Capítulo 1 : Bem vindo a dimensão dos sonhos

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A dimensão dos sonhos é um lugar onde todas as cores fogem, tudo ali é preto, branco, cinza e cores desbotadas. Além de ter sempre  uma fina neblina, ser mais frio que o normal e quase não haver sons. Nossas cores se perdem quando passamos pelo portal comum, fica de frente a nossa morada, já na nossa dimensão. Segurava ainda a mão de  minha irmã, nossas peles brancas e rosadas estavam praticamente pálidas, o que eu achava encantador. 

Onde os guardiões, como nós, descansam e recebem trabalho, são tavernas quase em ruínas de tão velhas que são, elas sempre em um padrão de dois andares com o  bar na parte de baixo e os quartos em cima. O dono da Doces Sonhos é tão antiquado quanto o lugar, o senhor Hip, também nosso avô. No total são três dessas casas, mas são tão longe  uma das outras que nenhum guardião faz visitas desnecessárias ás outras casas.

— Ei, velhote! — grito para ele quando entramos na taverna. O grandão musculoso e ruivo limpava alguns copos atrás do balcão com um pano totalmente encharcado de água. — Trouxemos um novo para sua coleção. — entrego o espelho para ele e sento na cadeira alta do balcão do bar.

— Bom trabalho pirralhos. — ele solta a risada típica dele: “Hahahihi”. 

— O que tem de novo para fazermos vô Hip? — Lana perguntou sentando ao meu lado se apoiando no balcão e balançando os pés, pois ela era baixinha e não conseguia tocar o chão quando sentava. 

Ele pigarreia e tosse antes de falar, pegando dois copos e colocando a nossa frente.

— Soube que tem alguns pesadelos soltos pelas áreas das outras casas. — ele ia dizendo e servindo para nós um pouco de chá verde com leite e açúcar queimado. — Vocês podem dar uma olhada por lá se quiserem, porém… — terminou de nos servir e se apoiou na superfície do balcão. — Vocês têm  trabalhado demais ultimamente, tirem um dia de folga. 

— Damos uma olhada. — dou um gole no chá. Não sei o que ele fazia, mas aquilo era muito bom. 

— Não queremos um dia de folga… — Minha irmã fala triste. Ela ama esse trabalho e ainda mais o mundo acordado, não gostava de se sentir presa no nosso mundo. Ela se levantou e saiu correndo para o segundo andar.

— Não se preocupe, eu falo com ela… — digo ao velhote e pego os copos para ir atrás dela.

Nosso quarto era o último do corredor. Estranho hoje não ter tantos guardiões por aqui, devem ter arrumado o que fazer finalmente, nem tinham tantos assim no andar de baixo. 

— Lana? — entro no quarto. Ela estava sentada no chão encolhida perto da cama. Fui para o lado dela me sentando e entreguei a bebida. Suspiro com um biquinho para ela.

— Eu não quero folga, irmão. — ela murmura olhando para o copo em suas mãos. — Eu gosto de lá ...

— Sabe que nós precisamos descansar dos pesadelos, não podemos ficar direto no trabalho. — encosto a cabeça em seu ombro. — Pode ser perigoso… Pelo menos é o que todos falam.

— Eu sei, Lu… — ela suspira. — Me leva no mundo acordado? Antes de tirarmos a folga… 

— Não devemos ir lá sem ter trabalho, o velhote pode descobrir. — levanto o rosto na direção dela. Ficar andando pelo mundo acordado a passeio era deixar a barreira frágil e coisas ruins poderiam acontecer e escapar para o mundo acordado. Ela sabe disso… 

— Eu sei, mas já fomos tantas vezes lá e não aconteceu nada de ruim, nem o vovô descobriu, por favor irmão mais velho. — ela fez o biquinho que não resisto. — Só dessa vez...

Fico pensativo, acaricio o rosto dela e mordo o lábio encontrando uma resposta. Seus olhos verdes de alguma forma não perdiam a cor nem um pouco, eram acessos e brilhantes, ainda mais quando fazia charme para mim. Somos gêmeos sendo eu o mais velho por alguns minutos. Nossos pais eram guardiões lendários e parte do legado deles foi dado a nós pelo vovô. Não chegamos a conhecer nossos pais direito...

— Está bem, você ganhou, mas é a última vez. — sorrio. Levanto e vou até a estante do meu lado do quarto e pego um filtro de sonho, volto e sento na frente dela.

Seguramos o filtro e fechamos os olhos. 

— Pode falar dessa vez. — permito que ela diga o rito para irmos ao mundo dos acordados de forma "clandestina".

— Iremos na dimensão acordada para protegê-la dos sonhos ruins. — ela diz com uma risadinha no final, imagino que estava sorrindo enquanto dizia. 

Sentimos nossos corpos serem puxados, sons de buzinas, carros de ambulância, polícia, pessoas digitando no computador, gritando, rindo, chorando, gatos miando, cães latindo, todos eles e alguns outros passaram à nossa volta até abrirmos os olhos para ver a cidade.

No topo do prédio mais alto da cidade, dava para ver tudo que se passava lá embaixo. Essa vista é o que Lana mais ama no mundo acordado, a sensação do vento em seu rosto e cabelos, os cheiros misturados e as conversas noturnas. Sorri vendo sua expressão ao admirar a vista. 

— Conseguimos! — ela levantou dando saltinhos de alegria.

Nightmares - Trilogia: Macabre dreamsOnde histórias criam vida. Descubra agora