Cap 9

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Capítulo 9

Quando ele chegar me comparara a flores, usara os mais belos adjetivos para descrever minha beleza e terá em nossa família o orgulho de sua vida. Assim será, assim o espero todos os dias.
(diário de Helena, Londres, 1797)

Helena

Em minuto eu estava no céu e no instante seguinte, no inferno. Tudo por aquele homem, o responsável por minha ruína. Senti ódio de mim mesma por tudo que meu corpo havia sentido com seu toque. Os meus planos tinham se esvaído no instante em que seus lábios tocaram os meus. Não sobrou nada!
George roubou a minha vida, meus sonhos, e por fim a minha dignidade. Não tinha autocontrole, não tinha lógica, tudo virava vapor quando ele me tocou. Me senti uma idiota!
Esperava que quando estivesse em uma carruagem rumo às uma das suas casas de campo, depois que o tivesse envergonhado diante de toda uma Londres que julgava mais as pessoas pelo vestido que usava do que por seu caráter, pudesse me sentir melhor, só que era somente uma vespa, ou um cavalo adestrado.
Meu coração não parava de bater desesperadamente, imaginando a possibilidade de um filho nos meus braços. Sempre sonharam com uma família, mesmo que isso significasse ser esquecida, caluniada e jogada a margem da sociedade. De qualquer maneira, eu seria esquecida em breve e lembrada somente como a coitada da mulher do Duque de Misternham que doente foi abandonada pelo marido que vivia se exibindo as amantes na cidade. Com o tempo, meu nome seria esquecido e nem mais uma lembrança eu seria.
Se ao menos eu pudesse ter esse filho....
Puxei as cobertas, abraçando meu corpo. Eram tantos sentimentos, vazio, solidão, tristeza, vergonha...
Mas o sol nasceria, clareando meus pensamentos, me fazendo esquecer do seu toque que ainda queimava minha pele e dos seus beijos que o sabor se mantinham em meus lábios, e aí sim eu ergueria minha cabeça como em tantas vezes já havia feito e estaria pronta de novo, para a minha vingança.
Me lembrei das aulas que tinha com minha ama e das lições que aprendia sobre as guerras dos nossos antepassados. Em todas elas, mesmo não sendo mostrados nos livros, eu me atentava ao fato que só se vencia porque os inimigos não ficavam atentos o suficiente para as armas dos adversários, que as juntavam e chegavam com tudo. Naquela noite eu tinha descoberto uma nova arma que não sabia possuir até então. Ele me desejava. Eu usaria isso aí meu favor, afinal, George, era acima de tudo, até do ducado, era um libertino sem controle.
Esperava ser forte suficiente. Aquele homem não parecia ser páreo para ninguém. E para vencer essa batalha o principal seria proteger o maior tesouro em jogo: meu coração.
Adormeci, com a esperança de um novo dia. A esperança era algo que eu não poderia perder.
Quando o dia amanheceu, fui informada por uma criada que o meu desjejum seria juntamente com meu marido, que já me aguardava.
Agora não era mais prisioneira. Seria oficialmente apresentada como condessa daquela casa para os criados e outros hóspedes que pudessem se encontrar lá. Eu já tinha escutado que George tinha uma mãe e receava que ela não estava de férias ou em alguma casa de campo.
Me troquei lentamente. Deixá-lo esperando era algo que já me fazia feliz pela manhã. Fui acompanhada pela criada até a sala de jantar, já que porque devido às circunstâncias da minha indisposição dos últimos dias causada pela surra do meu pai, juntamente com a falta de afeto do meu marido, não me tinha sido apresentada a mansão ainda.
Todos os criados estavam em pé, ao lado da mesa e George se levantou quando me viu.
- Bom dia, minha lady.
Assenti, sem vontade de devolver o comprimento.
- Quero que conheçam a condessa de Misternham. A partir de hoje, as questões dessa casa estão sob suas ordens quando eu estiver ausente.
Todos fizeram uma reverência e foram dispensados, ficando somente dois que serviriam a refeição.
- Por favor, já podem chamar a minha mãe. - ele pediu.
Gelei com a menção. Já contava com essa possibilidade, no entanto, uma sogra nunca era algo agradável. Eu já tinha ouvido histórias apavorantes de como algumas dela infernizavam a vida de suas noras.
- Espero que esteja disposta está manhã. Quero que se reúna com minha mãe para uma tarde de chá e conversa.
A ideia me fez perder completamente meu apetite que era imenso pela manhã. Eu tinha mais esse adereço para minha longa lista de imperfeições da Helena. Minha mãe costumava dizer que eu me alimentava como um cavalheiro, nunca como uma dama.
- Receio que não tenha outra escolha. - falei, me servindo de um pouco de leite.
Esperava pelo menos que sua mãe chegasse logo e ele não tocasse no assunto da noite anterior. Receava que ele falasse sobre a possibilidade de ter me engravidando e não queria suas palavras cruéis sobre mim logo de manhã. Já que teria que tolerar uma sogra, que ao menos ela servisse para alguma coisa.
- Tenho negócios pendentes e estarei ausente por alguns dias!- comunicou. A ideia de que ele abandonaria a mulher um dia depois do casamento me trouxe um mal-estar, já prevendo que se encontraria com alguma amante.
As pessoas já falariam. Eu seria motivo de burburinhos por toda a Londres em breve.
- Na próxima semana, aceitei um convite para o baile da Condessa de Vinceza. Quero apresentá-la como minha condessa. Se precisar de alguma coisa para a festa, é só pedir para o lacaio chamar uma modista e....
Ele parou, olhando para a porta, onde uma mulher de aparência triunfante e poderosa entrara. Ela não olhou para o filho. Seus olhos se dispuseram a me avaliar, sem piscar. Fiz menção de levantar, não porque fosse ligada a cordialidades, mas porque estava com medo daquele olhar que era me dirigido. Era assassino e eu bem sabia o resultado daquilo; as cicatrizes do meu pai ainda marcavam meu corpo.
- Não se atreva! - George segurou meu braço, me contento.
Sem entender, me mantive no lugar, afinal a ordem do meu marido era a que importava.
Sem desviar os olhos de mim, ela caminhou até perto mesa, apoiando uma mão sobre a cadeira que estava na minha frente. Aí então ela olhou para George.
- Vejo que resolveu trazer suas prostitutas para casa e mantê-las até o café da manhã. Se seu pai fosse vivo, ele mandaria interná-lo em algum hospício. Você perdeu completamente a razão.
Se fosse qualquer outro homem estaria furioso e no mínimo, um homem na posição de George mandaria a mãe calar a boca. Mas ele sorria, parecia triunfante, extasiado até. Aquilo me irritou terrivelmente, porque eu poderia até ter uma longa lista de coisa que se encaixariam nos escândalos de Helena, mas eu não era prostituta e nem tinha aparência para tal.
Fiquei esperando que ele me defendesse, ordenasse que ela pedisse perdão. Ele namoro fez.
- Bom dia, mamãe. Sim, o café está particularmente doce está manhã! - falou ironicamente.
- Me recuso a sentar nessa mesa com suas concubinas, - dessa vez sua voz estava alterada - depois de anos fugindo das suas responsabilidades você volta e é isso que faz? Me envergonhar? Meu único filho?
De repente, alguma coisa mudou dentro do olhar dele. Os olhos que me encantaram desde o primeiro momento que os vi, perderam o brilho e se ascenderam em ódio.
George se levantou, jogando o garfo com tanta força em cima do prato, que esse se partiu ao meio.
- Se levante! - gritou, me dando uma ordem.
Não me atrevi a não obedecer. Por mais que quisesse gritar que ele não mandava em mim, não tinha esse direito. Ele era meu marido e mandava. Engoli o orgulho e me levantei, mas não antes de beber um último gole do meu leite. Eu tinha que provocá-lo.
Isso pareceu acender ainda mais sua fúria e o olhar que ele me desferiu, fez meus pelos se eriçarem.
- Olhe bem para essa mulher que você achou de ofender, - ele apontou o dedo para a mão, que não pareceria temer o filho e continuava com o queixo erguido o enfrentando - aprenda a respeitá-la, porque a parir de hoje ela é a nova dona desta casa, a quem você deve não só respeito, mas seguir suas ordens e caprichos. Conheça a nova Duquesa de Misternham.
Céus! Ele se casava e não contava para a própria mãe!
Ela olhou horrorizada e intercalou os olhares entre eu e ele.
- Está buscando saber seus títulos, quantas vezes ela já esteve com a rainha ou o quê?  - ele perguntou - ou talvez queira ir lá no seu quarto procurar pelo convite de casamento que não recebeu.
- Estou buscando compreender dentre todos os filhos que gerei e perdi, porque justamente você foi o escolhido para nascer.
Sem nenhuma outra palavra, até porque nada mais precisava ser dito, acredito eu, ela saiu.
Abaixei o olhar para mesa sem saber como agir. A cena tinha sido constrangedora, e acima de tudo ficará com pena daquele homem por ser desprezado pela mãe daquela forma. Eu sabia como era. Sabia muito bem!
- Você no meu escritório agora! - ele ordenou saindo.
O segui, afinal eu não sabia ainda onde era o escritório. Pretendia descobri quando ele se ausentasse nos próximos dias e eu fizesse a minha excursão pela mansão, juntamente com o meu plano para os escândalos no baile onde seria apresentada.
Se ele tinha uma mãe por quem nutria ódio, eu superaria a compaixão que senti minutos atrás, lembrando de como ele tinha destruído a minha vida. Ele teria uma mulher por quem ódio não seria a palavra ideal para descrever o sentimento. Nos livros os talvez não existisse tal termo. George seria enterrado na sua própria cova do casamento.

O dia em que te amei (degustação )Onde histórias criam vida. Descubra agora