Capítulo 8

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Por Sam

Naquela mesma tarde ele voltou no quarto, me pegou pelo braço e foi me arrastando por aquele lugar imundo. Abriu uma porta que estava meio emperrada e eu o vi, sentado em uma cadeira com as mãos amarradas para trás._ "Pai?!"_ uma lágrima escapa pelos meus olhos.

"O que ela está fazendo aqui? Você prometeu que ela estava bem longe, longe de você!"_ sua voz cada vez mais se elevava.

"Eu não sou de cumprir promessas!"_ e me jogou no chão.

"Porque está fazendo isso com ela? Porque está fazendo isso conosco?"

"Você não se lembra de mim? Pelo visto vou ter que refrescar sua memória! Há vinte anos, confronto entre a polícia, três mortos, dezenove feridos, dono do tráfico morto a tiros. Se lembra Jacob?_ meu pai toma uma expressão pensativa e eu só sabia encarar aquilo tudo sem entender nada.

"O que isso tem haver com você?"_ pergunta já impaciente.

"Eu era um desses dezenove, estava ajudando meu irmão, o dono do tráfico. Vocês mataram ele a sangue frio, e desde então venho planejando minha vingança. Esperei todos esses anos, aquele assalto na faculdade era pra ser apenas isso, quando a vi encarando tudo aquilo, iria apenas sequestrá-la, mas minha curiosidade falou mais alto, alguma coisa nela me lembrava alguém. Entrei mais afundo e descobri que era sua filha. Que maravilha, não?_ diz sarcástico olhando de meu pai para mim. Estava com nojo de suas palavras.

"Ela não tem nada haver com isso! Seu assunto é comigo!"

"Também! Mas, quero que você sofra, ele era minha única família, anos eu vivi jogado em qualquer canto, sem um rumo. O mesmo vai acontecer com você, primeiro ela, depois Magg..."

"Não ouse terminar de falar!"_ meu pai vocifera.

"Você não está nas melhores condições, de falar assim comigo."_ ele vai pra cima do meu pai, mas coloco meu pé na frente, fazendo ele cair com tudo no chão e uma chave voa pra fora de seu bolso, a chuto sem ele ver, para a parede. Ele me dá dois tapas e um soco no rosto e parte pra cima do meu pai, alguns minutos que mais se pareceram horas, me arrasto para a parede e pego a chave colocando dentro do sutiã, ele me pega pelo braço e me arrasta para fora do quarto.

"Vai ficar tudo bem."_ meu pai cochicha para mim, antes dele bater a porta. Suas mãos estavam começando a marcar no meu braço, pela pressão que ele estava fazendo, me jogou com tudo no chão do quarto e bateu a porta.

"Cadê essa chave!"_ fala com raiva do outro lado da porta._ "Traz a chave reserva do Bloco A 11 e pode ir embora."_ ele fala com alguém que não demora, pois a fechadura logo faz um barulho, anunciando ser trancada. Estava determinada em fugir essa noite e trazer reforços para resgatar meu pai e prender todos os envolvidos, desses dias horríveis. A tarde se passou vagarosa, como sempre...

Já era noite, não sei quantas horas, mas o tempo que fiquei encarando a claraboiá vendo as estrelas determinava ser bem tarde. Encostei meu ouvido na porta, nenhum sinal de movimentação, peguei a chave no meu sutiã e destranquei lentamente a porta, estava tudo escuro no corredor, tranquei de novo a porta, e em passos calculados para não tropeçar em nada, andei pela escuridão.

De certo o corredor era enorme, subi um pequeno lance de escadas, pois o lugar era em um subsolo, e entrei em outro corredor, uma luz estava acesa a poucos metros de onde eu estava, fui andando encostada na parede, e o vi sentado meio torto na cadeira de uma pequena sala, dormindo, completamente apagado. Não havia mais ninguém no local, então continuei a andar, um pouco mais rápido dessa vez, a última porta do corredor que dava passagem para não sei onde, estava trancada. Peguei a chave mais ela não abria. Minha única solução era voltar naquela salinha, onde ele dormia.

