O caminho

47 8 0
                                    

Em algum momento, me perdi.
Nem todo meu caminho eu realmente sabia para onde ia, na verdade, a maior parte dele eu não sabia, mas não importava, pois eu também não queria chegar a lugar algum, era um desbravamento da vida, e estava tudo bem que fosse assim.

A partir de algum momento, após alguma curva ou passagem, quis eu chegar em algum lugar, e foi aí que comecei a trilhar em uma direção, certa, errada, não sei, mas eu sabia neste momento onde queria chegar.
Encontrei nesse caminho muitas surpresas, coisas, lições e pessoas.
As lições eu levo comigo, e as consulto de vez em quando.
As coisas são apenas coisas, algumas levo, outras me desfiz. Ajudam, mas não são tão especiais assim.
As pessoas são as mais variadas. Algumas estão de passagem apenas, outras simples encontro de direção opostas. Algumas trilham na mesma direção, por mais ou menos tempo, mas te acompanham um pedaço do caminho. Algumas cantam, assobiam, conversam, se calam, em todas há algo bom para desfrutar da companhia. Algumas nos fazem mudar de caminho, algumas nos carregam um pouquinho.
Algumas brincam conosco, tornando o caminho mais divertido, outras brincam conosco, fazendo o sabor da vida mais ardido.

Mas algumas poucas, estas raras, caminham com você de mãos dadas, às vezes te mudam a direção sem perceber, às vezes se perdem de si e adotam seu caminho, algumas sugerem até mesmo outra forma de viajar. Ao caminhar de mãos dadas, os caminhos se confundem, as trilhas não importam mais, pois o sensacional agora é o caminhar, a companhia.

Em algum momento me perdi.
Em algum momento estava eu no meu caminho, mãos dadas, olhando para frente, tentando enxergar o que viria, sentindo brisa suave e fria, quase quem como vê de longe em seu navio as terras prometidas, a sensação de estar em casa, de estar ao fim não era causada pelo fim do trajeto, mas pelo prazer da companhia.

Em algum momento me perdi.
Em algum momento vislumbrado com essa jornada, em algum momento algo desamarrou. Em algum momento minhas mãos estavam vazias e aquela mão que segurava a minha soltou-se.
E nesse momento me perdi.
Nesse momento eu me perdi e girava em meu caminho sem sair do lugar tentando apenas descobrir como cheguei ali!
O desespero batia em meu peito e eu queria descobrir realmente como cheguei até ali.
Nesse momento me desesperei.
Nesse momento percebo que a ilusão da companhia me trouxe para onde eu não sabia mais onde estava e onde eu queria chegar já não fazia mais sentido.

QUE LUGAR É ESSE?

E nesse momento eu estava completamente perdido.
Por dentre aquela confusão eu via as vezes aquela mão, não estendida, inalcançável, não podia mais me encontrar nesse caminho.
E nesse momento eu soube.
Nesse momento pude perceber que qualquer caminho que eu tomasse jamais seria o mesmo, pois aquela mão que me guiou para esta estrada maravilhosa precisou partir em outra viagem.
Eu agora aqui no meio desse grande nada que já foi meu tudo, eu nesse mar de coisa alguma!

O QUE EU FAÇO?

E nesse momento eu me dei conta de que ao vislumbrar todo o caminho, observar a paisagem, focar o objetivo da chegada, não olhei para a mão que segurava.
E nesse momento eu percebi.
Que nesse momento eu perdi.
A mão que me levava.

Universos Inversos Versados Em VersosOnde histórias criam vida. Descubra agora