0.4

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A ansiedade corria pelo corpo do alfa mais novo, fazendo-o caminhar de um lado para o outro diversas vezes, o que incomodava infinitamente Edgar, especialmente pelo fato de estar quase que no mesmo nível. O velho suspirou, levantando-se da poltrona de couro e caminhando até a janela. Estava anoitecendo.

- Não adianta. Você não vai comigo.

Dean franziu o cenho, sendo obrigado a rir. Aquilo só podia ser uma piada, pensava, já que Novak não estava tendo progresso algum com sua investigação com a vigilante. Francamente, era ele quem deveria estar fazendo as perguntas, saboreando a pequena vitória.

- Tire o que quiser dela - rosnou o mais novo - e quando acabar, eu assumo.

- Você deveria confiar em mim. Tenho controle da situação.

- Prove isso, ou eu provo o contrário.

Foi fácil notar a raiva presente no tom daquela frase, mas não era como se Edgar fosse se sentir ameaçado por aquilo. Briga de lobos grandes, ele pensou, esvaziando os pulmões ao que Dean saiu de sua sala. Por mais que soubessem respeitar "territórios", entendia que o rapaz não era paciente, então não poderia exigir muito. Precisava tirar as respostas de Ruby o quanto antes, pois não seria boa ideia deixá-la com outra pessoa.

Apoiou-se na mesa, tentando pensar no que fazer. Já deveria estar em casa, mas não poderia se dar ao luxo de perder tempo.

Antes de também sair da sala, pegou seu casaco e as chaves. Não demorou muito para que o elevador o deixasse no estacionamento. Logo o carro já estava dando partida. Mandaria uma mensagem para Anabeth avisando que chegaria tarde outra vez, então ela não precisaria esperar acordada. Em sua cabeça já passava a reação da mulher - estressada por ter que ir dormir sozinha -, só que não tinha muito o que fazer. Não queria envolvê-la nisso. Não poderia ser injusto. Colocá-la naquela situação de novo seria imperdoável.

A estrada era iluminada apenas pelos faróis dos carros. O homem observava atento à sua volta, descontando a ansiedade no acelerador. Seguindo em tal ritmo, não demoraria muito mais que 1h para que chegasse no galpão.

Estacionou em frente à porta de saída, nos fundos. O breu que o rodeava dificultava o processo de abrir o cadeado e tirar as correntes, mas não era como se o homem não estivesse acostumado com isso. Respirou fundo ao entrar, se perguntando o por que de estar ainda mais frio ali do que estava do lado de fora. Chegou a se preocupar com a existência da alfa, que poderia ter morrido de hipotermia (ou qualquer outra coisa, considerando o estado que havia a deixado da última vez). Precisava dela viva afinal.

Suas dúvidas foram sanadas ao que o cheiro da mulher ficou perceptível. A sujeira, poeira e o mofo faziam um bom trabalho em cobrir aromas, especialmente aqueles que estão enfraquecidos. Edgar sabia o que significava aquilo; significava que deveria se apressar. 

Ao se aproximar, viu-a se mexer debilmente, como se o corpo já não obedecesse completamente seus comandos. Não reagiria a nada naquela situação, então o homem a deu de beber, conseguindo escutar a boca seca de Ruby tomar a água desesperadamente, tossindo varias vezes ao parar para respirar.

- Me deixe ir...

A performance era incrível; a voz rouca e falha mostrava o sofrimento que era o simples ato de permitir o ar soar em suas cordas vocais. Toda a expressão se voltava à angústia, ao pedido de misericórdia para uma possível redenção. Até mesmo os olhos marejados pareciam realmente arrependidos, envergonhados de um erro. Reconhecia uma boa atuação quando via, e aquela era uma das melhores, mas não cairia na conversa. Agora tinha ciência do mundo, não era mais o garoto empático que colocou tudo em risco.

- Não enquanto você não dizer o que preciso saber - deixou a garrafa em cima da mesa de metal - Não tem outra opção a não ser cooperar.

Insistiu ela, por alguns instantes, como se estivesse disposta a ajudar, mas não durou por muito tempo. Seus lábios se contorceram em um sorriso medonho, deixando que a risada desgastada e irônica escapasse. Por mais dolorido que fosse, Ruby se esforçou para dar o melhor de si na tarefa de irritar o velho, que não pensou muito antes de erguer a destra, jogando-a com força no rosto da alfa.

