capítulo 2.

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Garotas sujas.
1991

⠀⠀O calor e o Sol fazem um dia na vida dos moradores de Derry mais animado. Seria um dia de compras na parte central da cidade, dia de levar as crianças para brincar na pracinha, tomar banho de sol, tomar um sorvete, dentro de outras milhares de coisas que serão possíveis acontecer no dia de hoje na cidade. Para os alunos da Derry High School não seria diferente.
⠀⠀A sirene toca indicando o início do intervalo, os garotos Richie, Eddie e Bill saem da sala com dificuldade quase não conseguindo passar todos de uma só vez. Eles dirigem-se a sala de Stanley, localizada do outro lado do corredor. Passavam tão distraídos por toda aquela muvuca formada de alunos desesperados por liberdade da sala de aula que não notaram Henry Bowers, o maior valentão, observando-os, preparando-se para um possível ataque de bullying contra os meninos.
⠀⠀Chegando na sala de Stanley, eles se juntam ao amigo e cumprimentam-se coletivamente e rapidamente, sem atrapalhar as pessoas e também não mantendo muito contato físico um com os outros.
⠀⠀— O que v-vo-vocês acham de ir no cinema hoje? — Pergunta Bill tentando observar a reação de cada um de seus amigos.
⠀⠀— E tem algum filme que preste em cartaz? — Pergunta Richie ajeitando o óculos em seu rosto.
⠀⠀— E-eu não sei. — Bill responde dando os ombros. Finalmente os rapazes estavam livres dos corredores cheios de adolescentes desesperados pelo ar livre. Eles sentam-se na grama do pátio, com a coluna e os ombros relaxados, cada deles um suspirando em alívio.
⠀⠀— Ei! — Stanley os chama e assim todos os demais o encaram.
⠀⠀— Vocês viram a garota nova? — Pergunta ele fitando cada um dos meninos. Bill e Eddie balançaram a cabeça negativamente enquanto Richie dava os ombros.
⠀⠀— Ela é gostosa? — Uris revira os olhos com a frase de Tozier que sorri malicioso.
⠀⠀ — Sei lá, ela está bem ali. — Stan aponta para a garota. Ela encontrava-se sozinha sentada na grama com um livro em mãos, totalmente dispersa de toda a bagunça e de todos os maldosos comentários a sua volta.
⠀⠀— Ela mora no final da minha rua. — Diz Richie ajeitando novamente os óculos.
⠀⠀— Se-s-sério?
⠀⠀— Sim. — Tozier encarou mais uma vez a menina e lembrou-se de tê-la visto saindo da última casa de sua rua. Ela despedia-se de uma mulher mais velha, deduziu Richie ser sua mãe. A novata parecia ser misteriosa, usava roupas escuras, cabelos de mesma cor de suas vestes e uma sutileza no rosto, um olhar marcante sem nenhuma candura.
⠀⠀— Chamam ela de vadia louca. - Stanley diz ainda observando a novata. Todos estranharam, a cidade era pequena mas os garotos não sabiam absolutamente nada sobre ela ainda, nada além de que ela morava próxima a Richie. A garota quieta não aparentava nada de vadia e muito menos louca.
⠀⠀— Po-po-por que chamam ela assim? — Pergunta Bill enquanto todos observam ele falar e em seguida levam sua atenção a Stanley, esperando uma resposta.
⠀⠀— Ela é da minha classe e estão falando que onde ela morava, ela teve uns sete namorados e que terminava com todos eles e se fazia de vítima. Ouvi também que ela seduzia os homens e depois do ato ela sempre dizia que foi...bom, é pesado a palavra mas vocês sabem o que é.
⠀⠀— Será que ela tem sífilis? — Interrompe Richie levando seu olhar aos meninos que deram os ombros.
⠀⠀— O que é sífilis? — Pergunta Eddie com uma expressão confusa no rosto.
⠀⠀— Sífilis é uma doença que se pega fodendo. Você sabe o que é foder, não sabe Eds? — Responde Tozier, colocando o braço sobre o ombro do mais baixo, zombando dele com o apelido que ele menos gostava. Claro que depois de Eddie Espaguete.
⠀⠀— Preferia não saber o que é foder, Richie. — Tozier gargalha do amigo que o olha com uma cara feia.
⠀⠀— Mas po-podem ser apenas b-b-boatos. Lembram do que diziam sobre a Bev? — Stanley concorda com a frase do amigo já que nem tudo o que os alunos espalham naquela escola era verdade, maioria não era. Bill não acreditara em nenhuma das histórias que acabara de ouvir.
⠀⠀A sirene novamente toca, quase ensurdecendo as pessoas que encontravam-se por perto da escola. Os garotos bufaram ao perceber que seria o fim da liberdade deles e eles voltariam ao sufoco e ao tédio das aulas.
⠀⠀— Vamos no cinema depois da aula? — Pergunta Stan alinhando as alças da mochila ao seu ombro.
⠀⠀— O que vo-vo-vocês acham? — Pergunta Bill olhando para Eddie que simplesmente o vislumbra sem resposta concreta.
⠀⠀— Tá calor pra cacete, deveríamos ir para a pedreira. — Sugere Tozier que recebe apoio de Bill.
⠀⠀— Pedreira então? — Questiona Bill pela última vez antes do grupo se dividir novamente para entrar em suas devidas salas. Os demais meninos concordaram com um balançar de cabeça e então, foi decidido que a pedreira seria o lugar onde eles passariam a tarde.

