Cap 3

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Capítulo 3

Se perder os sonhos, perdeu a vida. Precisa-se deles para acordar todos os dias e ter uma razão para lutar. Deus, não me faça esquecer os meus pelos caminhos...

(diário de Helena, Londres, 1801)

Helena

Sem conseguir me mexer, fiquei jogada na cama, esperando ao menos uma criada para me socorrer.
Ele não tinha machucado meu rosto. O bom e digno Marques como todos diziam, sabia que precisava de um belo rosto para manter o casamento. Já o restante do meu corpo estava marcado. Sangue espalhado por todo o lençol que eu nem tinha consciência de onde surgia.
Meu corpo não importava, já que eu serviria só por uma noite. Fiquei aterrorizada com a lembrança.
Nunca me esqueceria do dia em uma das minhas amigas chegou chorando no meu quarto depois do casamento e contou a dor que sentiu, a humilhação e os tapas no rosto que levou do marido quando reclamou.
Isso não era amor. Não era assim que eu sonhava.
Sonhos? Eu tinha bastante, minha mente vivia recheada deles.
Agora, estava impossibilitada de fugir esperando o meu destino final.
Ficava variando na cama, lembrando do que aconteceu e do que viria. Nem assim me permiti chorar.
Depois disso apaguei.

~~~

- Vamos ter que colocá-la na banheira com ervas e sais. Ou então quando o duque chegar não terá noiva para levar! - escutei falando ao longe.
Demorei para me lembrar de tudo que tinha acontecido. Abri os olhos lentamente.
Minha mãe e mais duas criadas preparavam a banheira.
Meu corpo estava moído. Eu não saberia dizer onde não doía. Já meu coração, estava em pedaços. Eu tinha perdido meus sonhos e eles eram tudo que me restava.
- Você acordou. Tente se levantar, Helena! - minha mãe pediu, se aproximando do meu campo de visão.
- Não consigo. - sussurrei.
- Seu pai vai vir aqui se você não se apresentar na sala em uma hora.
- O que ele pode fazer, mãe? Me matar? Eu acho um destino muito mais digno para minha vida.
- Mulheres não podem ter dignidade diante dos seus donos... - ela respondeu com orgulho.
- Eu não tenho dono. Não sou um objeto! - falei com a força que me restava.
- Andem, me ajudem a colocá-la na banheira. Se não por conta própria, vai ser a força.
Como um vegetal, deixei que terminassem de tirar minha roupa. Apoiando em meus braços, as três me arrastaram até a banheira.
Quando a água salgada entrou em contato com meus ferimentos, gemi. Ninguém pareceu se importar. Estavam todos ocupados demais correndo contra o tempo. Tinha um duque me esperando. E ele era considerado um Deus.
O odiei. Muito mais que a meu pai, porque ele foi o responsável por acabar com tudo na minha vida. Meu pai era o meio para isso, mas ele mostrou o caminho para meu fim.
Eu o odiaria enquanto meu coração batesse. Eu faria questão de me lembrar a cada batida do meu coração, que eu precisava odiá-lo.
Ele estava roubando tudo que ainda me restava. Eu faria de tudo para envergonhá-lo quando pudesse, acabar com aquela postura prepotente, destruir sua reputação.
Quando me tiraram do banho e me vestiram de seda para cobrir toda a sujeira por baixo do meu corpo, deixada por meu pai, eu tinha um novo propósito na vida.
Eu estava no inferno e levaria o Duque de Misternham comigo.
Minha tarefa seria fazer ele odiar a si mesmo por um dia ter me escolhido. Fosse qual o motivo que ele tivesse para isso, ele se odiaria por um dia ter me conhecido!

O dia em que te amei (degustação )Onde histórias criam vida. Descubra agora