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Ele estava sentado na cama e eu estava em pé entre suas pernas, incrível como ele é alto. Sentado ficava quase da minha altura.

- Eu tive tanto medo. – seguro seu rosto com as duas mãos e encosto minha testa na sua.

- Desculpa sumir, é que eu tive que ter uma reunião com o pessoal. Tem X9 no meu morro, os verme já sabem que meu pai não é mais o dono e sabem onde moro, eles chegaram aqui muito rápido. – suspirei alto enquanto ele alisava minhas pernas.

Fiquei o encarando um momento e logo juntei nossos lábios, precisava sentir um pouco dele.

- Eu nunca quis ser traficante, eu nunca quiser ser dono do Morro, tudo que eu queria era sair daqui e dar uma vida melhor pra Rita, ela lutou tanto por mim, lutou tanto nos meus estudos pra eu acabar assim. – ele respirou fundo. – Mas quando fiz o que fiz com meu pai eu não sabia o que fazer, todos colocaram sua fé em mim, todos do morro achavam que eu era o melhor pra tomar o lugar, e eu não poderia decepcionar eles, não depois do meu pai ter quase acabado com a alegria dessas pessoas que tanto batalham. 

'Fiz o que fiz com meu pai'

"O que ele queria dizer com isso? O que será que Gringo fez com o pai dele? Será que o traiu pra ficar no comando do morro?"

Deixei esses pensamentos de lado, pelo menos por hoje. Não queria problemas, apenas deitar, dormir e esquecer essa noite.

- Ei, você fez o melhor que podia, tenho certeza que Rita está mais que orgulhosa de você. Só de andar por aqui dá pra sentir a alegria do povo. – disse enquanto acariciava seu rosto.

Ele me retribuiu um sorriso tão meigo, que tive vontade de coloca-lo em meu colo e nanar. 

Em questão de segundos sua respiração ficou pesada e então se levantou ficando de frente, deu uma tosse falsa e me olhou sério.

- Agora preciso falar algo sério com você Pequena. 

- Diga. - Levantei as sobrancelhas em curiosidade. 

- Preciso que você venha pra cá.

- Bom, não sei se você é cego, mas já estou aqui. - Gesticulei com as mãos sorrindo com a brincadeira e ele ficou mais irritado do que eu imaginei, não estava entendendo. 

- Giovanna para de brincadeira, estou falando sério. Quero que venha morar aqui. - Comecei a rir, mas parei assim que ele ficou vermelho de raiva.  

- Eu não posso, a gente mal tá sei lá o que a gente tá. - Cruzei os braços e virei o rosto pro lado. 

- Giovanna, porra. - Ele respirou fundo e passou as duas mãos no cabelo nervoso. - Invadiram o morro, e sem mais nem menos sabiam onde era minha casa. Tem X9 aqui e com toda certeza os verme sabem de você e da Carine, não dá pra você ficar dando sopa por ai. Eles vão atrás de vocês pra chegarem em nós. Você tá entendendo? 

- Não me trate como se eu fosse burra, estou entendendo sim. E não eu não quero morar aqui e não vou. - Bati o pé. 

- PARA DE SER TEIMOSA CARALHO, EU TÔ TENTANDO TE PROTEGER CARALHO, MAS QUE MERDA. - Começou a andar de um lado para o outro.

- NÃO GRITA COMIGO. Não tem necessidade disso Guilherme, pra que eles iriam atrás de nós?

Ele espremeu os olhos com os dedos como se pedisse paciência. 

- Pra gente se entregar, ou entregar o morro. Eles não vão ser gentis Giovanna, chegar lá e falar "Oi, tudo bem? Poderia nos dar algumas informações sobre o morro que você frequenta, enquanto a gente conversa vou entrar para tomar uma xícara de café." - Gesticulou como se todo afeminado e eu me segurei pra não rir. - Eles vão prender vocês, vão inventar algum crime contra. Não sei se você tá entendendo, mas agora você e a Carine são nossas cúmplices. Vocês são tão criminosas quanto nós, nem tanto vai, mas agora que eles sabem até a localização da minha casa, então eles sabem onde vocês estão, onde trabalham, onde comem, onde até peidam. 

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