Dois

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Fecho a porta da minha sala e desabo na minha cadeira. Puta merda, vai ser azarada assim lá no quinto dos infernos. Claro que não podia ser outra pessoa. Claro que tinha que ser Lucas. Argh. Que ódio. Mas pelo menos agora ele não vai poder fazer nada. Não estou esperando que o tal consultor do Acordo esteja do meu lado, mas pelo menos não vai ser alguém que eu tenho certeza que vai me foder.

Ou, pior: alguém que eu não sei se consegue me controlar ou não.

Abaixo a cabeça na mesa. Não quero ficar vendo a cara de Lucas todo santo dia. Porra. Só porque eu tinha certeza de que estava livre dessa praga na minha vida...

Meu celular apita. É outra mensagem de Gabi.

Gabi: Estou conferindo as informações sobre Lucas. Ele devia ter prestado serviço comunitário por pelo menos oito meses, além de participar de oficinas de reabilitação para drillianos, e então ia ficar em observação por mais um ano. Em menos de seis meses ele estava trabalhando para as divisões diplomáticas.

Carol: E o que isso quer dizer?

Além de que os aliens são incompetentes, se nem para fazer ele cumprir essa pena ridícula.

Gabi: Que ele tem ótimos contatos em algum lugar. Kernos não sabe quem o liberou da pena e o vetou para as divisões diplomáticas. Te aviso quando descobrir.

Merda. É óbvio que ia ter alguma coisa assim. Claro. Só faltava isso.

Bato a cabeça na mesa. Puta que pariu, por que essas coisas só acontecem comigo.

— Carol? Está tudo bem?

Débora. Menos mal.

— Está — resmungo sem me sentar direito.

Escuto a porta se fechando de novo.

— Ótimo. Vai me contar o que foi aquilo?

Levanto a cabeça e suspiro. Devia ter imaginado... Conhecia a curiosidade de Débora.

Ela sorri e se senta na cadeira de frente para minha mesa.

— Então?

— É exatamente o que você ouviu lá. Lucas foi meu namorado. Eu não fazia a menor ideia de que ele era um ET, obviamente. E o filho da puta tentou se alimentar de mim. — Estico o braço e deixo as escamas aparecerem de novo. — Na verdade, conseguiu. Até hoje não tenho certeza do que me fez olhar para trás naquela hora. Sorte.

E eu nunca vou me esquecer da sensação de olhar para trás e ver meu namorado, uma das pessoas em quem eu mais confiava, parecendo uma coisa completamente diferente. As escamas foram um choque, mas os olhos completamente pretos... Puta merda. Eles foram meu pesadelo por um bom tempo. Cheguei a pensar que ia morrer ali, sem conseguir nem voltar para minha casa.

Dou de ombros.

— Peguei ele de surpresa. Não sei o que ele ia ter feito se tivesse tempo para reagir.

— A mesma coisa que eu fiz, é óbvio — ele fala.

Olho para a porta. Ela ainda está fechada, mas consigo ver a silhueta de Lucas do outro lado. Caralho. Tinha me esquecido disso. Essa audição exagerada não foi uma coisa que eu peguei dele, mas Lucas sempre escutava o que não devia. Agora eu entendo como. Alien.

Me levanto e vou até a porta. Ele fica parado no mesmo lugar quando a abro de uma vez.

— Você é um visitante, sem permissão para estar passeando dentro da sede da APLA. É melhor voltar para a sala que designaram para você, ou vou pedir sua remoção — falo.

Vertan (Filhos do Acordo 5) - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora