Era a quarta noite que acordava, em um misto de susto e fascinação, por conta de um sonho que tive. O sonho se passava em algum castelo europeu — a cidade? Não me lembro bem. Apenas tenho a vasta sensação de estar em alguma região da Europa. Os tijolos eram marcados pelas flechadas, marcas de uma guerra vencida recentemente; mas isso não deixava o castelo menos bonito. O deixava com um ar superior, além de transbordar riquezas. Lembro-me de ver ouro por todas as partes, inclusive nos quadros do rei — o qual nenhum historiador sequer ouviu falar.
Tinha algo diferente naquele lugar. Não eram os minérios, ou a água cristalina. O vento dançante, muito menos. Será que seriam as plantações de uvas? Ah, aquela plantação. Facilmente você se perde lá. É necessário andar a cavalo pelas uvas. Talvez o fato de as estrelas caírem no mar quando anoitece, tenha me chamado atenção. Algo que me prendeu àquele sonho foi além disso tudo: era um sentimento. Um sentimento que eu nunca havia tido. Meu coração parecia finalmente preenchido, o vazio inconstante que eu sentia desapareceu por um simples imaginar. Eu queria voltar para esse mundo sempre que eu dormia. Mas não era sempre que eu era capaz de me encontrar com a suposta Europa.
Era como se eu precisasse me conectar com aquele mundo, como se ele fosse real.
Houve uma vez, em que eu acordei em um campo: grama alta, alguns dente-de-leão em volta, camponeses colhendo repolho mais para frente e crianças brincando próximas ao lago. Qualquer adulto pensaria que seria perigoso deixar as crianças perto da água: jacarés, crocodilos, piranhas... Mas esse lago era diferente. Não havia ameaças. Aliás, a ameaça ali não eram os animais aquáticos. Eram os homens — esses que vinham em bandos, assorear as pequenas vilas que ficavam longe das proximidades do castelo.Outra vez eu tive a sensação de estar no mesmo local. Desta vez, me encontrava dentro do castelo. Eu não era um convidado indesejado lá dentro. As empregadas e mordomos me adoravam. Diziam coisas como "Você tem a silhueta elegante" ou "É tão bonito quanto as donzelas da Capital". Claro, eu sempre ria com o último comentário. Chae Hyungwon não é bonito. Eu sou apenas... mais um.
Mas naquele mundo, eu não era só mais um. Não consigo explicar, apenas sentir: eu era amado. Não somente pelos empregados e serviçais, mas também por alguém em especial: mas eu nunca me lembro de seu rosto ou nome. E isso me deixa angustiado.
Dizem que você sonha com alguém que já viu pelo menos uma vez na vida. Isso me incomoda. Eu já vi todas aquelas pessoas? Mas eu não me lembro.
Que dilema, hm?Lembro-me da segunda vez que sonhei com a tal Europa: um garoto brincava de pega-pega com Changkyun — meu melhor amigo — no jardim. Changkyun não se incomodava nenhum pouco com o garoto, pelo contrário: o adorava. Eu podia ler isso em seus olhos.
Eu me encontrava sentado em um dos diversos bancos de madeira — que em sua maioria eram cobertos de flores — com um cão aos meus pés e um homem ao meu lado. E eu parecia realmente confortável. Parecia que eu realmente pertencia àquele cenário.Porém, nem tudo que é bom, dura muito.
Nessa noite, o castelo pegou fogo. Todos conseguiram se salvar, com minha ajuda inclusive. Talvez eu tenha tido esse sonho pelo o que passei no dia: muito estresse, provas e uma criaturinha insistindo em conversar comigo.
Eu nunca fui muito de conversas. Ainda mais se a conversa envolvesse assuntos fúteis, como era a da criatura que eu tanto evitava: Yoonho. Ele só sabe falar de caras bonitos, reclama dos professores do colégio e ainda me importuna quando leio durante o intervalo. Certo, Chae Hyungwon é um cético que só vê os próprios livros e contos romancistas. Bem no fundo, mas bem no fundo mesmo, eu já tenha me conformado de que tais sonhos que tenho tido estejam relacionados com minha vontade de querer morar em um local diferente.Seoul é ótima. Anorexia por aqui, bulimia por ali, esteriótipos por lá. Todos em busca de um corpo perfeito. Beleza não é tudo no planeta, embora muitos pensem assim e acabem não se aceitando. Contudo, esse não é o estilo de vida que quero para mim. Minha mãe me chama de "brega" pois eu sonho em conhecer alguém que me ame pelo o que eu sou. Ou seja: esperarei sentado e eternamente.
Tirando essa sequidão mental dos habitantes de Seoul, a cidade realmente é agradável. Só que isso não me impede de querer sair.
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BLUME 「 2Won 」
FanfictionHyungwon é um amante de contos romancistas, só nunca pensou viver um. Em uma tarde, um garoto - um tanto peculiar - invade sua escola e congela o tempo, deixando apenas os dois hábeis ao movimento. Então, o garoto peculiar - trajado com roupas de é...