Um Avivamento Em Um Monte De Ossos

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"Veio sobre mim a mão do Senhor; ele me levou pelo Espírito e
me deixou no meio de um vale que estava cheio de ossos... eram
mui numerosos... e estavam sequíssimos... Disse-me ele: Profetiza a
estes ossos, e dize-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do Senhor...
Então profetizei segundo me fora ordenado... e o espírito entrou
neles e viveram e se puseram de pé, um exército sobremodo
numeroso" (Ez 37).
Haveria na história humana, fosse na sagrada ou na secular, um
quadro mais ridículo que esse? É a encarnação da desesperança.
Quem pode dizer que já pregou para uma platéia de surdos-mudos?
Um pregador lida com possibilidades, mas o profeta com o
impossível. Isaías tivera uma visão de sua nação, em que ela estava
coberta de feridas purulentas. Mas aqui, a enfermidade avançara e
dera lugar à morte, e à morte, à desintegração orgânica. Agora ali
estava um monte de ossos desarticulados, a própria imagem do
desespero. Era uma situação que poderia ter uma legenda em letras
garrafais: SEM SOLUÇÃO. Para se realizar o que é possível, não é
necessário ter fé. No entanto, basta uma quantidade insignificante
dessa "substância" que possui a força do átomo para se realizar o
impossível, já que um fragmento do tamanho de um grão de mostarda
será suficiente para realizar muito mais do que imaginamos. O que
Deus pede dos homens é que façam, não o que são capazes, mas,
sim, o que não são capazes. Pede que unam sua incapacidade à
onipotência dele, para que a palavra impossível seja riscada de seu
dicionário.
Os profetas são homens solitários. Andam sozinhos; oram
sozinhos. O próprio Deus, ao criá-los, os faz diferentes do homem
comum; não são "fabricados em série". O divino princípio de seleção
é inescrutável. Mas que ninguém se desespere; ou se julgue inútil por achar-se velho demais. Moisés estava com oitenta anos quando
assumiu a liderança de um povo escravizado e abatido, os filhos de
Israel. Jorge Müller viajou a vários países do mundo, mais de uma
vez, e pregou a milhões e milhões de pessoas, a viva voz, com
setenta anos.
Quanto a Ezequiel, ele não convocou reuniões de comissões, nem
enviou cartas missionárias solicitando ofertas e orações. Não
levantou fundos para seu ministério, e detestava publicidade. Mas a
situação com que se defrontava era questão de vida ou morte. (E a
obra de evangelização também o é. Portanto, será bom que nossos
evangelistas abram os olhos para que a satisfação teológica que
proporcionam a seus ouvintes não arranque deles apenas uma
simples exclamação: "Que homem inteligente!", deixando-os a
perecer em trevas). Então Deus ordenou a Ezequiel que dissesse ao
seu "monte" de ossos secos: "Ergue-te e lança-te no mar". Ele o
disse, e foi o que sucedeu.
Ali estava uma maldição. Saberia ele revogá-la? Ali havia morte.
Seria ele capaz de transmitir vida? Ele não fez nenhuma exposição
doutrinária. Caros irmãos, ouçam. O mundo não está querendo mais
definições do evangelho, e, sim, novas demonstrações do poder dele.
Onde estão os homens de fé - não os doutrinadores - para operar
nestes dias de tanta desesperança política e espiritual, e de tanto
desregramento moral? Não é preciso ter fé para amaldiçoar as trevas,
nem citar estatísticas sinistras, evidências de que as barreiras se
desmoronaram e que a avalanche de impureza infernal encobriu esta
geração. Doutrina? Já a temos de sobra, enquanto o mundo enfermo,
triste, saturado de sexo, sobrecarregado ao peso do pecado, perece
de fome espiritual.
É nesta hora sombria, quando o mundo está adormecido em
trevas, a igreja dorme em luz. E é assim que Cristo é "ferido na casa
dos seus amigos". E uma igreja trôpega é chamada zombeteiramente
de impotente. Enquanto anualmente gastamos montanhas de papel e
rios de tinta para reimprimir os escritos de mortos, o Espírito Santo
está aí, vivo, procurando aqueles que queiram humilhar-se e
confessar que, apesar de verem, estão cegos; aqueles que estejam
dispostos a pagar o preço do quebrantamento e lágrimas, para então
buscarem a unção do poder divino, num reconhecimento sincero de
sua pobreza de alma. Faz alguns anos um pastor pregou à porta de sua uma tabuleta
com os seguintes dizeres: "Esta igreja experimentará um
avivamento ou um funeral".
É esse tipo de desespero que agrada a Deus e deixa o inferno
desalentado. Loucura, diz você. É verdade. Uma igreja sóbria demais
não tem valor algum. Nesses dias estamos precisando é de homens
bêbedos com o poder do Espírito Santo. Será que Wesley, Whitefield,
Finney, Hudson Taylor foram pessoas excepcionais? De modo algum.
Se entendo corretamente o livro de Atos, eles eram homens muito
normais.
Parece que a bomba atômica perturbou todo mundo - menos a
igreja. Nós nos entregamos a intermináveis discussões sobre a
soberania de Deus, e as dispensações, e ignoramos nossa pobreza
espiritual. Enquanto isso, o inferno vai só se enchendo. Com o
comunismo dominando o mundo, o modernismo na igreja e a
moderação dos grupos fundamentalistas, será que Deus vai encontrar
um homem para se colocar na brecha, como Ezequiel se colocou?
Meus irmãos pregadores, hoje em dia nós gostamos mais de estar
acomodados do que sentir as dores de parto. É por isso que ocorrem
tão poucos nascimentos. Que Deus nos mande, e rápido, um profeta
que se encontre em descompasso com essa igreja que se acha
desarticulada.
Já vai muito adiantada a hora para que surjam novas
denominações. Neste momento, Deus está preparando seus Elias
para a última e grande ofensiva mundial contra a impiedade (seja ela
política ou de outro tipo, mesmo com máscara de religiosa). O último
e grande avivamento, gerado e operado pelo Espírito Santo, será o
rompimento dos velhos odres do sectarismo pelo vinho novo do
Senhor. Aleluia!
Observemos que Ezequiel foi levado pelo Espírito. E, como
qualquer ser humano, ele deve ter estremecido com o apavorante
quadro daquele monte de ossos secos. Mas da fé do profeta
dependia o destino de milhares, talvez milhões de pessoas - da fé
dele, não de suas orações. Muitos oram, mas poucos têm fé. Que
tremor santo deve ter perpassado sua alma ao ver aquilo! De
espectadores, apenas o céu e o inferno. Se Ezequiel vivesse em
nossos dias, certamente iria tirar uma fotografia deles para a
imprensa. Depois, preocupado com estatísticas, iria contar os ossos.
E quando as coisas começassem a se agitar, iria chamar outros para
vê-lo operar (para que o colocassem na ordem certa no "ranking" mundial dos evangelistas). Mas Ezequiel não agiu assim. Vejamos o

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