Capítulo 9

6.5K 360 9
                                    

(Rodrigo Lopes)

O último parágrafo do livro de memórias falava sobre o fato de Amanda querer aproveitar ao máximo aqueles poucos minutos que estava tendo ao lado de Rodrigo, pois, a seguir, haveria um monte de coisas para explicar e resolver junto às autoridades.

Ele sabia muito bem o que havia acontecido depois daquele momento, mas gostaria que ela tivesse narrado no livro, pois assim poderia relembrar os acontecimentos enquanto lesse os fatos narrados pela perspectiva dela. Seria muito bom saber o que ela pensou e sentiu em algumas situações.

Naquele mesmo dia, foram para a delegacia. Como já era de se esperar, Rodrigo não havia sido acusado de nada, a arma havia sido disparada acidentalmente e Amanda era uma testemunha ocular. Como a menina não tinha nenhum parente vivo e ninguém sabia o paradeiro de seu pai, teve que ficar sob a tutela do Estado, sendo encaminhada para um abrigo.

Como Rodrigo sabia onde ela estudava, sempre a esperava do lado de fora do colégio para que pudessem conversar por alguns minutos na praça.        

Nos primeiros dias, Amanda ainda estava muito emotiva e fragilizada, devido a todos os acontecimentos terríveis pelos quais havia passado, mas, depois de algumas semanas, a menina começou a mudar, de modo que Rodrigo não a reconhecia mais. Aos poucos, a garota doce e meiga que ele conheceu, deixou de existir. Amanda se tornou uma pessoa amarga e depressiva.

Extremamente chateado com a mudança drástica da amiga, aos poucos, Rodrigo foi parando de ir buscá-la na porta do colégio e, assim, ficaram alguns dias sem se ver. Mas a falta que sentia daquela garota era tão intensa que Rodrigo não pôde suportar por muito tempo, então, num dia nublado de quinta-feira, ele foi pra porta do colégio esperar por ela. A saudade era cruel, estava doido para vê-la. Em seu íntimo, tinha esperança de que ela tivesse voltado a ser a menina doce e meiga de antes.

Após alguns minutos de espera, ele pôde vislumbrar o rosto de Amanda em meio a tantos outros. Ela olhou em sua direção, andou tranquilamente até ele, mas, ao chegar perto, não demonstrou nenhuma emoção.

— Amanda... Como você tá?

— Eu preciso conversar com você. Vamos até a praça.

Isso foi tudo o que ela disse. A caminhada até a pracinha foi debaixo de um silêncio esmagador. Em todo momento, Rodrigo se perguntava quem seria aquela garota que estava ao seu lado. A Amanda pela qual havia se apaixonado parecia que nunca mais voltaria. Quando chegaram à pracinha, a menina não fez rodeios, simplesmente começou a dizer tudo o que Rodrigo jamais esperou ouvir:

— Nunca mais procure por mim. Quero que me deixe em paz.

Completamente atônito e com o coração batendo forte, ele perguntou:

— Posso saber o motivo?

— Você simplesmente desgraçou a minha vida.

— Como assim? Eu não estou entendendo...

— Se você não tivesse matado o Luís, ele teria me dito onde o Betinho está.

— Mas você sabe muito bem que eu não matei o Luís... Aquilo foi um acidente... Um terrível acidente...

— Se você não tivesse aparecido lá, eu teria conseguido arrancar a verdade dele. Eu sempre consegui me virar sozinha, sem a ajuda de ninguém.

— Aquele homem era perigoso e ele ia abusar de você!

— Eu tinha um plano brilhante na minha cabeça, mas aí você apareceu e estragou tudo.

— Eu só fui até lá porque eu não podia sequer imaginar a possibilidade de aquele homem tocar em você. Você sabe disso.

Eu te olhava pela janelaOnde histórias criam vida. Descubra agora