Passei o dia nervoso na boca, mal conseguia resolver as coisas. Mandei Lipinho fazer uns favor, mas precisava dele aqui pra me dizer se aconteceu alguma coisa, o que eu tinha quase certeza que tinha acontecido, pois uma maldita música não saia de minha cabeça e eu tenho quase certeza que a voz era de Giovanna.
Quando já era umas 20h, o merdinha voltou. Foi entrando na minha sala com as coisas.
- CARALHO LIPINHO, tava fazendo o que o dia todo? Dando volta com a sua puta? – nem consegui controlar minhas palavras.
- E ai, entorta tua boca pra fala da minha fiel, caralho. Se tu ta nervosinho vai descontar em outro, vem pra cima de mim não que tu não bate. Se quiser a gente já vai lá fora pra tu levar uns cascudos nessa tua cabeça dura do caralho.
- Ah vai se fuder Filipe, você não bate nem no KJ e quer dar uma de macho pra cima de mim agora.
- Mano, sério. Senta ai, o que foi que tu ta assim? – ele já foi puxando a cadeira e sentando do outro lado da mesa, já sabia que eu tava encucado com alguma coisa, filho da puta me conhecia mais que meu próprio pai.
- O que aconteceu ontem? – fui me sentando e prestando na atenção na sua expressão que já não era das boas.
- Guilherme – já começou assim, já sabia que tinha feito uma das merdas grandes – tu não ta bem das idéias não cara, tu bebeu duas garrafas de whisky sozinho e ainda fumou maconha pra caralho. Como se já não bastasse isso, tu saiu do nada do morro, sem avisar ninguém, louco do jeito que tava, pilotando a moto, E SE TU MORRE DESGRAÇA HEIN – ele aumentou o tom de voz e bateu na mesa – pensou nisso caralho, claro que não né. Foi lá na casa das meninas, não sei como você entrou e nem vou perguntar porque se você não lembra do que fez, imagina como entrou. - deu um sorrisinho e continuou - Mano, tu foi lá e dormiu nos braços da Pequena. Carine disse que você chegou todo nervoso e só acalmou quando deitou nela e pediu pra ela cantar pra tu. Tu ta amarradão nela, num ta? Nem adianta mentir pra mim que te conheço mais que você mesmo. Eu cheguei lá e tive que chamar o Feijão e o KJ pra te tirar dela mano, parecia criança tiw, quando ta com um dormindo com um ursinho e não larga por nada, ta ligado? - fez os gestos como se tivesse abraçando algo e se não fosse eu que tinha feito essa cena teria rido. - Tu quase matou a mina mano com o seu peso e apertando ela.
Tentei prestar atenção em tudo que ele tava dizendo, mas parei no momento em que ele disse que eu pedi pra ela cantar pra mim, agora tive a certeza que a voz na minha cabeça era dela. Não consegui pensar em nada, só peguei a chave da moto e fui me levantando.
- Termina as coisas ai que eu preciso falar com ela.
- Vai lá mano, vai lá e não faz merda hein.
Subi em cima da minha moto e dei partida. Por incrível que pareça ou não, um dos porteiros morava lá na favela e me conhecia, provavelmente foi assim que eu entrei. E com certeza ele já deixou avisado que eu posso entrar pros outros porteiros.
Cheguei lá e dei um salve no porteiro que era um velho de cabelos brancos hoje, parecia ser gente boa.
- E ai, beleza? Eu vim na casa da Giovana, acho que é número 43.
- Boa noite meu rapaz, só um momento vou interfonar lá. Qual seu nome?
- Então, eu queria fazer uma surpresa, eu tive aqui de manhã, o seu Jorge tava ai e me liberou pra entrar, acho que ele e as meninas deixaram acertado ai pra que eu possa entrar – tudo mentira, nunca tinha falado com a Pequena sobre isso, mas mandei seu Jorge facilitar pra mim.
- Ah, tu é o tal do Guilherme, um dos namoradinho das meninas né. Ele avisou sim. Pode entrar – o portão começou abrir e eu voltei pra subir na minha moto e entrar.
Cheguei na casa delas, estacionei a moto na frente e toquei a campainha e bati na porta, com toda minha pressa. Carine não demorou muito pra abrir a porta 'Porra essa mina é porteira, só ela abre a porra da porta'.
- Oi, a Giovana ta ai? Queria falar com ela – já fui entrando com tudo, não to com muita paciência. Ela ficou me encarando como se visse um fantasma. Estalei os dedos na frente dela.
- E ai carai, ta vendo um fantasma?
- Oh – ela disse balançando a cabeça rápido – ela não está, saiu faz um tempo, mas deve ta chegando.
- Saiu pra onde? Com quem?
- Ué, não te interessa – ela bufou pra mim. 'AAAAH que filha da puta mano'. Se não fosse fiel do Lipinho já tava com uma bala no crânio.
- Beleza, avisa que eu estive aqui e quero falar com ela – sai e subi na minha moto, com certeza eu não ia embora. Antes de sair do portão e disse pro velhinho que ia esperar por lá escondido, ele apenas assentiu. Deixei a moto num estacionamento para visitantes e fui lá pra fora esperar minha Pequena.
Fiquei esperando algum tempo, acho que quase uma hora. Quando vi um carro estacionar, prestei atenção e vi que era Giovana e aquele vacilão do bar. Ele beijou ela e ela retribuiu.
Passei a mãos no cabelo nervoso, amassei uma planta e só esperei ela sair do carro. Saiu toda sorridente, mas eu ia acabar com a noite dela agora mesmo.
Esperei o merda ir embora e quando ela já tava entrando eu parei atrás dela.
- Então você já ta com outro – percebi que ela levou um susto e quando se virou pra mim quase não conseguiu falar.
- O... O... o que você quer?
- Eu quero falar com você – travei meu maxilar com tanta força, tava com tanta raiva dela.
- Eu... Eu não tenho nada pra falar com você.
- Você ta com ele, é isso? – falei me aproximando dela, ela fechou os olhos imediatamente, minha vontade era de beijar ela naquela hora, mas minha raiva tava tão grande que acho que machucaria ela – FALA CARALHO.
Senti sua respiração falhar, e depois voltar toda descontrolada.
- Não é da sua conta, você não é nada meu, nunca foi e nunca vai ser, não devo satisfações da minha vida pra você – senti que ela soltou a respiração depois de conseguir falar.
Ela ainda não me olhava, mantinha os olhos fechados.
- Abre os olhos, olha pra mim e diz isso de novo.
- Gringo, por favor, vá embora, não quero confusão aqui no condomínio ainda mais na entrada.
- Eu não vou até falar com você – ela respirou fundo e então abriu os olhos, olhou pra mim, mas logo desviou o olhar pro chão.
- Tá bom, entra, vamos conversar lá em casa.
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HERDEIRO
Ficção AdolescenteHerdeiro de um dos tronos mais temidos do Rio de Janeiro, herdeiro do tráfico, herdeiro querendo ou não do Morro do Alemão. Mas o que ele não sabia é que esse não era seu único trono. Filhinha única, mimada, teimosa e um tanto rebelde. Procurava pe...