A Rotina dos cactos

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Oi, aqui é o Chanyeol, e eu estou sendo obrigado a escrever isso.

Não é como se eu estivesse assustado por Kai estar ameaçando cortar o fio da internet se eu não escrever nesse caderninho. Claro que não. Eu nem preciso de wifi mesmo. Mas na dúvida estou escrevendo.
Então, hoje é segunda feira.
Calma, eu não tenho certeza se é segunda feira. Preciso olhar em algum calendário.

É, hoje é segunda feira. O que significa que é quando começa a rotina dos cactos, eu chamo assim porque é realmente uma coisa absurda.
Tenho que contar porque Kai disse que seria bom fazer um diário de convivência. Nosso Soo anda um pouco estranho e suspeitamos que, dessa vez, é diferente.

(Não tem nada a ver com os rituais)

Acordei hoje como acordo todos os dias: Coronel Patinhas arranhando minha face com todo o ódio que ele tem naquele coração de gato.
Sei que ele me odeia, mas ninguém vê isso. Eu falo todos os dias para Chen dar um jeito naquele animal mandado, mas ele usa sempre as mesmas desculpas.

Leia com minha imitação realista do Chen:
"Fica calmo, Chanyeol, ele esta assim porque foi castrado"
Mas só ataca à mim! Como se fosse eu que tivesse castrado aquele bicho.

Ignorei o Patinhas e tentei não fazer contato visual, as vezes ele vê o medo nos meus olhos.
É aqui que começa realmente a rotina dos cactos.
Kyungsoo costuma dar água para seus cactos na segunda feira de manhã.

~Anotação do Kai: O "de manhã" do Chanyeol é 13:00 da tarde. Quando ele acorda.~

Eu devo ser o único que percebe que todos os cactos parecem exatamente os mesmos. Em todos os sentidos. Mas ninguém concorda comigo.
Então eu digo para o Soo, todas as segundas-feiras:

- Bom dia, Soo.

E ele me responde a mesma coisa sempre.

- Já é de tarde, Chanyeol.

Normalmente eu vou tomar meu café e espero o Soo terminar com suas plantas, mas hoje eu decidi me arriscar um pouco.

- Ai, eu li na internet que você tem que regar eles a cada quinze dias- falei- e você rega uma vez por semana, certo?

Pra quê.
Kyungsoo virou para mim segurando seu regador como se segurasse uma granada. Ele respirou fundo e fez a cara "você-não-esta-tentando-me-contrariar-esta?"

- Chanyeol.- Soo disse meu nome e eu instantaneamente senti a facada- você tem cactos?

- Não...

- Deveria. Ai você pode cuidar dos seus e me deixa cuidar dos meus.

Sabe quando você sente aquele arrepio que vem do nada? Kyungsoo diz que é a morte. Senti esse arrepio naquele momento.
Se eu não estivesse acostumado com Soo, sentiria medo.

- Acho que eu deveria comprar um- continuei.

É claro que eu disse aquilo para provocar, porque ambos sabíamos que eu sou incapaz de cuidar até de uma planta que não precisa de água.
Mas Soo leva os cactos muito a sério.

- Chanyeol, você não cuida nem de você mesmo.

E as palavras doeram pra caramba. Acho que fiquei tão afetado por tanto tempo que nem vi quando Kyungsoo voltou a cuidar das plantas. Me ignorando totalmente.
E é por isso que eu não interrompo a rotina dos cactos. Nunca.
Acho que parte da raiva que Soo sente por mim quando falo de plantas se deve àquela vez que joguei a planta de plástico dele pela janela e o pai do Baekhyun passou com o cortador de grama por cima dela. Desde então Kyungsoo não confia em mim com os assuntos da clorofila.

Então, ainda é segunda-feira. Também é um dos dias da semana que eu volto a ser um humano que tem responsabilidades. Eu vou trabalhar e tenho que ir para a faculdade. Porque o mundo funciona assim.
No caminho levo Soo e Baek pro campus antes de ir trabalhar, mas eles as vezes me fazem passar na Cafeteria primeiro e me obrigam a comprar café.
Cá entre nós, como eu trabalho lá não preciso comprar, mas faço eles pensarem que sim porque assim me pagam depois.

~Anotação do Baekhyun: é bom saber disso agora, seu safado!~

O Baek sempre sai correndo porque todos os dias esta atrasado para alguma coisa, então fico com o Soo no carro esperando ele terminar seu café.
Hoje nós conversamos.

- Sei que o carro é seu, não me leve a mal, Chanyeol. Mas você tem um péssimo gosto músical.

- Discordo. Rap norueguês é legal.

- Você sabe que vai ficar mais calmo se escutar algum clássico, né?

Revirei os olhos.
Ganhei um tapa na nuca.

- É muito mal educado fazer isso! -Soo balançou a cabeça e bebeu mais do seu café- juro que quando eu ver sua mãe de novo vou falar pra ela.

Eu não duvido, Kyungsoo tem um clube do livro com as nossas mães. Ele diz que é para conversarem sobre literatura, mas eu sei que é só uma desculpa pra falar o que eu e os meninos fazemos de errado agora que não moramos mais com nossos pais.
Entendi melhor a ideia da república, Suho e Kyungsoo fizeram isso para ficarem de olho em nós. Safados.

~Anotação do Suho: na verdade fizemos a república porque somos pessoas legais, você que é desconfiado. Babaca.~

Ainda no carro, Kyungsoo terminou seu café e estalou os dedos.

- Olha, nós falamos sobre você ter um cacto hoje e eu me equivoquei- ele disse e eu tentei não perguntar o que "equivoquei" significava- mas acho uma boa ideia você ter uma plantinha, quem sabe assim você ganha algum senso de responsabilidade.

Eu duvidava muito. Mas achei estranho Soo estar voltando com sua palavra. Aquilo não era normal. Kyungsoo é orgulhoso.

- E eu até posso te ajudar a cuidar.

Aquilo me assustou. Eu ia perguntar o que ele queria dizer com isso, mas Soo saiu do carro e atravessou o campus.
Foi. Assustador. Pra. Caramba.

Depois que voltei do trabalho, passei numa floricultura e comprei um cacto.
Não dou cinco dias para o Soo pegar pra ele.

Ei Kai, eu não sei mais o que escrever e acho que preciso tirar o Patinhas do meu quarto antes que ele faça xixi pelo lugar inteiro.
Tchau?
Até a próxima?
Eu não sei!
Então... É.

~Anotação do Kai: Isso foi péssimo, Chanyeol. ~

~Anotação do Suho: Chanyeol esta certo, Soo pegou o cacto pra ele.~

⚫As coisas do Kyungsoo -- {EXO}⚫Onde histórias criam vida. Descubra agora