Prólogo

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CONFORME AVISADO, O LIVRO FICOU DISPONÍVEL ATÉ O DIA 20.11.18

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Juliana

— Isso não pode ser verdade. Mãe, me ajuda, por favor. — imploro com os olhos cheios de lágrimas.

— Para de choramingar, Juliana. Você terá uma vida de rainha.

— Rainha? Ele tem idade para ser o meu pai. Eu não quero me casar com ele.

— Ingrata. Deveria estar agradecendo, isso sim. Agora fique quieta que seu noivo deve estar chegando.

Engulo o meu choro, para não tomar mais uma bronca do meu pai e saio do quarto logo depois da minha mãe. Ela não estava errada, ele está sentado ao lado do meu pai na sala.

— Boa noite, Juliana. Você está linda. — Seus olhos me avaliam e eu só consigo sentir nojo. Esse homem me encara de um jeito diferente desde que eu era uma menina. Agora vejo em seus olhos o prazer em ter conseguido me "comprar" dos meus pais.

— Sente-se aqui ao lado de Edgar, filha. Seu noivo te trouxe um presente. — conta meu pai com a voz amável, em nada se parecendo com o homem que gritou comigo ontem e me deixou de castigo quando eu disse que não me casaria com esse velho.

Tenho vontade de revirar os olhos, mas me contenho.

— Aqui, criança. Escolhi especialmente para você. — Ele estende a mão, mostrando uma caixa retangular. Seu sorriso se abre de um modo tão perverso que arrepia todos os pelos do meu corpo. — E esse é para a senhora, Maria do Carmo. — fala se dirigindo a minha mãe, e lhe entrega uma caixa parecida com a minha.

— Você é muito gentil, meu genro. Juliana tem muita sorte.

Ignoro o comentário e de forma receosa, abro a caixa. Quase choro ao ver uma gargantilha com o nome de Edgar gravado em uma placa na frente.

— Oh, é lindo — saio do meu estado de perplexidade ao ver minha mãe levantando um lindo pingente com uma pedra verde enorme.

— Gostou do seu? Venha aqui, criança. Deixe-me colocar em você.

Criança? Esse homem é um louco, nojento. Tenho vinte e dois anos e a vontade que tenho é de gritar que não sou criança, coisa nenhuma. Olho para o meu pai que manda, silenciosamente, eu me aproximar de seu amigo.

Viro de costas e seguro o cabelo enquanto sinto aquelas mãos asquerosas passearem pelo meu pescoço e me esquivo quando seu rosto se aproxima para cheirar o meu cabelo.

O que eu fiz para merecer isso?

— Pronto, criança. Agora você está linda.

Passo a mão no colar grudado ao meu pescoço e entendo o objetivo deste presente.

Uma coleira.

Sinto-me sufocada com o pensamento que dentro de uma semana pertencerei a este homem.

— Agora vão para a cozinha terminar o jantar, preciso tratar de negócios com o Sebastião.

Edgar manda como se a casa fosse dele, e o que mais me impressiona é que meu pai apenas acata.

Levanto-me obediente e sigo, novamente, minha mãe para a cozinha, porém, antes de sair pela porta consigo escutar o início da conversa que só afirma como minha vida será um inferno. Um caminho sem volta.

— Eu trouxe o talão de cheques. Vou pagar mais do que pediu. Assim pelo menos, não terá como reclamar depois do casamento realizado.

Vendida pelo próprio pai.

Enxugo as lágrimas e me sento à mesa contendo a avalanche de emoções que estou sentindo.

— Seu marido vai te encher de presentes, Juliana. Não tem porque chorar.

— Você não entende. Eu queria me casar por amor, não por dinheiro.

— Amor, Juliana? Isso só acontece nessas músicas melosas que você ouve. Casamento é apenas um negócio.

— Você não ama meu pai? — pergunto realmente curiosa. Os dois são frios um com o outro, mas achei que era apenas na minha frente.

— Lógico que amo. Estou casada há mais de vinte anos. Mas as coisas são diferentes desse mundo da lua que você vive.

Realmente ela não poderia estar mais certa. Uma semana se passou, agora estou aqui, sentada na cama da minha nova casa e olhando para a minha mão esquerda, onde uma fina argola de ouro reluz. Acabei de me casar no civil, sim porque Edgar não tem religião e preferiu não se casar a igreja, mas foi melhor assim. Pelo menos não tive que prometer diante Deus que passaria minha vida inteira nesse inferno.

Ele organizou uma recepção magnífica, e por mais que todos me parabenizassem, as pessoas de sua família me encaravam com pesar. Algo está errado com esse homem, porém, todos parecem ter medo de enfrentá-lo e o tratam como um "Deus".

Seco as lágrimas e pego o meu violão respirando melhor pela primeira vez desde que acordei. Deixo meus dedos deslizarem pelas cordas e começo a me acalmar. Mas a dor volta ao me lembrar de que não poderei voltar a viver minha vida. Meu futuro acabou no momento que tranquei a minha matrícula.

Ganhei uma bolsa de estudos na melhor escola de música da cidade. Fazia dois anos que eu estudava lá, e sempre fui destaque entre os alunos. Foi a primeira coisa que me foi tirada quando meu pai marcou o casamento. Edgar diz que mulher dele não tem que estudar, porque não precisa trabalhar.

— Ah! Achei você docinho — dou um pulo de susto com o barulho da porta sendo aberta e o homem, que agora é o meu marido, passando por ela.

— Oi. Eu só estava...

— Estava mexendo nessa porcaria de violão. Eu disse que não era para trazer isso para a minha casa.

Em um acesso de fúria, ele caminha até a cama, pega o meu violão e joga no chão.

— NÃOOO. — grito em desespero.

— Não levante a voz para mim — o tapa que recebo chega sem que eu espere. A ardência toma conta do meu rosto e seguro as lágrimas, olhando para ele espantada.

Nem o meu pai que sempre foi um ogro nunca me bateu.

— Esquece esse negócio de música, Juliana. Mulher minha é decente e ponto final. Agora vai tomar um banho, porque temos que consumar o nosso casamento. — Resmunga abrindo o cinto. — Ah! Antes que eu me esqueça, percebi que não estava usando isso no nosso casamento? — tira do bolso a "coleira" estendendo em minha direção. — Não quero ver esse lindo pescoço sem essa gargantilha. Você é minha agora, e fará o que eu ordenar, entendeu?

Naquele momento eu entendi o que minha mãe disse. O amor não existe. E eu preciso me conformar que minha vida acabou a partir de hoje. Principalmente depois de ser agredida no primeiro dia como esposa desse homem asqueroso. 

*Degustação* Um Sopro de EsperançaOnde histórias criam vida. Descubra agora