Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo.
I João 2:16
Ninguém cai em tentação de uma só vez. Tudo parece estar muito perfeito, mas é exatamente neste ponto onde mora o perigo. O homem costuma ser insensato algumas vezes e não percebe os caminhos onde está percorrendo. A maioria dos grandes erros começam por um importante sentido do nosso corpo, que é a visão.
Os olhos são nossa porta de entrada. É através dele que ligamos o mundo externo e o interior. É ele quem envia informações ao chefe cérebro e o tonto do coração sente as sensações, como o amor, a arrogância, a inveja e o desejo. Entretanto, devo dizer que, por experiência própria, a culpa do pecado não é só do coração.
O piano que ficava próximo à lareira era uma relíquia de nossa família. Foi usado por meu avô, que era pianista e por muito tempo ficou guardado como um patrimônio familiar. Naquela noite, havia uma mulher que tocava lindamente. Lembro que ela se encontrava no centro das atenções quando a orquestra parou e a tal mulher usou o seu talento para um concerto solo.
A partir daquele momento, ela ofuscou a presença de todos naquele baile. Ela mesclava clássicos de Beethoven com melodias contemporâneas. A mais marcante que me impulsionou a olhar em sua direção, foi no instante em que tocou Set Fire to the Rain, de Adele. Todos se viraram em sua direção aplaudindo-a e Alícia olhou de onde estava e começou a sorrir. Aquela era nossa canção, nosso tema de casados.
Entretanto, algo estranho acontecia comigo. Aquele era o momento para eu ir até Alícia, pegar em sua mão e trazê-la para dançar comigo. Ao invés disso, me aproximei do piano para olhar de perto a moça que encantava a todos no Baile de Máscaras.
Após terminar de tocar aquele tema instrumental, ela se levantou e curvou-se diante dos presentes em reverência e agradecimento. A máscara era um detalhe. Ela exalava beleza, mesmo mascarada. Não lembro de ter sido apresentado a uma mulher tão atraente quanto aquela quando fechamos contrato com a orquestra.
Ela portava vestido longo de cores escuras. Sua pele era mestiça, e me admirava a forma como se dirigia às pessoas. Por estar com o rosto coberto por uma máscara de carnaval veneziano, só conseguia ver os seus olhos. Mesmo sem estar próximo a ela, pude ver que eram de cor âmbar. Seus cabelos lembravam a turmalina de cor negra. Aquela mulher estava coberta de diamantes. Ela me fazia lembrar o meu raro e brilhante diamante negro.
Confesso que eu era um homem ganancioso, mas também extremamente curioso e disposto a conhecer coisas novas, pessoas novas e mulheres "novas". Contudo, meus amigos. Eu nunca fui um traidor, até então.
Posso ter tido inúmeros defeitos, mas eu vivia em um castelo onde eu era o rei e Alícia a minha amada rainha. Eu tinha tudo, não precisava de mais nada. Na minha mente, ninguém roubaria o lugar de Alícia, mas eu não tinha conhecimento de um terço das quedas que a vida iria me proporcionar.
A orquestra começou a tocar novamente, mas na ocasião, sem a presença da misteriosa mulher. Eu fiquei olhando para ela enquanto a mesma conversava com algumas pessoas. Ela não parecia apenas mais uma musicista. A dama tinha visivelmente uma intimidade com as milionárias de Casablanca.
Alguns homens vinham conversar comigo, mulheres também. Alícia e eu nunca fomos um casal grudento e ciumento, mas também compreendo que eu ainda não tinha dado motivos para tais sentimentos. Eu olhava para aquela mulher e admirava as belas curvas de seu corpo desenhadas naquele vestido preto. Em um determinado momento, percebi que ela me olhou. Sem nenhum receio, fiquei encarando-a, testando-a, desejando-a. Até ser interrompido.
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Apenas mais um Diamante
RomancePara Beni Lawrence, até mesmo a vida pode ser comprada com diamantes. Um homem milionário, cidadão mais importante da cidade de Casablanca. Ela é casado com Alicia Lawrence, uma bela ruiva que o ama intensamente. O romance dos dois será ofuscado por...