- E é claro, você deve matá-lo – disse Haroldo Godwinson para o seu convidado soturno.
- Isso não será um problema, meu Senhor – respondeu Kendall enquanto mordia mais um pedaço da carne de pato servida no jantar. O enorme saxão não apreciava muito as aves, preferindo um bom cordeiro assado, mas estava lá a chamado do Conde de Wessex, Haroldo Godwinson, e não poderia contrariá-lo.
- O Rei vê com simpatia esses normandos imundos – continuou o Conde em tom irritado. – Ele não percebe que está prestes a colocar a Inglaterra em um conflito terrível. Nós, os saxões, salvamos essa terra dos Pictos do norte, das Tribos Celtas e dos malditos Vikings. Não posso deixar que ele entregue a coroa para esse Guilherme da Normandia!
- E quem é esse Guilherme afinal, meu Senhor? – Questionou Kendall, sua barba ensopada de molho e pedaços de carne de pato. Kendall era um guerreiro antigo de Haroldo. Havia lutado bravamente na revolta da Nortúmbria e conquistado a confiança do Conde. Era alto e louro, de aspecto rude e forte. Sua barba escondia uma cicatriz no rosto e seus olhos tinham uma frieza que assustava o próprio Haroldo.
- Eles são primos, meu bom Kendall. – respondeu Haroldo Godwinson com um suspiro, enquanto revirava os troncos em brasa na lareira para aumentar o fogo. – O Rei Eduardo residiu com ele na Normandia antes de ser coroado.
- Eu não confio nesses normandos, não passam de uma raça Viking – disse Kendall orgulhoso de seus ancestrais saxões.
- Eu também não. E é por isso que o chamei aqui, meu amigo. Você deve atravessar o canal junto de minha comitiva de emissários e entrar em contato com o Rei de França. Ele é nossa esperança de acabar com os normandos. Mas depois que entregar minha carta para o Rei, é que sua missão realmente começa – explicou Haroldo. Ele usava um manto de pele de carneiro contra o frio, por cima da túnica vermelha. Tinha o cabelo curto como os antigos soldados romanos, e cultivava um bigode largo e refinado. Haroldo se esforçava para parecer o mais nobre possível, embora fosse como Kendall, um saxão sem modos. Era o homem mais influente da Inglaterra, e estava diretamente na linha de sucessão do Rei Eduardo, o Confessor. Em sua ambição por poder, Haroldo tinha conseguido casar sua irmã com o Rei, mas o casamento não ia bem e Eduardo e Edit não geraram filhos.
- Sim, você já me disse Senhor Conde. Devo procurar o cavaleiro Alexander Fabricius e matá-lo. Só não entendi a razão de esse homem ser tão importante para o Senhor – falou Kendall antes de tomar um longo gole de cerveja. Sabia que sua pergunta era um tanto impertinente, mas ele e o Conde tinham intimidade suficiente para isso.
- Sir. Alexander é um mercenário do Papa – disse o Conde de Wessex com desprezo. – Um maldito Cristão, exatamente como Guilherme e seu séquito de piratas. Mas é um guerreiro de alto nível. Meus espiões em Roma trouxeram a notícia de que Alexander é o cavaleiro mais terrível a serviço do Papa. E que está regressando para a Normandia. Seu pai é o Barão das terras de Buganvília.
- Compreendo meu Senhor – falou Kendall pensativo.
- Guilherme, o Bastardo está criando um exército. Ninguém sabe ainda exatamente o seu objetivo. Mas Guilherme não possui soldados muito bons, como você deve saber Kendall.
- Sim meu Senhor Conde, a Normandia se transformou em uma terra de fazendeiros – falou o saxão sorrindo.
- Se esse Sir. Alexander se incorporar aos homens de Guilherme – continuou Haroldo - sua destreza e influencia podem aumentar a moral das tropas. Talvez até seja nomeado General, pois Guilherme não tem nenhum homem com tamanha experiência em combate como esse cavaleiro do Papa. – Haroldo pegou sua taça de prata e tomou um gole de cerveja enquanto um criado ingressou no salão com mais lenha para a lareira. – Alexander Fabricius deve morrer, Kendall. E você é o único que pode vencê-lo.
O soldado saxão soltou uma gargalhada e bateu forte com o punho na mesa, fazendo os talheres tremerem. Tirou sua espada da bainha e colocou pesadamente sobre a mesa. – Está vendo essa lâmina, meu bom Conde? Já ceifou a vida de mais de trezentos homens! Vou enfiá-la no estômago de Alexander e depois usar para cortar sua cabeça.
- Muito bem Kendall – disse Haroldo confiante no seu guerreiro. – Faça isso, e você será o meu General do exército quando eu me tornar Rei. Mate Alexander, e lhe nomeio como o próximo Conde de Wessex.
- Mas e o Rei Eduardo, Senhor?
- Ele não serve a nossos interesses mais – respondeu Haroldo. –Ninguém se importará se ele cair da escada ou beber vinho envenenado. Os nobres me apóiam. Principalmente aqueles que não comungam da religião cristã do Rei. Faça isso Kendall, cuide de Alexander que eu cuido de Eduardo
- Com a força de Odin! – Bradou Kendall invocando seu Deus supremo enquanto levantava a taça de cerveja.
- Com a força de Odin – disse Haroldo com ódio.
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Alexander Fabricius - Cavaleiro Normando
Historical FictionA saga de um cavaleiro normando que retorna para casa depois de anos lutando pelo exército do Papa. Desacostumado com as rotinas do feudo, Alexander Fabricius logo se defronta com uma nova ameaça ao condado da Normandia, e uma guerra iminente que mu...