Capítulo 4: Reencontro

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— Cinco anos… — murmuro olhando para meu copo de chá em cima do balcão do bar. O velho parecia ter me ignorado por sussurrar aquilo. Minha voz havia ficado mais grave com o tempo, o que não me incomodava tanto, mas estava mais velho, mais forte e continuava com ódio.

A pessoa com quem eu passava mais tempo havia ido embora há cinco anos para o mundo acordado para cuidar de um sonhador. Revoltado? Estou. Com raiva? Demais. Havia me tornado sério e estava trabalhando sempre que podia, era minha única escapatória da melancolia que sentia. Fomos proibidos de visitá-los para não haver fragilidade entre os mundos.

Olho para o velho que atendia um outro guardião, desvio o olhar, furioso, bato no balcão com toda força, fazendo assim o copo, e o próprio balcão, quebrarem juntos. Minha visão turvada pelas lágrimas que se formavam e eu saio correndo para fora empurrando quem estivesse na frente. 

— Lúcio! — ouvia a voz gentil de Diana me chamar, mas não parei. Nos tornamos uma dupla temporária até o retorno de Wallace novamente. Ele vivia fazendo missões especiais para o velho e quase não parava para acompanhar a parceira dele.

Corria em direção ao imenso e vazio branco de nossa dimensão. Não havia som, nem eco, nem nada… Era o mais puro vazio do sonho. Limpava o rosto enquanto corria ritmado para não cansar, queria apenas correr para longe de tudo aquilo. Dos guardiões, dos acordados, nada me fazia sentir vivo novamente… A não ser Lana.

Lembranças de minha irmã tomavam minha mente e isso me impulsionava mais a correr e correr, me afastando de tudo e indo o mais distante que podia. Meu mundo havia ruído e só tinha percebido isso agora. 

— AAAAHHHH!!! — grito de raiva e desespero, desabando de joelhos no chão craquelado com cinza. As veias escuras e finas se estendiam por todo o chão fazendo o horizonte ficar acinzentado e escuro. Eu estava no limite da dimensão do sonho beirando o pesadelo. 

O tilintar da minha armadura era a única coisa que fazia som quando eu respirava. Os inúmeros filtros do sonho estavam parados por não haver vento ou nenhuma forma de ar passando. O silêncio mórbido era maior ali, ele de certa forma me acolhia e confortava.

— Lú-ci-o… — uma voz tão baixa quanto um sussurro pronunciava meu nome pausadamente. 

— Quem está aí? — pergunto erguendo um pouco a cabeça para frente e depois olhava em volta. — Estou alucinando já? Que maravilha… — ri baixo de mim mesmo. 

— Lú-ci-o… — a voz que balbuciava meu nome ficava um pouco mais alta. Parecia vir do horizonte além da fronteira. 

— Quem quer que seja, apareça logo, não tenho paciência para brincadeiras. — levanto devagar curioso, mesmo minha voz sendo de raiva. A voz parou de repente. — Deve ser coisa da minha cabeça.

No instante em que me virava para voltar, uma silhueta feminina surgia no cinza. Aquilo me chamava de certa forma, meus pés caminhavam sozinhos para aquela direção. Aquela estranha forma era agradável, o cheiro doce de rosas que surgia naquele vazio mostrando que ainda tinha alguma coisa ali. 

— Uma pobre alma tão agoniada. — a voz doce dela ficava ainda mais hipnotizante de perto, seu sotaque diferente… 

— Você não é daqui, não é? — ela afirma com a cabeça que não era daqui. Um pouco mais baixa do que eu e mais franzina, vestia um longo vestido preto, cobrindo seus pés e quase se juntando ao cinza escuro do chão. Seus cabelos preto como o vazio eram belos e sedosos, o que contrastava com sua pele branca, literalmente branca. 

— Vim ao chamado de sua alma sofredora. — ela começa a andar ao meu redor enquanto fala. Me analisava todo de baixo a cima. — Perdeu o seu amor e agora está definhando. Me pergunto se deseja continuar com isso.

Nightmares - Trilogia: Macabre dreamsOnde histórias criam vida. Descubra agora