Ela mordeu os lábios, mantendo a cabeça baixa por alguns segundos antes de escarrar a garganta, juntando o sangue com a saliva, e cuspir no chão. Sua gengiva estava queimando como o próprio inferno, dolorida. Logo sua bochecha começaria inchar. Qualquer coisa a fazia querer chorar. O corpo de Ruby doía por inteiro, seus músculos imploravam para que as cordas fossem desamarradas, os braços estavam atrás das costas. Provavelmente teria cãibra por ficar tanto tempo na mesma posição, mas não era como se ela fosse dar sinal algum de tudo aquilo, ou se tivesse tempo para chegar a tal sintoma.

Seu único foco era resistir. Fazia de tudo para impedir que a dor transparecesse - não deixaria aquele velho patético ganhar. Tinha que ignorar, e ignorava o frio que fazia naquele maldito galpão assim como fingia que os cortes e os roxos em sua pele não existiam. Sua recompensa era o semblante de Novak se contorcendo em raiva. Não pôde evitar sorrir, se arrependendo amargamente daquilo. Toda sua feição fisgou. Só que ainda assim, era satisfatório tirar o patife do sério. Uma tortura em conjunto, a diferença estava na visibilidade dos ferimentos.

- Não vou dizer mais nada - ralhou - ME DEIXE IR.

O velho arfou, passando a mão sobre o cabelo grisalho e olhando em volta, escorado na mesa de ferro impecavelmente limpa, talvez a única coisa limpa de todo aquele lugar imundo, além dos brinquedinhos que usava. Os itens pareciam não causar efeito na mulher, pelo menos não em sua coragem. Vários machos já abriram a boca por tão menos, mas Ruby tinha um ego forte, mesmo que já tivesse soltado algumas poucas coisas durante o tempo que esteve ali. As informações não eram o suficiente, o que deixava o mais velho cada vez com menos paciência para esperar a boa vontade da mulher para abrir o bico. Tiraria cada dente, um por um, se fosse necessário, pensou enquanto pegava o alicate ensanguentado.

- Você sabe que essa é uma escolha bem ruim, certo?

- Me manter aqui é uma escolha ruim, Novak - retrucou - Vou acabar com voc-

Guinchou de dor ao sentir o metal colidir fortemente em sua cabeça. Seus olhos pareciam entrar em tiques nervosos enquanto a sensação pesada envolvia todo o crânio, inibindo completamente a sensação do sangue escorrendo pelo couro cabeludo.

- Eu vou te destruir - sua voz era calma.

A mulher riu, tombando a cabeça para frente, não conseguindo sustentar o pescoço. O movimento machucava os pulmões e todo o resto daquilo que um dia chamou de corpo - que agora parecia mais uma carcaça à mercê de um alfa.

Edgar a fez olhar para frente, segurando-a pelos cabelos desgrenhados e sujos, ensebados pela falta de banho. Estava ali há 6 dias.

- Por que está atrás do meu filho?

O que divide nossos corpos? Talvez apenas a matéria orgânica que cerca nossos olhos. Uma fina camada de mortalidade, cujo final não é nada mais e nada menos do que nossa metamorfose, nos transformando em podridão. O que fazer durante a mortalidade para que a podridão não seja o pior dos fins? Ou melhor, o que fazer durante a mortalidade para que valha a pena apodrecer? Se para o fim é só o que há, o que fazer agora?

O fim parecia mais simples, na verdade - a matéria orgânica voltado à terra, as memórias, intactas, enterradas em um vazio profundo.

Enfiou a pá no solo úmido mais uma vez, respirando fundo antes de jogar a terra sobre o corpo. Via-se ali. O saco de plástico que o guardava permitia que fosse qualquer um.

- O que descobriu? - perguntou Winchester, apoiando-se no cabo.

Edgar voltou a ficar em postura ereta, alongando os músculos das costas enquanto controlava a respiração. Dean se perguntou se o alfa estava ainda mais perdido do que antes, considerando que parecia ter mais pontas soltas.

O que fazia não era fácil. Na verdade, tinha imensas complicações, como dar um tiro no escuro.

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⏰ Última atualização: Nov 20, 2019 ⏰

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