Quatro

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Se esse lugar não tivesse tanta cara de alta tecnologia, com as paredes metálicas e muito vidro, eu ia falar que o que estou vendo é um castelo enorme. Não. Enorme não. Gigantesco. Gabi olha para a minha cara e ri. Não consigo nem xingar por ela estar se divertindo às minhas custas, porque se ela falou que as árvores são gigantescas, então preciso de outro adjetivo para a coisa que é quase um castelo.

São cinco torres cilíndricas e muito altas, indo até bem acima das árvores, construídas quase na forma de um círculo. Pelas varandas que consigo ver quando nos aproximamos mais, as torres provavelmente têm apartamentos. Hmm. Tenho que admitir que aqui é bonito. E, pelo tamanho do complexo - foi assim que Gabi o chamou - eles devem ser completamente autossuficientes. Faz sentido, levando em conta que na época de chuva o planeta quase todo alaga. É por isso que as árvores não têm galhos baixos e não tem nenhuma porta no nível do chão. Aliás, falando das árvores: as folhas são azuis. Completamente azuis. De vários tons diferentes, mas azuis. E tenho a impressão que os troncos e galhos são vermelhos.

Caralho, eu realmente estou em outro planeta.

Mesmo assim, não ia querer estar aqui na época de chuvas. Meses de chuva, sem parar, com trovoadas e tudo mais? Não é para mim.

Estamos em uma nave pequena, pouco maior que um carro comum. Gabi queria pilotar, mas Kernos não deixou, falando que alguém precisava ficar por conta de responder todas as minhas perguntas. Não posso nem dizer que ele estava errado. Até o castelo gigante aparecer, eu estava que nem uma criança perguntando como tudo funcionava. A nave não parece ser tão difícil de pilotar, então nada melhor que já ir entendendo tudo, não é? O drilliano parece ter achado tudo muito divertido, mas não quero saber dele. Não sei nem por que ele está vindo com a gente. Pensei que ia ser quase uma reunião de família, até porque Gabi não teve a decência de levar o filho na Terra ainda.

A nave passa ao lado de uma das torres. Pensei que fossem paredes ligando as torres, mas não. São prédios. Quer dizer, um prédio gigante entre cada par de torres, formando um pentágono. O centro disso tudo é aberto e dá para ver outras naves pequenas pousadas por ali ao lado de uma árvore gigante com folhas azuis. E as folhas estão brilhando. Me inclino para a frente, me debruçando sobre Gabi para ver o monitor na frente dela. Ele está melhor que as janelas.

— Tem pisca-pisca naquela árvore? É sério?

Gabi dá de ombros e me empurra para trás.

É sério. São luzes pisca-pisca. Tenho uma vaga lembrança de Gabi dizendo que tinha convencido Kernos a arrumar uma árvore de natal para ela, mas isso aqui é exagero.

— Porra, pra que colocar uma árvore de natal dentro de casa, né?

— Tem uma em casa também — Kernos responde. — Um galho dessa árvore aí. Foi a única coisa que coube. Ela não deixou jogarmos nenhum dos dois fora.

Gabi cruza os braços.

— Eu gosto das luzinhas.

Reviro os olhos. É, ela gosta das luzinhas. Nenhuma novidade nisso. Agora, duas árvores de natal permanentes? Uma dela mais alta que um prédio de... Confiro as paredes do complexo de novo. Mais alta que um prédio de dez andares? Algo assim. Louca!

Gabi mexe em alguma coisa nos controles na frente dela. Abro a boca para perguntar.

— Comunicador — ela fala e aperta outro botão.

Certo. Acho que já fiz perguntas demais mesmo. Fodas.

— Na escuta — uma mulher fala.

— Estamos pousando — Gabi avisa.

Vertan (Filhos do Acordo 5) - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora