Já se passaram alguns séculos desde que o reformador suíço
Oecolampad disse: “Uns poucos pregadores bons e fervorosos
produziriam maior impacto no ministério cristão do que uma multidão
de homens mornos!” E a passagem do tempo não anulou a verdade
contida nessa afirmação. Precisamos de mais “pregadores bons e
fervorosos”. Um deles foi Isaías, com sua confissão: “Ai de mim!
Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio
dum povo de impuros lábios”. E Paulo foi outro: “Ai de mim, se não
pregar o evangelho”. Mas nenhum dos dois tinha um conceito mais
amplo da magnitude de sua tarefa do que Richard Baxter, que era
ministro da Igreja Kidderminster, na Inglaterra. Quando alguém o
criticou, tachando-o de ocioso, ele respondeu o seguinte: “A pior
coisa que eu poderia desejar-lhe era que tivesse minha folga em vez
do seu trabalho. Tenho razões para me considerar o menor de todos
os salvos, e no entanto não teria receio de dizer ao acusador que
considero o serviço da maioria dos trabalhadores desta cidade um
prazer para eles, em comparação com o meu, embora não trocasse
minha tarefa com a do mais importante príncipe”.
“O serviço deles ajuda a conservá-los com saúde; o meu consome-
a. Eles trabalham tranqüilamente; eu, em dores constantes. Eles têm
horas e dias para seu lazer; eu mal tenho tempo para me alimentar.
Ninguém os incomoda por causa de seu ofício; quanto a mim, quanto
mais trabalho, mais ódio e perturbações atraio sobre minha pessoa”.
Sente-se um pouco da mentalidade neotestamentária nessa sua
maneira de encarar a pregação do evangelho. Este é o mesmo Baxter
que queria ser como “um moribundo pregando a moribundos”. Se
nossos pregadores fossem todos desse calibre espiritual, arrancariam
toda esta geração de pecadores da boca do inferno. É possível que hoje tenhamos o maior índice de pessoas
freqüentando a igreja, com o mais baixo índice de espiritualidade de
todos os tempos. Talvez estivessem certos aqueles que no passado
acusaram o liberalismo de ser o grande culpado da frieza dos
crentes. Hoje, esse bode expiatório é a televisão, que está sendo
execrada pelos pregadores. Entretanto, apesar disso, e sabendo que
as duas acusações não deixam de ser verdadeiras, gostaria de dirigir
a nós, pregadores, uma pergunta. Será que não deveríamos
confessar como aquele escritor do passado: “O erro, caro Brutus,
está em nós mesmos?” Mas eu gostaria de afiar bem o meu bisturi e
aprofundá-lo um pouco mais nos pregadores: passou a época dos
grandes sermões tipo “lanche rápido”, temperados com tiradas
humorísticas para tentar estimular o fraco apetite espiritual do homem
de nossos dias? Ou estamos nos esforçando para comunicar os
“poderes do mundo vindouro” em todos os cultos?
Pensemos um pouco em Paulo. Após receber uma poderosa unção
do Espírito Santo, ele saiu pela Ásia menor para travar ali uma
intensa batalha espiritual, causando agitação nos mercados,
sinagogas e palácios. E ia a toda parte, tendo no coração e nos
lábios o grito de guerra do evangelho. Diz-se que foi Lenine quem
disse o seguinte: “Os fatos não podem ser contestados”. Analisando
as realizações de Paulo e comparando-as às dos crentes de nossa
geração, que fazem tantas concessões ao mundo, temos que
concordar com ele. Paulo não era um pregador que apenas falava a
toda uma cidade; ele a abalava totalmente. Mas ainda assim tinha
tempo para sair batendo às portas das casas, e para orar pelos
perdidos que encontrava pelas ruas.
Estou cada vez mais convencido de que as lágrimas são um
elemento indispensável a uma pregação avivalista. Irmãos
pregadores, precisamos nos envergonhar de não sentir vergonha;
precisamos chorar por não termos lágrimas; precisamos nos humilhar
por haver perdido a humildade de servo de Deus; gemer por não
sentirmos peso pelos perdidos; irar-nos contra nós mesmos por não
termos ódio do monopólio que o diabo exerce nestes dias do fim, e
nos punir pelo fato de o mundo estar-se dando tão bem conosco, que
nem precisa perseguir-nos.
Pentecostes significa dor, mas o que mais experimentamos é
prazer; significa peso; mas nós amamos a comodidade. Pentecostes
significa prisão, e, no entanto, a maioria dos crentes faria qualquer
coisa, menos ir para a prisão por amor a Cristo. Se revivêssemos a
experiência do pentecostes, talvez muitos de nós fossem parar na cadeia. Eu disse “pentecostes”, não “pentecostalismo”. E não estou
querendo atirar pedras em ninguém.
Imaginemos a experiência do pentecostes se repetindo em uma
igreja no próximo domingo. O pastor, como Pedro, é revestido de
poder. E, pela sua palavra, Ananias e sua esposa caem mortos ao
chão. Será que o crente moderno toleraria isso? E não pára aí. Paulo
determina que Elimas fique cego. Em nossos dias, isso implicaria na
abertura de processo contra o pregador. E se alguns caíssem ao
chão, sob o poder do Espírito Santo — o que acontece em quase
todos os avivamentos — sem dúvida iriam difamar-nos. Não seria
demais para a nossa sensibilidade?
E, como já disse no início deste capítulo, gostaria que houvesse
grandes pregadores em nossos dias. O diabo quer que fiquemos a
caçar ratos, enquanto há leões à solta, devastando a terra. Nunca
consegui descobrir o que se passou com Paulo na Arábia. Ninguém
sabe. Será que ele teve uma visão do novo céu e da nova terra, e do
Senhor reinando soberano? Não sei. Mas uma coisa sei com certeza:
ele modificou a Ásia, deixou os judeus profundamente irritados,
encolerizou os romanos, ensinou para mestres e teve piedade de
carcereiros. Ele e outro pregador de nome Silas dinamitaram as
paredes da prisão com suas orações, para realizar a obra do Senhor.
Paulo, o servo de Jesus Cristo, o escravo de Cristo pelo amor,
depois de reconhecer que o coração mais duro que Deus conquistara
era o seu, resolveu ir abalar o mundo para Deus. Em seus dias, ele
trouxe à terra os “poderes do mundo vindouro”, restringiu a operação
de Satanás, e sofreu, amou e orou mais que todos nós. Irmãos,
caiamos de joelhos outra vez, se quisermos recuperar a
espiritualidade e o poder apostólicos. Chega dessa pregação fraca e
ineficaz!
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Por que tarda o pleno avivamento?
EspiritualNem todos os livros - nem mesmo os bons livros - podem ser considerados uma mensagem enviada direto do céu. Mas acredito que este o seja. E o é porque seu autor é uma voz do alto, e o espírito dele fala por suas páginas.