Prólogo

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"Agora estou diante de vocês. Não mais filha de rei, não mais mulher de um homem, não mais irmã de um irmão. Um fio solto no tempo, assim morremos todos iguais. Não importa em que casa nascemos, que roupas usamos. Se ficamos pouco ou muito tempo. Sozinhos tecemos nossos destinos, esticando as mãos ou batendo. Nosso fim é o mesmo, aqueles que foram já nos esqueceram, não nos julgam. Na morte e na vida estamos sozinhos. E meu único juiz sou eu."
(Shakespeare)

Um fio solto no tempo. Isso era tudo que ele podia compreender sobre si mesmo.

Forçado a escolher lados impossíveis em uma batalha baseada no poder, mas também na fé acabou por descobrir - através do lento passar dos anos - que nenhuma derrota era definitiva e nenhuma vitória poderia ser necessariamente correta. Luz e trevas já não faziam sentido, ainda que suas roupas fossem sempre negras e a luz jamais uma opção, permanecia em águas sempre profundas afogado pelos seus próprios segredos. O tempo é algo essencialmente cruel e Ben Solo com seus vinte e nove anos compreendia agora mais do que nunca que se dedicara por dez anos a causa dos Cavaleiros de Ren em uma tentativa cega de encontrar a vitória perante um adversário imbatível. O tempo era sempre vitorioso, a morte sempre uma companheira e não se pode quebrar o fio vermelho do destino que guia os homens por caminhos cruéis, improváveis e por vezes aterrorizantes. O tempo vence todas as batalhas e derrota sempre todos os seus adversários humilhando qualquer um que, ao menos, se esforça em ultrapassa-lo na corrida infinita que segue adiante; sempre a frente jamais em retorno.

Ben Solo sabia que o tempo da batalha que mudaria tudo estava chegando e não haveria nenhuma vitória e nenhuma derrota, apenas haveria o tempo.

Talvez, por ter certeza que o inimigo imbatível teria sempre a vitória ele se mantivesse agora em meditação na floresta mais próxima da gigantesca propriedade do clã Ren. Era fácil permanecer na solidão e no silêncio pelas primeiras horas da manhã já que era, finalmente, o líder dos Cavaleiros de Ren e embora o nome atribuído tenha sido Kylo ele sabia em seu âmago que Ben Solo ainda existia. Ben Solo: o filho e herdeiro de uma longa dinastia de apoiadores do trono inglês na Escócia. A ironia estava exatamente no fato de dez anos antes ter decidido se juntar a causa escocesa para a libertação, uma batalha impossível que cada vez mais parecia se aproximar da vitória ao operar secretamente nas sombras. Kylo Ren sabia que a batalha era muito maior do que aquela pelo trono escocês, era uma chance de mudar a história.

Porque ele sabia como líder dos Cavaleiros de Ren que um dia a humanidade viveria em um mundo no qual os escoceses perderiam essa batalha, contudo a missão impossível dos Cavaleiros de Ren era operar nas sombras e mudar o curso dessa história. E mais uma vez, como muitas vezes antes, o tempo seria alterado. Não se pode derrotar o tempo, não se pode vencer o medo, mas sempre é possível desafia-lo e embora o fio do destino não se quebre ele se flexibiliza e ganha novas possibilidades. A guerra contra o tempo era sempre uma batalha perdida e ainda assim muitas vezes antes fora travada. Agora sabiam que não deveriam derrotar o tempo e sim operar junto a ele;  caso obtivessem sucesso mudando o curso de um fato histórico tão grande poderiam -talvez - conseguir o impossível: um mundo livre dos fios inquebráveis do destino.

A meditação continuava para Kylo Ren com alguma tranquilidade até finalmente, ao longe, o barulho dos tiros ecoarem assustando os pássaros no topo das árvores. O Cavaleiro abriu os olhos, se colocou de pé e soube imediatamente que era outro patrulhamento da guarda inglesa na propriedade. A Escócia pertencia inevitavelmente aos ingleses e os Stewart ao perderam o trono - rápido demais - anos antes haviam deixado uma leva de agricultores, camponeses, clãs e nacionalistas indignados com a posse inglesa sob o território. A violência ainda era grande, os patrulhamentos aconteciam constantemente nas propriedades, contudo o momento de lutar não havia chegado ainda. A batalha seria travada na luz e não mais nas sombras em breve e enquanto o momento não chegava o clã Ren se mantinha cooperativo e aceitava a presença inglesa de bom grado nas imediações da propriedade.

Um Fio Solto no Tempo Onde histórias criam vida. Descubra agora