boné branco na cabeça. Dava passos lentos, quase parado. Cada passo um estalo. Mark estava rodando em círculos e algumas crianças — que ele deduziu terem sete ou cinco anos — olhavam para ele e riam, chamando-o de louco.
Cinco e cinquenta e cinco. Mark parou de andar, fazendo seus tênis encostarem em algumas pedrinhas, as chutando inoercetívelmente. Olhou para o lado e respirou fundo.
— Que bonita casa de dois andares! — Exclamou sozinho, visto que agora, não havia mais ninguém na rua chamando-no de louco. Com as duas mãos nos bolsos do moletom, virou o corpo completamente e tombou a cabeça para o lado, observando a casa de cima a baixo.
Tinha dois andares, era amarela e o telhado era marrom. Haviam dois teixos no quintal da frente e possívelmente algumas flores e uma horta. Na entrada, uma escada que alguma criança certamente já chegara correndo da escola, tropeçou e caiu ali, ralando o joelho e em seguida chorando.
Deduziu ser filho único e garoto. Talvez possuísse a sua idade, ou mais, ou menos.
As janelas tinham cortinas brancas que se movimentavam lentamente. Mark piscou e se aproximou mais da casa, roçando os dedos no portão. A família já morava ali fazia alguns anos. Dois ou três. Mais que isso, negativo. Olhou para a porta aberta, uma luz, a da televisão. Uma novela ou filme, ele podia até ouvir a voz dos atores e atrizes lindos, dos rostos perfeitos.
Um relógio preso na parede indicava as horas.
Seis horas e três minutos.
Mark sorriu e foi em direção a um beco onde ele conhecia ali por perto.
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Snow, Blood and Love? - mark+jisung
Fiksi PenggemarProcurado desde os seus 16, o assassino famoso por matar pessoas sem deixar nenhuma digital, Mark se vê encrencado pela primeira vez na sua vida, ao conhecer um garotinho com rosto rechonchudo, cujo ele mesmo matou os pais, Jisung Park. Quando peque...