Apenas um favor

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Mais uma vez, Pacífica estava andando pela floresta sozinha. Ela estava ainda melhor na caça e luta mas mesmo assim, não se afastou tanto da caverna.
Era uma manhã agradável de primavera, mas Pacífica estava muito concentrada em achar um meio de conseguir dinheiro para comprar os apitos pra notar o clima bom.
A senhora deu um prazo um tanto quanto curto. Não podia conseguir dinheiro trabalhando em tão pouco tempo, ainda assim, nem sabia o caminho pra cidade, o que fez ela ficar pensando que devia ter perguntado à senhora.
Ás vezes olhava para o chão, ás vezes para o alto, mas nunca deixava de ficar atenta à caçadores ou animais.
Passou por perto de um arbusto vendo o mesmo se mexer. De primeira pensou que era apenas algum animal, mas observou bem e notou alguns fios de cabelo alaranjados.
Estendeu o braço para tocar, quando percebeu alguém se levantar. Recolheu o braço depressa, olhou acima e arregalou os olhos.
- Você...eu lembro de você!- Pacífica quase gritou.
- Que bom que lembra, eu estava a procurando. Estes dias meu pai falara alguma coisa em meninas...e não sei porquê, lembrei de você. -Raphael parecia envergonhado.
- O que quer diz-...- Antes que Pacífica terminasse a frase, uma raposa desceu de uma árvore indo em direção à eles.
Raphael estava completamente espantado. Não sabia o que fazer. Já Pacífica, sacou sua adaga-que achara perdida provávelmente por caçadores- e se pôs em frente a Raphael em posição de ataque.
Ele estava pasmo. Nunca vira alguém tão corajoso, especialmente uma menina.
- Corra!- Gritou Pacífica, mas Raphael não conseguia se mexer.
Vendo que o garoto não tinha reação, fixou os olhos nos da raposa tentando demonstrar superioridade. Não funcionou. A raposa avançou neles indo direto em Raphael. O mesmo elevou os braços ao rosto fazendo com que a raposa ficasse pendurada com a boca neles. Pacífica com um só golpe, cravou a adaga nas costas da raposa com cuidado para não acertar Raphael. O animal se soltou dos braços do garoto ainda vivo mas com um enorme ferimento pela adaga de Pacífica, fazendo o cair no chão. O mesmo ficou tremendo e escorrendo sangue de suas costas. Pacífica não demonstrou muita preocupação e apenas fincou de novo, dessa vez no peito da criatura, a matando de vez.
Raphael estava sem palavras pela bravura e frieza de Pacífica, a qual achava ser uma menina frágil.
- I-isso foi incrível...- disse gaguejando.
- Não foi nada. Seu braço está muito machucado? - Pacífica tentou disfarçar o ar preocupado.
- Ah, isso?- Raphael pareceu não se importar, pegando uma atadura pequena e enfaixando seu próprio braço. - Eu estou é impressionado. Você salvou minha vida!
Pacífica olhou para o lado tentando não mostrar seu pequeno sorriso.
- Tem algo que eu possa fazer por você? - Raphael se preocupou em não dar algo em troca.
- Não precisa fazer nada, foi apenas um favor.
- Então considere isso como um favor também. Precisa de algo que está faltando onde mora?
- Na verdade...
Pacífica guiou Raphael até a cabana da senhora que lhe ofereceu os apitos em troca de dinheiro, ou um de seus lobos.
Os dois entraram na cabana, Raphael olhando em volta e Pacífica encarando a senhora que estava sentada atrás de sua bancada tricotando, até que ergue os olhos por cima do óculos e diz:
- O que duas crianças fazem no meio da floresta? Querem ajuda?
- Eu não sou criança! - Raphael deu um passo pra frente parecendo realmente irritado. A senhora não deu atenção.
Pacífica ergueu a mão ao peito de Raphael para que não avançasse mais.
- A senhora já me conhece, vim aqui ontem. Você me ofereceu dois apitos por um lobo e eu recusei, mas não tinha dinheiro.
- Ah, sim... você... - A senhora parecia não estar muito contente com a presença da garota.
- Eu irei pagar pelos apitos. - Raphael disse confiante.
- Pois bem. - disse a senhora se levantando. - Os três apitos são 15 moedas.
Raphael começou a procurar as moedas em seu bolso. Achou 20 moedas e entregou as 15.
A senhora deu um largo sorriso e entregou três apitos prateados pra Pacífica que deu um sorriso semelhante. Pacífica deu um abraço apertado em Raphael, o mesmo deu um sorriso.
- Está feliz? - Perguntou
- Sim! Muito! - Pacífica respondeu sem se soltar do abraço.
- Então paguei minha dívida. - Disse brincando e deu um sorriso bobo.
Spring que era a mais quietinha, estava agitada de nervosismo pois Pacífica estava demorando muito. Desistindo de esperar, fez um sinal aos outros e saiu da caverna, imaginando onde Pacífica estava. Porém, assim que saiu, deu de cara com ela acompanhada por Raphael. Pensou em avançar, mas assim que viu que Pacífica estava alegre em sua companhia, só se aproximou devagar.
Mesmo com quatorze anos, Pacífica era muito pequena perto dos lobos, tinha apenas 1,48m de altura. Já Raphael era mais alto, com 1,79 de altura, era um pouco mais baixo que Spring em duas patas. O lobo mais alto era Fall, com 2,10m de altura em duas patas. Summer, tinha 2m e Spring tinha 1,96m.
Ao avistar Spring, Raphael deu um passo pra trás. Pacífica, ao ver a reação de Raphael, olhou para Spring e foi abraçá-la. O menino ruivo tentava entender o por quê Pacífica estava abraçando um lobo daquele tamanho, e ainda por cima, o lobo não fazia nada.
Pacífica apresentou os seus três lobos à Raphael que esboçava uma reação de surpresa e ao mesmo tempo fascinado. Acariciava os pelos dos lobos enquanto jogava conversa fora com Pacífica até que chegou a hora dele voltar para casa.
Após a ida de Raphael, Pacífica voltou a ficar mais quieta. Já testara os apitos para cada lobo e guardara os mesmos em uma pequena bolsa feita de pele de esquilo, o mesmo material de que eram feitas as suas botas.
Pacífica deu uma leve escalada para ficar sobre a caverna olhando os raios de sol entre as árvores.
Continuava pensando se queria reencontrar seus pais. Amava eles mas agora já estava criando uma nova vida. Tinha seus lobos que eram praticamente sua família, e um novo amigo, então já não tinha mais certeza se queria voltar para sua família biológica. Mas mesmo assim, se não voltasse, o que faria da vida?

Os lobos e a meninaOnde histórias criam vida. Descubra agora