Cap 6

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Capítulo 6

Um duque nunca perdia a compostura, nunca deveria mostrar suas fraquezas ou se acovardar. Isso está na sua essência. Na verdade, não como duque, como homem. Não importa as circunstâncias, sejam elas por uma mulher ou caso de vida ou morte. 

(Anotações de George, Paris, 1800)

George

Se eu realmente tinha um coração, ele quase parou quando Helena desfaleceu nos meus braços.
Desesperado bati no coche para que ele fosse mais rápido. Em poucos minutos estávamos em frente à mansão Hasprind.
Peguei-a nos meus braços e desci rapidamente. De olhos fechados, parecia um anjo, tão frágil.
Ignorei o pensamento, entrando como um furacão na casa.
Todos os criados me olharam com estranheza, sem entender.
- Busquem um médico, urgente. Vou acomodá-la no meu quarto. Preparem a banheira se for necessário e não avisem a minha mãe sobre a nova hóspede.
Meu desejo era esparramar na cara da minha mãe o meu casamento. Ela não tinha ideia de que tinha me casado, muito menos com Helena. No entanto, na atual circunstância, eu não precisava dela me atrapalhando ou fazendo cenas histéricas.
Subi as escadas, quase tropeçando nós próprios pés.
- Você não pode morrer agora, ninha duquesa. Não vou deixar.
Não era só um apelo, era uma promessa.
O sentimento de talvez perdê-la, trouxe um mal-estar que eu não entendia.
- Vamos, abra os olhos, Helena.
Depositei-a na cama. Tirei seus sapatos para deixá-la mais confortável. Não pude deixar de reparar nos seus dedos totalmente disformes. Sorri. Ela era um escândalo desde os pés.
Imaginei como seria beijar aqueles dedos. Eu a desejava.
Sem entender qual era o meu problema, por desejar uma mulher quase morta, peguei uma toalha umedecida que um dos empregados trouxera e coloquei sobre sua testa, na tentativa de diminuir a temperatura.
De onde vinha essa febre?
Desesperado, pedi que todos saíssem do quarto e comecei a tirar as camadas de vestido que a cobriam.
Deixando só com as roupas de baixo, notei horrorizado, várias marcas de sangue que faziam com que o tecido se grudasse ao seu corpo. O que acontecera? Como ela tinha se machucado daquela forma? Por que não dissera nada?
Meu Deus, ela estava toda ferida e não pude perceber nada. Me senti o pior dos homens imbecis.
À espera pelo médico foi uma angústia que nunca mais almejava sentir. Minha testa suava, como se a alta temperatura do seu corpo estivesse afetando todo o ambiente.
Escutei passos se apressando rapidamente.
- Ah, graças a Deus... - me levantei quando o médico abriu a porta do quarto - não sei o que houve, mas a lady está toda machucada.
Horrorizado, olhando Helena na cama, ele me crucificou com o olhar.
- Deveria ter considerado que as damas são frágeis, alteza! - falou em uma leve reverência.
- Ah não...eu nunca....eu...
Estava gaguejando, como um garoto covarde. O homem poderoso tinha se perdido complemente diante aquela dama.
Respirei fundo, me recompondo.
- Não lhe interessa como a dama se feriu. Faça com que ela se sinta melhor, agora, - falei rudemente - isto é uma ordem.
- Claro, alteza.
Desviei o olhar quando ele se aproximou, analisando as feridas por cima do tecido. Não sei se por odiar vê-la ferida ou os olhos de outro homem em cima da minha mulher.
Passei as mãos pelos cabelos, pedido. Todos os meus planos estavam fugindo do meu controle. Não era assim que seria. Eu levaria Helena para a cama, esqueceria de tudo naquele momento e faria sexo com ela, carnal, cheio de desejo e nada de amor. Depois apresentaria ela para minha mãe e compareceria a todos os malditos bailes e festas a que tinha sido convidado.
Envergonharia minha mãe de todas as formas e quando tivesse o suficiente da minha vingança, colocaria Helena em uma carruagem e mandaria ela para alguma casa de campo onde seria bem tratada e esquecida por mim.
O problema é que nada caminhava como planejado e aqueles olhos.
Após alguns instantes, o médico que nem me dei ao trabalho de saber o nome, resmungou me tirando do transe.
- Vou providenciar uma compressa com ervas que deve ser colocada sobre os ferimentos. Creio que será suficiente para diminuir a infecção e consequentemente a febre.
Assenti sem saber como agradecer. Percebi que só então voltei a respirar normalmente. Não tinha nada de anormal comigo. Só estava aliviado porque aquela mulher era minha responsabilidade e meu instrumento de vingança.
Só isso.
Nada mais que isso.
Aliviado pela constatação, sai do quarto dando ordens para que os criados seguissem todas as orientações dos médicos.
- Só me chamem quando ela acordar! - ordenei.
Fui para o meu quarto que ficava ao lado, olhando para a porta de comunicação que me ligava ao quarto de Helena. A frustração tomando conta do meu corpo, que exaurido pelo longo dia, esperava pelo alívio com a mulher que era minha por direito.
Mais frustrado ainda por perceber que o bem-estar dela me importava tanto.
Me servi de um gole de uísque e esperei. Eu não sei se entraria mais naquele quarto. Pediria que me dessem noticia e manteria distância.
Aquela mulher estava me afetando. Isso era inadmissível.
A distância seria a forma ideal para esfriar todas as coisas do meu corpo.
Assim como o restante do dia, a noite foi infernal. Trancado no meu quarto, recebia notícias de hora em hora. O sono que nunca era um bom amigo, decidiu se esvair por completo.
Quando os primeiros raios de sol adentraram a janela, levantei como um furacão. Irritado e frustrado.
Chamei uma das serviçais que cuidaram de Helena, para saber as ultimas notícias.
- A lady está melhor, um pouco indisposta, mas sem febre. O chá foi servido no quarto e ela disse que aguarda o senhor.
- E minha mãe? - perguntei preocupado.
- Como foi ordenado, ela não sabe da nova hóspede e o está à espera do senhor para o desjejum da manhã.
- Obrigado. Pode se retirar.
Depois de uma pequena mensura, fui deixado a sós com meus pensamentos.
O que ela deseja falar comigo? Eu sim, tinha coisas a lhe dizer.
Apressadamente fui até o seu quarto; entrando sem bater ou ser anunciado.
- Bom dia, - falei tentando não me comover com sua aparência pálida e apática - espero que esteja se sentindo melhor.
Sentada na beirada da cama, vestindo um simples vestido verde rendado, sua beleza impressionava, mesmo na atual condição.
- Gostaria de me desculpar, meu senhor, - ela levou a xícara de chá até a boca, tentado esconder seu constrangimento que não passou despercebida - nunca mais vai se repetir. Até a noite devo estar melhor para cumprir com meus deveres.
- Eu sei que está ansiosa, - brinquei tentando ser simpático, antes do que viria a seguir - mas a quero bem recuperada. Não tenho pressa. - completei obviamente mentindo. Eu tinha pressa.
Suas bochechas se coraram, a deixam mais linda, se é que isso era possível.
- Helena, quero que me diga como se machucou desta forma.
Depositando a xícara de volta na bandeja, seus dedos se cruzaram e ela começou a os apertar em sinal de nervosismo.
- Já estou bem. Isso que importa.
- Eu lhe fiz uma pergunta. E minhas perguntas são ordens! - exclamei rudemente.
Ela abaixou o olhar, me deixando ver rapidamente como as palavras a magoaram.
- Desobedeci meu pai e fui punida.
A ira tomou conta do meu ser e precisei me controlar para não quebrar a primeira coisa que encontrasse pela frente. Maldita sociedade hipócrita.
- A partir de hoje, o está proibida de visitar sua família e eles só entram nessa casa sob minha ordem. Entendido?
Seus olhos se levantaram, cruzando com os meus. Jurei ver fogo dentro deles.
- Você não é meu dono.
- Sim, querida. Sou seu dono.
- Eu não sou sua querida. Sou sua nova égua que você adquiriu. Satisfeito?
Sei tom de voz era ameaçador e isso a deixava maravilhosa. A vontade de beijar aqueles lábios me fez esquecer por um minuto qual era o seu papel na minha vida.
- Ficarei satisfeito quando você se comparar como um bom e adestrado cavalo. E quando cumprir seu dever de esposa.
Sai do quarto sem olhar para trás, ou acabaria agarrando aquela mulher naquelas condições. Inferno!

O dia em que te amei (degustação )Onde histórias criam vida. Descubra agora