Reflexo no Espelho

Capítulo 3

Eu entrei no consultório, tudo era branco, limpo, lembrava-me o purgatório de certa forma, era um lugar que transmitia frieza, nada menos do que o esperado de um consultório médico. Dr Matias nos aguardava com um grande sorriso amistoso , ele apertou a mão de Fernanda - a quem vocês devem ter sido apresentados como "mãe" anteriormente - para mim , a criança, ele lançou um olhar de diminuição , menosprezo, um olhar discreto e quase imperceptível notado apenas pelos olhos mais bem treinados

Ela sentou e eu a imitei. fiquei me mantendo quieta, o médico começou a fazer perguntas relativas a minha saúde, seguindo todas as normas padrão da medicina, nada fora do normal, além do fato de Marta estar preocupada com certos comportamentos "estranhos" que nós estávamos tendo em casa.

Dr Matias pediu para ela sair, ele queria me testar e precisava que estivéssemos a sós e esta ideia não me agradou em nada. Não gosto de ser testada, desafiada. E nem quero ser separada, nós somos uma, duas metades de um ser.

Como se o doutor não tivesse me dado motivos suficientes para suspeitar e odiá-lo, ele me colocou sobre sua maca, separou uma seringa com uma substância tranquilizante, um sedativo, eu reconheci logo pelo nome no fraco ao lado " Midazolan"... ele estava preparando a seringa para aplicar em mim e ninguém imagina que com apenas 7 anos de idade uma criança já saiba ler nomes de remédios e muito menos saber o que era aquilo.

Eu via desejo nos olhos de Dr Matias; desejo sexual, o tipo de desejo que só se deveria ter por adultos, mas mulheres adultas não era o que ele queria, não...como todo ser humano, o renomado médico possuía uma mancha enorme na sua alma. Ele preferia menininhas, quanto mais doces e inocentes parecessem e quanto mais problemáticas mentalmente fossem mais lhe agrada, então éramos o alvo perfeito.

Eu não podia deixar ele nos fazer mal, não podia deixar ele violar um corpo que era meu. Discretamente peguei a seringa que estava sobre a bancada enquanto ele saiu rapidamente para pegar um lubrificante, quando ele voltou, procurou pela seringa e eu a escondi atrás das costas. Usei então meu charme e fofura para atraí-lo até mim, quando ele se aproximou cravei a seringa no peito dele fazendo seu coração parar instantaneamente fazendo-o cair duro no chão, de mais de uma maneira posso dizer, se é que vocês me entendem ...

Quando retornei, Dr Matias estava morto no chão, eu estava confusa, não lembrava de nada do que havia acontecido ali. Onde estava minha mãe? Eu estava assustada e paralisada...foi quando a secretária entrou no consultório para pedir a ele sua assinatura, ela começou a gritar mesmo sem entender nada. Sem entender porque seu chefe estava com o zíper aberto e caído no chão e porque a seringa estava nas minhas mãos.

Oque havia acontecido? Eu não sabia...só sei que quando estava voltando a mim, ainda tentando entender toda a situação, a secretária estava já com o telefone na mão ligando para a polícia. Minha mãe entrou rápido, ao perceber que havia movimentação demais e quando deparou-se com a cena, ela me olhou brava e ao mesmo tempo chocada. Não sei dizer se ela já esperava ou não que eu fosse uma assassina, eu não soube dizer, só sei que ela me pegou pela mão e me arrastou até o carro.

"Monstro', "Criança do demônio ", "Diabo em forma de menina", esses foram apenas alguns dos nomes em que minha mãe me chamou no caminho para casa, palavras que mais pareciam cacos de vidro sendo cravados e apertados com força no meu coração, eu só sabia chorar, na época eu ainda era fraca, ainda me importava com a opinião das pessoas que eu amava ou acreditava amar.

Minha mãe dizia que me colocaria fora no lixo como o lixo que eu era, dizia que eu nunca seria amada novamente... sabe o quanto dói ouvir isso da sua mãe? Já imaginou se fosse sua mãe lhe dizendo isso? O que você faria?

Eu era apenas uma criança confusa , não era nenhum monstro , mas ela me fez acreditar que sim, eu era o pior dos seres humanos, agora quem é Hitler? Binladen?Stalin ?Hussein ?Kim Jongun ?Ninguém se comparado a pessoa horrível que eu sou.