—T
em certeza que era ele? — questionou Kendall ao espião inglês de Haroldo. O aroma de faisão ao molho de hortelã inundando os pulmões de todos que estavam na pequena estalagem de madame Briand, na cidade de Amiens.
— Sim meu Senhor — respondeu um franzino homem de vestes escuras e malcheiroso. O suor escorrendo por sua cabeça calva em razão de estar à presença do temível guerreiro Kendall, com seu brasão estampado à frente da armadura, e a imagem de um corvo pousado acima dos ossos de um crânio humano.
— É o cavaleiro normando que estava na Francônia — continuou Kendall. — Você confirma isso?
— Ele mesmo. Vi com meus próprios olhos enquanto cavalgava na lua cheia. Rastreamo-lo desde Roma, meu Senhor. Alexander está na antiga estrada que leva à Paris a partir do convento de Santa Ana. Ele viaja com uma mulher, e por isso vem lentamente. Seu cavalo de guerra não é bom para jornadas longas, sabe. Nem se compara com os nossos rápidos cavalos de viajem.
— Você provou seu valor, Marcius. — disse Kendall satisfeito. Recostou-se em sua cadeira forrada com pele de ovelha e passou a palitar os dentes com um pedaço de osso de galinha que sempre carregava consigo. Seu olhar gélido para o espião de Haroldo assustava até mesmo a dona da estalagem, uma senhora gorda em vestido longo amarelo que servia pessoalmente a comida da sua clientela, a maioria composta de noviços e padres. A estalagem ficava perto da Igreja de Amiens, e alguns peregrinos almoçavam no local, que era nada mais do que uma casa de madeira simples.
— É por isso que nossos serviços são tão caros, meu senhor. Nós somos realmente bons. — falou o esguio homem com um sorriso no canto da boca. A Ordem dos Espiões era famosa em toda a Europa, e serviam àqueles que pagavam mais.
— O Conde de Wessex ficará muito satisfeito — disse Kendall enquanto largava um saco de moedas de ouro sobre a mesa. Marcius olhou fascinado os seus novos florins e tomou um grande gole de sua taça de vinho.
— Se não se importa, vou conferir o pagamento — argumentou o espião com seus dedos finos contando as moedas.
— Isso mesmo, conte seu dinheiro — prosseguiu Kendall. E o enorme saxão levantou-se rapidamente sacando sua espada. Com um golpe certeiro decepou a mão de Marcius que segurava as moedas até então com alegria. Com um gemido de dor, o espião caiu para trás do banco onde estava sentado, e um novo golpe ágil de Kendall cravou a lâmina no peito do agonizante Marcius. Os outros clientes da estalagem saíram correndo em direção à porta em desespero. Sendo simples peregrinos, nada podiam fazer contra um cavaleiro. A dona da estalagem jogou-se ao chão para esconder-se abaixo de uma mesa. Kendall soltou uma gargalhada de prazer e retirou a espada do corpo morto do espião. Com a outra mão pegou um punhado de moedas que estavam na mesa, e as jogou sobre o cadáver.
— Conte o seu dinheiro — disse ele em voz baixa. E pegando o restante dos florins deixou o local caminhando calmamente na direção de seu cavalo, um corcel de guerra de pelagem escura como a noite. Com um pulo o saxão montou rapidamente e sumiu da vista dos assustados peregrinos que se aglomeravam na praça em frente à estalagem.
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Alexander Fabricius - Cavaleiro Normando
Narrativa StoricaA saga de um cavaleiro normando que retorna para casa depois de anos lutando pelo exército do Papa. Desacostumado com as rotinas do feudo, Alexander Fabricius logo se defronta com uma nova ameaça ao condado da Normandia, e uma guerra iminente que mu...