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A conversa mais estranha que eu já tive com um desconhecido bonitinho no meio de uma festa muito errada

Tem gente que é atraído por um determinado
tipo de cabelo ou por uma determinada altura
ou por uma determinada personalidade ou por
um determinado jeito de se vestir quando vai
escolher as pessoas por quem se
apaixonam.

Eu não sou atraída por um tipo de cabelo ou altura ou personalidade ou roupas, e sim por
um tipo de olhar:
me apaixono por aqueles que têm
o olhar
perdido.
Um pouco mais perdido que o meu,
mas só um
pouquinho.

Aquele garoto tinha o cabelo escuro
e era alto e era divertido e se vestia
como alguém saído diretamente de uma
banda de rock dos anos 90 mas o que
de fato chamou minha atenção foram
aqueles
olhos.

Eles não estavam só perdidos eles não
faziam a mínima ideia da onde
estavam e o mais incrível era
que pareciam não se
importar.

Ignorei todos os conselhos sobre não
falar com estranhos
(tenho o costume de fazer
isso) e me aproximei oferecendo
um gole do que chamei a melhor
coisa que você vai tomar hoje
(era corote limão e refrigerante de laranja).

Ele fez que não com a cabeça e eu ignorei
todas as regras da etiqueta pra chamá-lo
de certinho e de covarde e de chato e ele
deveria agora que eu paro pra pensar ter
me xingando e mandado aquela bêbada
arrogante pra longe dali mas ao invés disso
ele sorriu pra mim e disse,

ô espertinha, não sei o que você andou
fazendo por aí mas sabia que toda vez
que bebe a sua guarda baixa e seus sentidos
ficam menos aguçados e você fica propensa
a espalhar seus segredos por aí e a oferecer
essa bebida que pelo cheiro de boa só a
garota que preparou pra estranhos
no meio dessas festas sem noção?

ô espertinha, já parou pra pensar que
por mais que você se ache meio esquisita
e talvez meio ruim e tenha cometido uns erros
no passado você não tem o menor medo de perder
o controle e se abrir com quem nem conhece
e desabafar sobre tais erros e cometer ainda
mais erros?

ô espertinha, você que nem me conhece
já parou pra pensar que talvez tenha certas
histórias que eu tenha medo de contar e certos
erros que por mais que eu queira esquecer com
esse copo aí eu sei que não posso deixar pra
trás?

O que você fez?, não pude deixar de perguntar,
e ele apenas abriu um sorriso.

Tá vendo? Se eu tivesse bebido e uma
garota como você tivesse perguntado,
acha mesmo que eu não iria
contar?

Acho que ele esperava uma resposta porque
passou um bom tempo me olhando mas
eu não conseguia falar.

Vem, eu te levo pra casa.

Continuei sem conseguir falar e demorou
mais meio segundo pra entender o porquê:

os olhos dele não estavam mais perdidos
pareciam ter acabado de encontrar o que
quer que fosse que estivessem
procurando e por algum
motivo isso fez com
que eu gostasse dele
ainda
mais.

Vamos,
concordei.

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