Só O Fogo Produz Fogo

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Quem quiser ter uma vida de oração precisa ser de aço, pois será
atacado por Satanás antes mesmo de começar a tentar atacar o
reino dele.
Se ao orar nos limitarmos a apresentar uma lista de pedidos diante
do Rei do universo, estamo-nos restringindo à menor de todas as
facetas dessa prática tão complexa. Mas, como todos os outros
aspectos da vida cristã, ela pode estar em desequilíbrio em nossa
vida. Não devemos, por exemplo, substituir o trabalho pela oração;
assim como esta não pode ser substituída pelo trabalho. Em sua obra
The Weapon of Prayer (A oração como arma), ainda pouco
conhecida, E. M. Bounds diz o seguinte: “É melhor negligenciar o
trabalho do que a oração”. E afirma também: “Os mais eficientes
agentes na disseminação do conhecimento de Deus na terra, na
realização de sua obra e na resistência às avassaladoras ondas do
inferno foram os líderes que oraram. Deus depende desses homens,
usa-os e os abençoa”.
Não há dúvida de que se o avivamento tarda é porque a oração
está sendo negligenciada. Nada atemoriza mais Satanás e o inferno
do que o crente que ora.
Os missionários que conheciam Henry Martyn invejavam sua
espiritualidade. Um deles disse o seguinte a respeito de Martyn: “Ah,
se eu pudesse ter a mesma perfeição que ele, sua profunda
espiritualidade, sua diligência, sua superioridade em relação ao
mundo, seu amor pelas almas perdidas, sua preocupação em
aproveitar todas as chances que lhe surgissem de ser uma bênção
para alguém, seu conhecimento de Cristo e das coisas do céu!” É
esse o segredo do grandioso impacto que causou na Índia. E o
próprio Martyn disse o seguinte: “Os valores da sabedoria me
parecem cada vez mais agradáveis e lógicos, enquanto o mundo se
torna mais e mais insípido e desprezível”. E ainda: “O que mais
lamento é minha falta de poder e de fervor na oração em secreto, principalmente quando intercedo pelos incrédulos. Meu fervor
espiritual não aumenta na mesma proporção em que cresce meu
conhecimento”. Será que alguém aí pode atirar em Henry Martyn a
primeira pedra? Não é verdade que todos nós pode-mos dizer que
nos falta ardor na intercessão?
Pela sua própria natureza, o fogo só é produzido por fogo. Se
houver perto dele uma substância combustível, o fogo só propagará o
mesmo elemento, fogo. “Vede como uma fagulha põe em brasas tão
grande selva!” (Tg 3.5b). Uma chama de fogo nunca poderá produzir
gelo. Assim também o diabo nunca produzirá homens santos.
Pastores que não oram nunca poderão reproduzir guerreiros da
intercessão. E no entanto uma fagulha que escape de uma bigorna
pode incendiar toda uma cidade. Com uma vela só podem ser acesas
dez mil. A partir da vida de oração que David Brainerd levou
iluminaram-se outros brilhantes astros áo firmamento do
evangelismo, como William Carey, Payson e outros.
William Carey leu a história de Brainerd e como que um dínamo
começou a girar no coração desse jovem ganhador de almas,
levando-o por fim à Índia. E foi na chama da mesma alma que Deus
acendeu a vela do coração de Edward Payson. Através da leitura do
diário do missionário entre os índios — que na ocasião sofria dores
fortíssimas, e se vestia de roupas de couro — Payson, então com
vinte anos, recebeu inspiração para dedicar-se à oração, e o fez de
tal forma que quase eclipsou o testemunho do próprio Brainerd. E
para citar mais uma alma-irmã da de Brainerd, outro destaque na
oração, que faleceu com a “avançada” idade de vinte e nove anos,
mencionaremos Robert Murray McCheyne. Esse gigante da oração
sentiu-se atraído para “a maior de todas as tarefas a que a alma
humana pode se dedicar” quando leu a respeito de Brainerd.
E outro grande homem de Deus que se inspirou na vida de
Brainerd foi Jonathan Edwards. Ele testemunhou o avanço da
tuberculose a consumir o organismo de Brainerd (enquanto Jerusa, a
filha dele e noiva de Brainerd, chorava). Mais tarde, Edwards
escreveu: “Dou graças a Deus porque, pela sua providência, Brainerd
morreu em minha casa. Pois assim pude ouvir suas orações,
presenciar sua dedicação, e me sentir edificado pelo exemplo dele”.
Na mesma época em que David Brainerd estava morrendo, João
Wesley se encontrava no ápice de sua carreira espiritual. Ouçamos o
que ele disse numa convenção de sua igreja na Inglaterra.
(Lembremos que já mencionei uma citação do Dr. Sangster numa outra convenção da Igreja Metodista.) Disse Wesley: “O que
poderemos fazer para reavivar a obra do Senhor nos locais onde ela
está em declínio?” E em seguida esse incansável e intrépido
evangelista que abalou três reinos, respondeu à sua própria
pergunta, dizendo: “Todos os pregadores devem ler atentamente a
biografia de David Brainerd”.
Então aí está. Vamos citá-los novamente: Payson, McCheyne,
Carey, Edwards e Wesley, todos eles homens famosos, todos
inspirados pela mesma chama, todos devedores a David Brainerd,
que embora doente orava com fervor.
É chegado o conflito das eras. Essa coisa distorcida, antibíblica
que leva o nome de “igreja”, mas que se mistura com o mundo e
desonra aquele a quem ela diz ser seu Senhor, já foi desmascarada;
é uma fraude. A verdadeira igreja nasce dos céus. Nela não há
pecadores, e fora dela não há salvos. Ninguém pode colocar o nome
de outrem em seu rol de membros, nem tampouco pode riscar aquele
que lá estiver registrado. Essa igreja — da qual, graças a Deus, ainda
existe um remanescente no mundo — vive, move-se e existe na
oração. Orar é o sincero desejo de sua alma.
E assim como a primeira bomba atômica lançada no mundo abalou
Hiroshima, assim também somente a oração pode sacudir o coração
dos homens. Esse paganismo civilizado que vemos por aí, esses
templos de ídolos, esses milhões de pecadores hipnotizados pelo
pecado, dominados pelo pavor, só poderão voltar-se para Deus se a
igreja for movida por Deus a atentar para a condição de perdição em
que se encontram. O diabo procura arrancar-nos do aposento da
oração lançando mão de todos os artifícios que conhece. Pois ele
sabe que pela oração o homem se une a Deus, e essa união perturba
e derrota Satanás. E ele está bem ciente disso. Portanto, se ele
conseguir afastar-nos da oração, nossa mente será dominada por
interesses legítimos ou por questões importantes para nós. É aí então
que precisamos apelar para o nosso principal defensor, o sangue de
Cristo. Outra maneira de se resolver o problema da divagação do
pensamento é orar em voz alta ou murmurar algumas palavras,
mesmo que em tom baixo.
Depois de conseguir domínio sobre Satanás, nosso trunfo seguinte
se encontra nas “preciosas e mui grandes promessas” de Deus.
Firmados nelas, achamo-nos pisando numa base de concreto
espiritual; por elas temos acesso ao céu. Por elas Deus se
compromete a abençoar-nos, e mostra-se desejoso de ouvir nossas petições, com as quais o honramos por nossa fé. Por elas, travamos
uma batalha espiritual, não com Deus, mas contra os principados e
potestades, pois Satanás, como qualquer outro ser, também não
gosta de perder. E o tesouro dele são vidas humanas. Todos aqueles
que se encontram fora do poder regenerador do Espírito Santo —
incrédulos, condenados, desobedientes, embriagados, doentes,
religiosos, jovens ou velhos — estão debaixo do domínio dele,
embora o grau de domínio que ele exerce varie bastante de um para
outro. E o principal alvo de seus dardos inflamados são os salvos,
nos diversos níveis da escala espiritual. Mas com o “escudo da fé”
poderemos apagá-los, e, graças a Deus, sair desse embate
incólumes. A oração não é nossa arma de defesa; é o escudo da fé
que utilizamos para isso. A oração é nossa arma secreta. (E parece
que ela é secreta mesmo para muitos dos filhos de Deus. Na
verdade, apesar de tudo que já lemos, quem pode dizer que sabe
muita coisa sobre essa importante prática que é a oração?) Mas não
é pela oração que derrotamos Satanás; Cristo já o derrotou há dois
mil anos. Todavia o diabo nos engana e nos desafia, e muitas vezes
aceitamos suas ameaças e nos esquecemos da “suprema grandeza
do seu poder para com os que cremos” (Ef 1.19). Jesus, aquele que
orou como nenhum outro, diz: “Eis aí vos dei autoridade sobre... todo
o poder do inimigo” (Lc 10.19). Essa é nossa vitória. Na oração, a
alma é liberada. A verdadeira oração consome muito tempo. Nos
primeiros estágios, temos a impressão de que o relógio está-se
arrastando. Mas depois, quando nos acostumamos mais com essa
santa prática, o tempo voa. A oração torna nossa alma mais sensível.
Observe que nunca oramos pelas pessoas de quem falamos mal; e
nunca falamos mal daqueles por quem oramos. A intercessão é um
poderoso “detergente”. Estou bem ciente de que o grande purificador
da alma é o sangue de Cristo. Mas é quando estamos em oração
que, se tivermos algum pecado, ele opera uma purificação eficaz por
meio do Espírito.
Satanás não se importa se aumentarmos nosso conhecimento da
Palavra de Deus, desde que não nos dediquemos à oração, o que
nos impulsionaria a pôr em prática as instruções que recebemos pela
leitura da Palavra. De que vale um conhecimento profundo, se nosso
coração não tem profundidade espiritual? De que adianta termos uma
boa posição perante os homens, se não a temos diante de Deus? De
que vale a higiene do corpo, se nossa mente e espírito estão sujos?
De que adianta possuirmos uma fachada de religiosidade se nosso
coração é carnal? Por que nos orgulharemos de força física, por
exemplo, se espiritualmente somos fracos? De que vale a riqueza do mundo se vivemos em pobreza espiritual? Que prazer pode ter na
popularidade social aquele que é desconhecido no inferno? Pois a
oração conserta todos esses desajustes espirituais.
Aquele que não deseja ser envolvido por esse falso conceito de
espiritualidade de nossos dias precisa fortalecer-se mediante uma
comunhão mais íntima com Deus, e adotar uma mentalidade mais
calma e mais de acordo com os padrões celestiais. Quem deseja
possuir a riqueza espiritual e quer ser ouvido por Deus, certamente
experimentará muita solidão e comerá o pão da amargura. Ele pode
receber ou não muita oposição social e familiar. Mas uma coisa é
certa: terá muito conflito interior, buscará o recolhimento (que pode
gerar mal-entendidos), e é possível que até os melhores amigos se
afastem. Quando duas pessoas se amam gostam de ficar a sós uma
com a outra, e em solidão é que se gozam os momentos de maior
enlevo espiritual. É como bem expressou um poeta:
“Ouvi um chamado: “Vem, segue-me!”
E foi só.
Aí as alegrias terrenas perderam seu fascínio.
E minha alma o seguiu.
Levantei-me e segui-o.
E foi só.
Não queres também segui-lo se ouvires o chamado?”

Por que tarda o pleno avivamento?Onde histórias criam vida. Descubra agora