Capítulo VI: Maldita Aliança

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O dia amanheceu, o vento frio me impulsionava para não sair da cama naquele sábado, mas eu era tão acostumado com o trabalho e com as obrigações, que sempre acordava cedo e não mais conseguia dormir. Nem lembro a hora que peguei no sono, contudo, meu corpo trabalhava de forma automática, respeitando sempre os horários. Talvez, por ser assim, tão pontual e responsável com as obrigações, não admitia erros dos demais. A Lawrence Diamonds, por exemplo, era a maior empresa de Casablanca e uma das maiores do mundo. Tinha funcionários antigos e excelentes, mas eu não perdoava erros.

Enquanto fazia um café (eu mesmo preparava meu café), lembrei que era hora de buscar o meu jornal diário. Naquela manhã, eu recordei de algumas situações onde tive que usar a minha autoridade para controlar os negócios e a vida. Um fato sobre mim é que eu me sentia extremamente satisfeito em pisar nas pessoas. Era o natural e simples jeito de ser do Beni Lawrence.

Peguei meu café e fui abrir a porta da minha casa. Respirei fundo o ar de uma linda manhã e fui buscar meu jornal. Até então, tudo bem, mas, estranhamente, junto com o jornal havia um porta-alianças. O peguei, olhei, e falei para mim mesmo:

— Deve ser Alícia querendo renovar os votos comigo.

Mas não era um bom presente. Fiquei extremamente indagado com o que vi. Havia dentro um par de alianças, e ambas estavam devidamente alinhadas, no entanto, uma estava limpa e perfeita, enquanto a outra, estava quebrada e completamente manchada. O mais interessante é que havia também um pequeno pedaço de papel, onde estava escrito em letras garrafais "ISCARIOTES".

Eu sabia o significado em torno da palavra Iscariotes, mas não consegui interpretar o porquê de aquilo estar na minha caixa de correspondências. De fato, aquilo só iria fazer sentido no decorrer dos meus dias.

Tomei meu café, li meu jornal, mas não consegui esquecer em nenhum momento do que havia recebido. Voltei para casa e subi as escadas refletindo com aquilo em mãos. Abri a porta do quarto e fiquei alguns minutos olhando para Alícia, enquanto ela dormia. Ali, pela primeira vez, comecei a enxergar Alícia de uma forma diferente. Mal sabia eu, que daquele outono, viria uma forte tempestade na minha vida e de toda minha família.

Alícia acordou e, por um momento se assustou por me encontrar paralisado e olhando-a fixamente. Ela ficou alguns segundos olhando, até que perguntou:

— Beni?

— Assustei?

— Imagina! Só fiquei surpresa.

— Surpresa por quê? Só existem nós dois aqui neste quarto. Teria mais alguém?

Apesar do meu questionamento completamente intimativo, Alícia pareceu não levar a sério a minha pergunta. Talvez aquilo fora uma forma de se sair da conversa, ou talvez uma ingenuidade dela mesma. Mas uma coisa era certa, aquela semente da dúvida havia sido plantada em meu coração.

Talvez Alícia não tenha percebido, mas erroneamente se esquivou de uma forma suspeita.

─ Mais alguém? O que está insinuando? Nosso filho é esse mais alguém?

Oras.

Filho? Óbvio que eu sabia que não havia ninguém ali, mas foi uma forma de tentar me aproveitar do que havia encontrado na minha caixa de correspondências. Ela se desviou da forma mais baixa, usando um ser que só existia em nossos sonhos para se justificar.

Alícia deitou novamente sua cabeça no travesseiro e naturalmente voltou a dormir. Aquilo me deixou muito enfurecido. Ela me renegou. Não que eu fosse dramático, mas eu não admitia ficar falando sozinho em uma conversa.

Apenas mais um DiamanteOnde histórias criam vida. Descubra agora