Já estava tudo organizado. A mochila cor verde exército estava itens como lanterna, fósforos e comida. A outra vazia ao lado era para comprar as bebidas assim que Lucas chegasse. Eu havia planejado esse acampamento antes das férias começarem, estava super ansioso - seria a primeira vez que iria acampar e já podia imaginar a fogueira, as conversas e talvez conseguir convidar Taís para dormir na mesma barraca, mesmo duvidando que ela aceitaria.
Estava a procura de algum repelente para pernilongos, até que meu celular vibrou e abri o que era uma mensagem de Lucas avisando estar do lado de fora de casa.
- Qual seu problema em tocar a campainha?
- Não queria incomodar. - ele falou.
Lucas era o tímido da classe, e também meu melhor amigo. Ele sempre colocava os outros em primeiro lugar, o que acabava o deixando em encrencas. Ele entrou no meu quarto e logo começou a reclamar da bagunça que estava. Eu podia concordar que estava, ainda mais com as meias sujas pelo chão e os diversos copos pela escrivaninha que deveriam estar ali desde ontem a tarde. Mas tudo estava assim desde que minha mãe morreu em Abril do ano passado. Lucas tirou o dinheiro do bolso que estavamos juntando para comprar bebidas e me entregou.
- Todos confirmaram que vão? - perguntei mordendo a boca de ansiedade.
- Você quer dizer se a Taís confirmou que vai?! - ele riu.
- Não sério, os outros também tem que ir, que graça teria sem o André... não fique com ciumes Lucas.
Ele se levantou tacando meus travesseiros em minha direção.
- Bom... nós marcamos de encontrar todos às 4h para dar tempo de subir a montanha, montar as barracas e etc, na praça central. - Lucas explicou.
- Bem que seu irmão podia levar a gente de carro... - resmunguei.
- Ele nunca faria isso.
- Nem se a gente pagar a gasolina?! - falei incrédulo.
- Não Gabriel, nem adianta, não vou implorar pr'aquele chato.
- Então vá a pé mesmo. - peguei uma das meias sujas que estavam no chão e joguei em sua direção.
Meu pai bateu na porta e entrou logo em seguida.
- Lucas?! Não sabia que você estava aqui...
- Também, não aprendeu a tocar a campainha. - falei rindo.
- Bom, Gabriel....
- Ah não.... quando você começa a falar assim. - comecei a gesticular bravo.
- Sinto muito filho, mas vou ter mesmo que sair.
Meu pai é um advogado importante na região em que moramos, e às vezes ele precisava viajar para cidades vizinhas ou até mesmo para São Paulo, não importando a época do ano, férias ou Natal. Apesar de não ganhar o suficiente para pagar o meu sonho de ter um carro, ele me começou a dar quase tudo que eu pedia após a morte de minha mãe. Talvez para preencher as lacunas...
- Mas você vai levar o Mateus com você, certo?! - falei quase colocando o coração para fora.
- Como?! Você sabe que não posso. Eu estou indo a trabalho.
- Não pai, não faz isso.
- Sinto muito filho, você pode acampar outro dia.
Fui até a porta do quarto o fechando com toda raiva do mundo.
- Já sei, sua mãe pode olhar ele por uma noite?! - falei para Lucas.
- Não! Você sabe que eu menti que não estou indo acampar ou ela não deixaria. - ele falou bravo.
- E o pai do André?!
- Cara, seu irmão está mais seguro sozinho em casa do que com o pai bêbado do André.
- Quanta maldade.
- E onde vou achar uma babá nessa cidade?! Existe isso aqui?! - falei quase cochichando.
Odiávamos morar numa cidade tão pequena e afastada. Onde tudo fechava a noite, e o que havia funcionando era algumas pizzarias e dois ou três bares que nenhum adolescente iria, se não estivesse procurando por confusão.
- Tenho uma ideia. - falei quase gritando.