Os gritos de desespero dos homens no campo de batalha ainda ecoavam profundamente em sua alma. A horrenda visão de inúmeras poças de sangue e corpos despedaçados na grama alta paralisava o valente cavaleiro, enquanto o vento gelado fazia dançar pequenos flocos de neve no ar. Sir. Alexander Fabricius, ofegante após mais um dia de combates, se perguntava se não eram as almas dos mortos em forma de cristal de gelo. Os soldados da Franconia eram inimigos formidáveis, mas Sir. Alexander vinha lhes infringindo uma série de derrotas constrangedoras. No entanto, naquelas paragens gélidas da Germânia, seus homens já demonstravam sinas de cansaço. Tomou um gole de hidromel para se aquecer - sua bebida fermentada favorita – que sempre levava em um pequeno cantil de couro à cintura, e fitou o campo de batalha uma última vez antes de voltar para o acampamento da tropa.
Naquele momento de sua vida, Sir. Alexander já era um guerreiro experiente. Com 21 anos de idade ele já lutara em vários locais da Europa. De nobre família, era o segundo filho homem do barão de Buganvília. Seu pai ganhou a propriedade de Buganvília do próprio Duque da Normandia, Guilherme, o Bastardo - como era conhecido, após a defesa heróica de suas praias, há dez Natais passados, protegendo a costa da invasão de piratas do Reino de Wessex. Seu irmão mais velho, Abelardo Fabricius, estava bem confortável com a administração das novas terras do pai, admirado com seus rebanhos de ovelhas e moinhos. Mas Sir Alexander não havia nascido para isso. Desde criança, já sabia que queria ser um cavaleiro. Tinha uma inquietação no espírito que lhe chamava para conhecer outros horizontes, como um fogo interno a lhe iluminar os pensamentos. Queria lutar em batalhas, mas seu pai, o Barão, não tinha o dinheiro necessário para arcar com os custos de uma armadura e um cavalo de guerra, muito menos para adquirir o título de cavaleiro. Então, em uma noite de lua nova, no seu aniversário de 16 anos, pegou uma velha espada do pai e partiu para o sul, em segredo, deixando avisado com os empregados da casa que talvez nunca retornasse. Ele pretendia se oferecer como mercenário ao conde de Anjou, que na época organizava um exército para se defender dos constantes ataques ingleses, mas o destino quis que Sir Alexander trilhasse outro rumo. Não era um cavaleiro na época, não detinha a honra de pronunciar o Sir antes de seu nome, mas ao salvar uma comitiva do Papa na estrada de Paris, sua vida mudou completamente. No meio do caminho para Anjou, um grupo de salteadores atacou emissários de Sua Santidade que transportavam um pequeno tesouro em moedas de florins, peças de prataria e uma relíquia religiosa, que serviriam para embelezar a Igreja de Saint-Germain-des-Prés. Ao ver o covarde ataque dos bandidos contra os indefesos padres, Alexander pegou em armas e, sozinho, lutou contra dozes salteadores da floresta. A surpresa da ofensiva e a habilidade de Alexander com a espada afugentou os esquálidos ladrões, que escaparam para a escuridão do bosque de Loren. Comovidos, os emissários papais o tomaram como seu protetor. Ao chegar a Paris, o próprio Bispo da cidade queria conhecer quem era o valente guerreiro da Normandia, e encantado com Alexander, e sabedor de sua origem nobre, o nomeou como capitão de guarda da Igreja. Alexander foi então rapidamente enviado para Roma, onde o Papa o tomou para seus serviços militares. A Itália convulsionava em combates contra os piratas mouros que ameaçavam o sul do território, e todos os soldados eram necessários. Assim, Alexander Fabricius serviu o Papa Leão IX por quatro sangrentos anos. E sua bravura em combate havia lhe alçado o título de cavaleiro, concedido pelo próprio Rei de Roma. Mas nada o havia preparado para a ferocidade dos soldados da Germânia. Altos como pilares de mármore, e com suas espadas longas e afiadas, os homens do norte não eram nem de longe os bárbaros indisciplinados que Leão IX mencionou. – Não haverá problemas em Franconia – havia dito o Papa para Alexander. Mas problemas foram exatamente o que Sir. Alexander encontrou naquelas terras baixas e arborizadas banhadas pelo rio Meno. O Conde de Franconia decidiu que não pagaria mais impostos a Roma e que seu reino se integraria novamente ao Sacro Império Germânico. Alexander comandava um batalhão com pouco mais de duzentos homens, enquanto o Conde de Franconia tinha um exército de dois mil soldados bem postados em defesas sólidas. E um reforço de outros quinhentos guerreiros vinha direto do Reino da Bohemia para reforçar as fileiras inimigas.
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Alexander Fabricius - Cavaleiro Normando
Historical FictionA saga de um cavaleiro normando que retorna para casa depois de anos lutando pelo exército do Papa. Desacostumado com as rotinas do feudo, Alexander Fabricius logo se defronta com uma nova ameaça ao condado da Normandia, e uma guerra iminente que mu...