***

⠀⠀Astrid se esforça para passar por toda a multidão que estava se acumulando nos corredores, ela poderia até perder a noção da onde era sua sala por haver tantas pessoas, em um lugar tão pequeno. A garota resmunga enquanto tenta com dificuldade alcançar seu destino, o armário. Assim que o vê, suspira aliviada, aquilo era uma benção. Ostberg troca alguns livros e cadernos de dentro de sua mochila por outros de acordo com as próximas aulas.
⠀⠀— VOCÊ É UM LIXO! — Greta berra saindo do sanitário feminino, fazendo todos do corredor a fitarem sem compreender nada. Ela e suas amigas saem rindo com um ego tão inflado que poderiam explodir. Logo após a cena, Beverly Marsh saiu do banheiro com um olhar triste, procurando por sua sala de aula. A ruiva revira os olhos e passa por Astrid sem olhar para trás.
⠀⠀Astrid não podia deixar de observar Beverly, ela era radiante, linda. O contraste do cabelo cor de fogo com os olhos azuis e sua pele clara era uma bela combinação, mas as pessoas tinham nojo de Marsh por conta dos boatos que era espalhados. Eles nunca percebiam sua beleza.
⠀⠀A novata fecha o armário dirigindo-se até a sala de aula, distraída acaba levemente batendo seu braço em alguém e em seguida, vislumbra o dono do braço:
⠀⠀— Foi mal. — Sussura a garota quase em um som inaudível.
⠀⠀— Me de-desculpe. — Bill diz rapidamente, gaguejando mais do que o usual mas ainda se esforçando para terminar a simples frase.
⠀⠀— Tudo bem. — Diz Astrid tímida, praticamente correndo para sua sala. Lá ela depara-se com um pesadelo. Todas as classes ocupadas.
⠀⠀" Que merda" pensa a garota. Teria de haver algum lugar vago nessa sala, a quantia de mesas e cadeiras é certa para a turma. A morena anda devagar pelo local recebendo olhares de desprezo pelos colegas, o que a faz sentir uma enorme dor e culpa pelos malditos boatos. Ela acreditava ser culpa dela por se espalhar tantas coisas feias a seu respeito, ela se culpava por acharem que ela é uma garota suja.
⠀⠀Astrid aperta os olhos segurando a vontade de chorar e segue caçando seu lugar na sala. O único lugar vago era do lado de Bev, que a olhou sem desprezo nenhum e sim talvez tristeza, pelas palavras que Greta lhe disse mais cedo.
⠀⠀— Posso sentar aqui? — Pergunta Astrid e Beverly a olha confusa.
⠀⠀— Olha, eu até fico feliz que você sente aqui mas não acho que gostaria de sentar-se do meu lado. — Diz Beverly como se não fosse óbvio o porquê a novata não deveria se meter com ela.
⠀⠀— Por que eu não gostaria? — Pergunta Astrid sentando-se ao lado de Marsh, colocando sua mochila na guarda da cadeira e levando seu olhar a ruiva.
⠀⠀— Porque...
⠀⠀— Eu não acredito em boatos. — Astrid interrompe antes mesmo que a garota possa argumentar. Bev sorri fraco e sem jeito, enquanto observa a morena retirar seus materiais escolares da mochila e se preparar atentamente para o início da aula.
⠀⠀— Qual seu nome?
⠀⠀— Astrid e o seu?
⠀⠀— Beverly, Beverly Marsh. — Bev estende a mão para a novata, que a aperta sem hesitar e ambas sorriem uma para a outra em sequência.
⠀⠀— Então Beverly, não acredite em nada que dizem sobre mim nessa escola... Me chamam de vadia louca. — Diz a garota cabisbaixa após terminar a frase, ela odiava toda as mentiras e a opressão que a rodeava.
⠀⠀— O que dizem exatamente sobre você?
⠀⠀— Que eu namorei cerca de sete homens e terminei com todos me passando por vítima e a pior parte, dizem que eu seduzia alguns caras em Nebraska, que é onde eu morava, e depois de transar com eles, eu dizia para todo mundo que fui abusada. Mas na verdade, eu nem sequer beijei um garoto na vida. — Ostberg cuspe todos os boatos, respirando fundo ao terminar.
⠀⠀— Bem vinda ao clube, eu sofri anos por boatos e bem... Isso ainda é um problema mas não tanto quanto antes. Você tem quantos anos, Astrid?
⠀⠀— Dezesseis e você?
⠀⠀— Quinze. — Termina Marsh olhando com interesse para a morena.
⠀⠀— Você é legal. Já conhece a cidade?
⠀⠀— Já morei aqui quando mais nova, mas lembro-me de pouca coisa. — Responde Astrid colocando uma mecha de cabelo para trás da orelha.
⠀⠀— Conhece a pedreira? — Indaga Bev, colocando seu rosto apoiado em sua mão, dando total atenção a colega.
⠀⠀— Mais ou menos. — A morena termina de colocar a data em seu caderno e volta a vislumbrar Marsh.
⠀⠀— Por quê?
⠀⠀— Tá afim de tomar um banho lá depois da aula? — Beverly pergunta com um sorriso divertido no rosto. Astrid sorri para a garota, concordando totalmente com a ideia. Seria ótimo, o calor e o Sol ajudavam muito para fazer esse dia ser perfeito para um banho no lago e elas agradeceriam mais tarde pelo calor de hoje.

BLOOM LATER - Richie TozierOnde histórias criam vida. Descubra agora