E foi o que fiz, girei meus calcanhares e retornei até lá. Abri a porta com todo cuidado possível, olhando através do grande vidro sua expressão, olhei cada centímetro dali, e lá estava, na parede onde sua cadeira estava escorada, um pequeno molho de chaves. Com um impulso, agarrei as chaves, andei até a porta de costas, olhando atentamente para ele, que com certeza estava em um sono profundo, pois ao pegar as chaves elas balançaram fazendo um pequeno barulho, que certamente ele acordaria.

Fechei a porta, e soltei o ar dos pulmões, que até então não percebi estar segurando. Testei todas as chaves, quando estava desistindo ouço um click e a porta se abre, revelando a escuridão, iluminada apenas pela lua e estrelas. Eu consegui! Tranco a porta, jogando a chaves em um arbusto qualquer e corro como se minha vida dependesse disso, e ela depende!

(...)

Meus pés já latejavam, estava muito ofegante, provavelmente estava correndo a horas, parecendo estar correndo em círculos, pois não chegava a lugar nenhum. Bem ao longe avistei uma casa, completamente escura, e fui em direção a ela, sempre atenta a qualquer perigo, isso inclui os capangas dele. Luzes de farol começam a se aproximar da casa, escondi atrás de uma árvore, e assim que vi Peter dirigindo o carro, peguei uma pedra e arremessei para chamar sua atenção. Acho que não foi uma boa ideia, pois acabei acertando o vidro de trás do carro, o quebrando. De imediato ele parou o veículo, caminhei até lá, e assim que me viu, abriu a porta do carro e correu em minha direção. Estávamos frente a frente._ "Samantha?!"_ ele estava incrédulo, olhava para mim como se eu fosse um fantasma.

"Sim! Preciso que me tire daqui! Antes que ele perceba que eu fugi."_ ele ainda me encarava, com minhas últimas palavras desperta de seu transe, pegando levemente em meu braço me levando até a casa._ "O que está fazendo, eles vão me ver."_ tento me soltar de sua mão.

"Ei. A essa hora não estão aqui. Fica tranquila."_ ele desliga o farol do carro e abre a porta da casa. Liga a luz da sala, me coloca sentada no sofá e depois retorna com um copo de água._ "Vou avisar Lizzy que está aqui."_ assinto e em poucos minutos Lizzy está em minha frente com os olhos marejados.

"Ah meu Deus!"_ me levanto do sofá a abraçando._ "Sam, você está bem? Ele acabou com você. Como conseguiu fugir?"_ me enche de perguntas me abraçando mais apertado, gemo de dor._ "Me desculpe. Venha, você precisa de um banho."_ ela me leva até seu quarto, me entrega tudo que irei precisar, e entro pra dentro do banheiro. Retiro minhas roupas que estão manchadas de sangue, ligo o chuveiro na água morna, e permito me relaxar, me lavando por completo. Fiquei ali debaixo, até meus dedos começarem a se enrugar. Vesti um moletom, penteei meus cabelos, peguei a toalha e passei no espelho embaçado, levando um susto ao ver meu rosto, praticamente deformado. Abro a porta, vendo Lizzy e Peter sentados na cama. Ele me entrega um pano com gelo, e pressiono ora em meus lábios, ora em meu olho esquerdo, na intenção de amenizar os ferimentos._ "Fiz um lanche para você."_ Lizzy fala quando entramos na cozinha. Me sento a mesa e começo a comer.

"Vou te levar embora!"_ fala Peter.

"Obrigada, mas antes preciso ir na delegacia. Ele está com meu pai!"_ ele me olha um momento e depois assente. Termino de comer, me levantei abraçando Lizzy._ "Queria que fosse comigo."

"Não é tão simples querida."_ fala com a voz embargada.

"Eu volto pra te buscar. Todos eles vão parar atrás das grades!_ falo convicta.

"Vou esperar."_ ela beija minha testa e entro dentro do carro, junto a Peter.

"Preparada?"_ pergunta assim que gira a chave.

"Esperei por esse momento, desde o dia em que tudo começou! Estou mais que preparada."_ sorrio e ele acelera o carro.

The Party (PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora