Cap 10

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Capítulo 10

Tenha negócios e mais negócios. Cuide das propriedades e adquira riquezas. Já mulheres colecione noites que serão esquecidas pela manhã. O que importa são momentos de prazer. Nunca adquira amores. Isso e a ruína de um homem.
(Anotações de George, Nova York, 1800)

George

Ela se superava! Sempre!
Como era capaz de dizer que só tinha um filho? Falar aquelas palavras debaixo do meu teto, o mesmo que a alimentava, que sustentava seus luxos? Eu poderia isolá-la em uma das nossas casas de campo e privá-la da vida social que ela tanto priorizava. Ou mesmo jogá-la na rua da amargura como ela tinha feito com Susan, porque esse sim era o destino que ela merecia depois que o duque tinha morrido. Só não o fazia porque eu era um homem que meu pai não foi, não a exilava, pois meus planos de vingança não eram pobres como aqueles. Isso seria pouco pelo que ela fizera com minha irmã. Se Susan estivesse morta, balancei a cabeça incapaz de pensar nisso; a vida miserável de isolamento não seria suficiente para mãe. Eu queria ela humilhada perante Londres.
Olhei para trás e vi Helena parada me olhando, confusa. Ela era a chave para isso.
Mas tinha algo errado com aquela mulher. Se fosse qualquer outra que tivesse presenciado a cena minutos antes estaria à beira de um ataque de lágrimas no mínimo, tremendo ou algo assim. Ela não! Me olhava, com curiosidade, analisando, com as sobrancelhas arqueadas, os lábios carnudos que me davam constantemente vontade de beijar, me fazendo lembrar da noite anterior que não saia da minha mente, estavam semi-abertos, como se ela quisesse perguntar muitas coisas e eu cheguei a me perguntar, se tinha feito a escolha correta.
- Sente-se. - ordenei, apontando para a cadeira que o diva que era uma das poucas heranças que mantinha do escritório do meu pai.
- Estou bem em pé. - ela garantiu, me desobedecendo, me lembrando mais uma vez, como poderia de perigosa.
- Não foi um convite! - acrescentei, fazendo-a se lembrar do seu papel ali.
Ela fez uma pequena reverência, abrindo um sorriso irônico.
- Claro, meu Lord. - e obedeceu.
Até o sentar não era gracioso. Ela não era delicada. Seus gestos eram extravagantes em excesso e isso ao invés de deixá-la deselegante como talvez todas a mulheres de Londres classificariam, deixavam ela única, exótica.
Me perguntei como uma mulher como ela foi ignorada em três temporadas. Muito provavelmente porque todos os homens enxergavam o perigo por trás daqueles olhos. Quando se buscava por uma esposa na alta sociedade londrina, só se queria mulheres com belos sorrisos que cuidariam do lar e dos filhos. Nunca mulheres que se interessariam por política, ou ousariam desafiar seus maridos com um simples não. Helena ousava até no olhar. Sorte minha que eu estava calejado pela vida. Porém precisa terminar logo tudo aquilo e enviá-la o mais longe possível. Definitivamente ela era perigosa.
- Precisa ficar a par de algumas coisas na minha ausência, Helena! - falei enquanto fechava a porta. Não queria minha mãe escutando por infortúnio a nossa conversa. Ela era capaz de tudo - Primeiro quero lembrá-la de que sua família não é bem-vinda na minha residência. Espero que tenha compreendido.
- Sim, sempre, como um bom cavalo adestrado. - respondeu.
Pisquei algumas vezes para não fazer duas coisas. Primeiro dar umas boas palmadas que era o que Helena merecia. Depois beijá-la, por sua audácia.
- Acontece, - disse, esfregando uma palma na outra, me contendo - que como não é um égua, não posso amarrá-la, o que seria ideal na minha ausência.
Abri um sorriso ao vê-la arregalar os olhos. Dessa vez, ela parecia enfim assustada.
- Mas espero que se comporte bem e siga as minhas ordens, como uma boa esposa. Também espero de você que cuide do castelo como uma lady e tome as rédeas não deixando isso para minha mãe. Tem a permissão para fazer da vida dela um inferno! - falei com um sorriso no rosto.
O olhar assustado tinha assumido um sapeca desta vez e como uma criança arteira, ela abriu um sorriso de canto de boca. E tudo que consegui pensar foi em vê-la sem roupa. Deus, qual era o meu problema? O principal motivo em me ausentar na próxima semana era para procurar algumas amantes. Sabia que perdia o controle completamente perto dela e tinha consciência disso. Precisava buscar os últimos resquícios da minha calma e depois voltaria para casa, já vendo-a ali, naquele divã, só me fazia imaginar uma pintura dela, perfeita, nua e depois meu corpo sobre o seu.
Tinha algo errado comigo. Sempre fui um libertino. Nunca normal, nem sempre perfeito. No entanto, o meu maior orgulho e minha maior proeza foi a arte de nunca desejar a mesma mulher duas vezes. Isso fez com que nunca me apaixonasse.
Helena, Helena, você era perigosa! Talvez feiticeira. Tinha escutado falar que em alguns lugares se praticavam feitiçaria entre mulheres. Olhei ressabiado para ela.
- Isso incluído que tipo de condutas para com sua mãe? - ela me perguntou atraída pela ideia.
- Todas que mantenham suas vidas.
Não me passou despercebido quando ela apertou as mãos, tentado conter suas palmas. Precisei conter uma gargalhada.
- Só se comunique comigo em casos de estrema urgência. Um lacaio estará à disposição para entregar as cartas e sabe onde me encontrar! - acrescentei.
Quando disse isso, algo se entristeceu em seu olhar. As mulheres sempre sabiam que quando seus maridos as deixavam logo após o casamento, saiam a procura de amantes. Me senti mal por seu olhar. Por mais que tenha sido um cafajeste durante toda a vida, nunca tive uma mulher é isso me fez lembrar de Susan. Odiaria que um homem a magoasse dassa maneira. Me senti sujo naquele momento.
Aproveitaria minha ida até a cidade para buscar informações sobre sua busca.
- Não acha cedo para se ausentar do castelo? As pessoas irão comentar - ela comentou, dessa vez com certo receio, olhando para as próprias mãos, que mantinha entrelaçadas no colo.
Odiando o que faria a seguir, odiando o homem que havia me tornado, mas sabendo que era necessário cortar todos os laços de afeto que nos unia, respirei fundo e o fiz.
- Nunca mais questione os meus atos, - me levantei, para não ficar frente a frente com seus olhos e não ter que ver o seu sofrimento - eu não sei que tipo de educação teve, Helena, mas aqui eu dou ordens e você acata. Ou então, antes mesmo de saber se tem um filho no seu ventre, está em um a carruagem bem longe daqui. Entendeu?
Ela assentiu, sem me olhar.
- Responda! - falei rudemente.
Ela era orgulhosa demais. Muito mais do que eu imaginava. Se levantando, sem se abater, ela olhou nos meus olhos.
- Perfeitamente - respondeu. Tinha ódio nas palavras cuspidas.
- Que bom! - acrescentei.
- Posso me retirar? - pediu.
Assenti.
Quando ela colocou as mãos na maçaneta, já de costas, falei:
- Helena, - ela me olhou, com ira, o que fazia seus olhos adquirirem uma cor âmbar nas laterais, misturado com o azul. Era magnífico - quando eu retornar, vou cobrar a aposta. Não esqueci dos seus gemidos na noite passada.
Abaixei os olhos e vi seus punhos se fecharem.
- Como quiser. Sem descumprir suas ordens. Só o lembrando que fica enojado de possuir uma mesma mulher na sua cama duas vezes! - rebateu.
- Eu tinha sugerido o meu tapete persa. Mas você me deu ideias melhores está manhã. Será neste divã.
Então, inesperadamente e ele nem sabia onde ela poderia ter escutado aquilo, Helena disse um palavrão. Ele jurou a sim mesmo que ela nem deveria saber o significado daquilo ou nem teria dito. Ou, no mínimo, teria ficado corada como qualquer mulher do planeta ficaria. Mas ela continuava me encarando, ferozmente.
E eles me enlouqueceu de desejo. E a única certeza que teve foi de que sim, ela era uma bruxinha que deixaria minha vida de cabeça para baixo. 
E para completar tudo, lhe deu as costas sem sua permissão. Mas não antes que ele segurasse os seus braços, evitando que ela o desrespeitasse dessa forma.
- Já andou a cavalo? - perguntou, antes que fosse ele que soltasse um palavrão.
- Não! - Helena respondeu, o encarando novamente.
- Será outra coisa que faremos quando eu voltar. Vou trazer um cavalo puro sangue inglês Oregon, de valor inestimável. Você vai ver como se comporta um que carrega o seu título e o seu valor. Quem sabe assim consiga se espelhar nele.
As palavras eram duras. Eu estava com raiva por tudo que ela despertava em mim. Nenhuma mulher tinha esse direito e esse poder. Eu não deixaria.
Me aproximei dos seus lábios, provando a mim mesmo que poderia ficar perto e não sentir nada. Como qualquer outra mulher, ela seria descartada em breve.
Então, ela arfou. Sua boca estava entreaberta para me receber. E o seu perfume era perfeito.
Seu corpo foi ao encontro do dela, porque se encaixa perfeitamente. Ela estava surpresa, tanto quanto ele, mas o recebeu, quando seus lábios o tocaram e não fez nenhum movimento para se soltar.
Em resposta, soltou um gemido quando a língua dele invadiu sua boca, sem reservas, parecendo um selvagem que nunca tinha beijado uma mulher na vida. Tinha gosto de mel, tinha gosto de pureza, de desejo, de pecado, de tudo! Tinha gosto de tudo que era bom!
- Você é um perigo, - sussurrei no ouvido dela - Vá embora! - pedi, soltando seus braços. Na verdade, implorei, vendo ela se soltar dos meus braços e correr, me deixando frustrado.
Se eu tivesse ficado mais um minutos com ela nos meus braços, teria perdido o controle e outra vez, a vingança seria esquecida, outra vez Susan teria sido esquecida e Helena teria acesso livre ao meu coração. Aquilo tinha que acabar.
Fui até a gaveta, juntei minhas coisas e parti atrás das mulheres que sempre me foram suficientes, porque Helena nunca seria. Tinha algo nela que nunca me satisfaria. Era como um abismo que eu me permitisse afundar, nunca mais sairia de lá.

O dia em que te amei (degustação )Onde histórias criam vida. Descubra agora