4 - O voo do corvo

1 0 0
                                    



—T

em certeza que era ele? — questionou Kendall ao espião inglês de Haroldo. O aroma de faisão ao molho de hortelã inundando os pulmões de todos que estavam na pequena estalagem de madame Briand, na cidade de Amiens.

— Sim meu Senhor — respondeu um franzino homem de vestes escuras e malcheiroso. O suor escorrendo por sua cabeça calva em razão de estar à presença do temível guerreiro Kendall, com seu brasão estampado à frente da armadura, e a imagem de um corvo pousado acima dos ossos de um crânio humano.

— É o cavaleiro normando que estava na Francônia — continuou Kendall. — Você confirma isso?

— Ele mesmo. Vi com meus próprios olhos enquanto cavalgava na lua cheia. Rastreamo-lo desde Roma, meu Senhor. Alexander está na antiga estrada que leva à Paris a partir do convento de Santa Ana. Ele viaja com uma mulher, e por isso vem lentamente. Seu cavalo de guerra não é bom para jornadas longas, sabe. Nem se compara com os nossos rápidos cavalos de viajem.

— Você provou seu valor, Marcius. — disse Kendall satisfeito. Recostou-se em sua cadeira forrada com pele de ovelha e passou a palitar os dentes com um pedaço de osso de galinha que sempre carregava consigo. Seu olhar gélido para o espião de Haroldo assustava até mesmo a dona da estalagem, uma senhora gorda em vestido longo amarelo que servia pessoalmente a comida da sua clientela, a maioria composta de noviços e padres. A estalagem ficava perto da Igreja de Amiens, e alguns peregrinos almoçavam no local, que era nada mais do que uma casa de madeira simples.

— É por isso que nossos serviços são tão caros, meu senhor. Nós somos realmente bons. — falou o esguio homem com um sorriso no canto da boca. A Ordem dos Espiões era famosa em toda a Europa, e serviam àqueles que pagavam mais.

— O Conde de Wessex ficará muito satisfeito — disse Kendall enquanto largava um saco de moedas de ouro sobre a mesa. Marcius olhou fascinado os seus novos florins e tomou um grande gole de sua taça de vinho.

— Se não se importa, vou conferir o pagamento — argumentou o espião com seus dedos finos contando as moedas.

— Isso mesmo, conte seu dinheiro — prosseguiu Kendall. E o enorme saxão levantou-se rapidamente sacando sua espada. Com um golpe certeiro decepou a mão de Marcius que segurava as moedas até então com alegria. Com um gemido de dor, o espião caiu para trás do banco onde estava sentado, e um novo golpe ágil de Kendall cravou a lâmina no peito do agonizante Marcius. Os outros clientes da estalagem saíram correndo em direção à porta em desespero. Sendo simples peregrinos, nada podiam fazer contra um cavaleiro. A dona da estalagem jogou-se ao chão para esconder-se abaixo de uma mesa. Kendall soltou uma gargalhada de prazer e retirou a espada do corpo morto do espião. Com a outra mão pegou um punhado de moedas que estavam na mesa, e as jogou sobre o cadáver.

— Conte o seu dinheiro — disse ele em voz baixa. E pegando o restante dos florins deixou o local caminhando calmamente na direção de seu cavalo, um corcel de guerra de pelagem escura como a noite. Com um pulo o saxão montou rapidamente e sumiu da vista dos assustados peregrinos que se aglomeravam na praça em frente à estalagem.


Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Oct 08, 2019 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Alexander Fabricius - Cavaleiro NormandoOnde histórias criam vida. Descubra agora