Oito

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Gabi

Eu não vou matar ninguém, eu não vou matar ninguém, eu não vou matar ninguém... Mas vontade não falta. Não falta mesmo. Primeiro aquele filho da puta do Lucas, e agora mais essa. O que o Conselho está pensando? É uma coisa colocar Carol para trabalhar com Ei'ri para implantar as alterações. É outra coisa bem diferente foder com ela desse jeito e a mandar em uma missão impossível. Eu quero matar um.

Kernos começa a massagear minhas costas.

— Você devia ter me deixado falar, porra — resmungo.

Ele aperta um ponto perto do meu pescoço com força. Ouch.

— Não reclame. Você está tensa demais.

Só não me viro de uma vez porque não tem como fazer isso com Kernos me segurando no lugar.

— E o que você queria, hein? Estão tentando ferrar com a Carol!

Ele continua fazendo a massagem, mas não tenho a menor ilusão de que vou conseguir sair do lugar se tentar me mexer. Argh.

— Não. Eles estão tentando bloquear as alterações. Sua prima é só alguém que está no caminho.

Respiro fundo e solto o ar com força. Foi exatamente isso que eu quis dizer.

Kernos aperta meu ombro e me puxa para mais perto.

— Sua prima é uma agente da APLA há mais de quatro anos. Mesmo sem o seu aviso, daquela vez que fomos na Terra, ela provavelmente seria a indicada para vir, porque tem o melhor histórico entre eles. Você também leu o histórico, Gabi. Ela teve mais encontros hostis com espécies do Acordo nos últimos dois anos que qualquer outra terráquea, com exceção de Suelen. E se saiu bem em todas as vezes.

Continuo sentada com as costas retas. Sei muito bem o que Kernos está tentando fazer ao me puxar para perto, mas não vou deixar ele me distrair.

— Ela tomou um tiro — lembro.

— Que não passou pelas escamas, que ela aprendeu a controlar em tempo recorde.

— Mesmo assim, ela...

Kernos dá a volta na cadeira e segura meu rosto.

— Você não pode controlar tudo, Gabriela. Carol já provou que consegue se virar sozinha. Deixe ela fazer seu trabalho.

Abro a boca para responder e Kernos levanta as sobrancelhas. Suspiro.

— Isso é meu trabalho. Não o dela.

Kernos sorri e se levanta. Queria saber o que ele está achando engraçado. Cruzo os braços enquanto ele vai até a geladeira e pega uma garrafa de Coca-Cola.

— Sabe, isso me lembra uma coisa que aconteceu quatro anos atrás — ele fala e me entrega a garrafa. Não vou abrir. Se ele acha que vai me comprar com Coca... — Que apareceu uma terráquea que não sabia absolutamente nada sobre o Acordo querendo se meter no meio do meu trabalho. Pior, se meter no meio de algo que eu estava trabalhando há anos para conseguir, sabe.

Merda.

— Isso é golpe baixo.

Ele dá de ombros e se senta na minha frente.

— No fim das contas, como você diz, a terráquea sabia coisas que eu não sabia. E se não fosse por ela se enfiando no que deveria ser o meu trabalho, dificilmente teria conseguido ir até o fim.

Cruzo os braços, sem soltar a garrafa de Coca.

— Não é a mesma coisa.

Kernos sorri.

Vertan (Filhos do Acordo 5) - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora