Capítulo 3

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Capítulo 3

Como assim, aqui na minha frente, na minha sala, na minha carteira, no meu habitat natural?

— Vaza! — ordeno e coloco a minha mochila novamente em cima da minha carteira.

— Feliz em me ver. — Sua boca se curva em um sorriso e ele pega a minha mochila e joga novamente no chão.

— Nem um pouco. — Pego a mochila do chão. — Esse é o meu lugar, cai fora — mando.

— Sair? — Cruza os braços e me encara.

— Isso. Vazar do meu lugar. Entendeu ou quer que eu desenhe para você?

— Espera um pouco. — Descruza os braços e procura algo sobre a carteira — Não estou vendo o seu nome escrito em nenhum lugar.

— Você é muito, muito... muito... — tento achar uma palavra para o definir.

— Bonito?

— Idiota! — rebato. — Sai do lugar agora. Estou mandado você vazar, seu babaca.

— Não!

— Professora — chamo indignada com a situação, quase batendo o pé no chão como uma criança birrenta.

— O que foi, Marta? — a professora pergunta sem ao menos se aproximar de mim.

— Este indivíduo. — Aponto o meu dedo. — Não quer sair do meu lugar — acuso. — Já pedi para sair e não sai, por favor, professora, o faça sair.

— Pelo visto você e o Pedro já são amigos. Pedro, seja cavaleiro, pegue uma carteira e junte na sua, durante a semana Marta será a sua parceira.

— O quê? Nada disso. Não mesmo. Ele pode sair do meu lugar — protesto.

— Como chegou atrasada, Marta, ainda não sabe como vai ser a atividade da semana. Pedro, faça um favor, busque a carteira na sala ao lado enquanto explico para a Marta. Bento, vai junto com Pedro para ajudar a trazer a cadeira.

— Já estou indo, professora. — Pedro me olha e pisca o olho. — Vai ser legal ter você como parceira.

Reviro os olhos para ele, que sai para buscar a carteira.

— Olha, professora, a senhora não está entendendo, não é possível ser parceira dele.

— Marta, essa semana é tema transversal por causa do feriado. A sala está dividida em duplas.

Olho pela sala e percebo todos com as carteiras em dubla. Por que não percebi isso antes?

— Professora, eu posso fazer com outra pessoa, nem conheço esse indivíduo — explico.

— Com quem você iria fazer?

Cruza os braços e me observa.

— Com a Valdirene. — A procuro com os olhos e ela já está em dupla com outra pessoa. — Traidora — sussurro para ela.

Percorro os meus olhos pela sala e todos estão em duplas.

— Só sobrou vocês dois, Marta.

— Mas, professora, não pode ser em trio? — Faço cara chorosa, não quero ficar perto dele, nem ser sua parceira.

— Não pode.

— Por favor. — Junto as mãos, implorando para ela aceitar.

— É o primeiro dia de aula dele em uma escola diferente, com o ano letivo pela metade. Pedro não conhece ninguém, tente ser compreensiva, é difícil para ele também. — Se aproxima e coloca a mão em meu ombro. — Posso contar com você?

— Tudo bem.

Deixo os meus ombros caírem em derrota.

Pedro entra na sala carregando uma carteira, atrás dele entra outro aluno carregando a cadeira. Ele encosta a carteira na dele, que era minha e ele roubou na cara de pau.

— Obrigada — agradeço, mesmo ele não me merecendo.

Sento-me na cadeira e começo tirar o material da mochila sem olhar para sua cara.

— Tudo bem, então? — a professora pergunta, ainda próximo a nós.

— Tudo — respondo sem olhar.

Retiro o meu estojo da mochila, o abro e pego um lápis.

— Ok, qualquer coisa me chame — a professora finalizada, voltando para o seu lugar.

Olho para ver se ela não está olhando e bem no canto da carteira escrevo: MARTA.

Termino de escrever e olho para o individuo do meu lado.

— O que está escrito aqui? — Aponto o lápis para o meu nome.

Ele olha e acaba sorrindo.

— Marta. — Lê o meu nome.

— Parabéns, agora sabe que essa carteira é minha, faz favor de não querer roubar o meu lugar novamente — acuso.

— Acho que começamos errado.

— Também acho. Você me deve desculpa por ter me derrubado, por ter roubado a minha carteira, por ter jogado minha mochila no chão, por ....

— Entendi, fui indelicado com você.

— Você foi um cavalo, babaca e idiota.

— Só isso?

— Tenho mais alguns adjetivos se quiser ouvir?

— Você é muito delicada com os seus adjetivos.

— Obrigada.

— Além de convencida. Você trombou em mim, chegou aqui cheia de arrogância exigindo o lugar que eu estava ocupando, sendo que quando cheguei era o único lugar desocupado.

— Você me mostrou o dedo — rebato, sem dar importância para o que ele falou.

— Estava me defendendo, você foi grossa, não foi culpa minha.

— Pede desculpa.

— Não.

— Você errou. Foi um babaca.

— Você foi uma idiota. Não vou pedir desculpa.

— Pedro e Marta, acabem agora com essa discussão e prestem atenção na aula — a professora nos repreende.

Fico em silencio olhando para frente, e fingindo prestar atenção na aula.

— Nós dois erramos — sussurra. — Me desculpa, fui tudo isso que você diz, sem ao menos te conhecer. — Olho para ele intrigada. — Desculpa — repete e faz aquela carinha de cachorro que caiu da mudança.

— Eu também não fui legal com você. Eu te desculpo, mas você também me desculpa e não senta mais no meu lugar?

— Eu desculpo e não sento mais no seu lugar. Está escrito o seu nome. — Aponta para o meu nome na carteira e sorri.

— Promete?

— Eu prometo.

— Então sem brigas? — pergunto aliviada, não gosto de brigar com as pessoas.

— Sem brigas.

— Ok. Então.

Viro-me para frente e o meu coração, sem nenhuma explicação, começa a bater mais forte.

— Oi, tudo bem? Eu me chamo Pedro. — Estende a mão para mim.

— Oi, Pedro. — Aperto a sua mão. — Eu sou Marta.

— Prazer em te conhecer, Marta.

Abre um sorriso.

— Digo o mesmo.

O seu sorriso de perto até que é bonito. Volto a prestar atenção na aula com um sorriso bobo no rosto.

Contos & Prazeres : Nunca é tarde para um novo amorOnde histórias criam vida. Descubra agora