Capítulo 10

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Era por volta das sete da noite quando Rodrigo colocou seu Meriva prateado na garagem e entrou rapidamente em casa. Ainda estava morando com seu pai, pois Pedro lhe pediu para que ficasse ali pelo menos um ano.  

Ao entrar na sala, viu que o pai estava dormindo no sofá com a televisão ligada. Sem fazer movimentos bruscos, encaminhou-se para o seu quarto e fechou a porta. Finalmente estava sozinho e agora poderia ler o livro. Mas, antes disso, precisava fazer outra coisa!

Ligou o computador, entrou na internet e digitou o nome “Sabrine Soares” num site de busca. Apareceram vários resultados e, ao passar os olhos rapidamente por eles, resolveu entrar em um site que parecia promissor, e realmente era! O tal site era da escritora Sabrine Soares, autora do livro Memórias Amargas de Uma Garota, publicado há apenas dois meses.

E então, finamente conseguiu achar algo pelo qual tanto ansiava: a foto da autora. Mas, infelizmente, a única foto que tinha ali, era uma em que ela aparecia de lado, mostrando apenas uma parte de seu rosto. Rodrigo olhou bem atentamente para aquele rosto e nem por um segundo duvidou... Aquela ali era, de fato, e de verdade, a eternamente sua, Amanda Diniz. Com o coração batendo forte e os olhos marejados, Rodrigo passou os dedos suavemente na tela do monitor, em cima da foto dela.

Amanda estava bem ali, a sua garota... A sua guerreira... A sua amada. Era a primeira vez que tinha notícias dela em dez longos anos. E, durante todos aqueles anos, sempre ficou imaginando o que ela poderia estar fazendo de sua vida, mas nunca passou pela sua cabeça que Amanda pudesse ter se tornado uma escritora. Se bem que aquele livro de memórias achado na velha casa dava uma boa dica de que a menina gostava de escrever.

Emocionado, Rodrigo foi até a sala e acordou o pai. Precisava mostrar aquela foto pra alguém! Precisava, desesperadamente, compartilhar a sua alegria!

Pedro subiu as escadas com o filho, entrou no quarto e olhou a foto. Durante alguns segundos, ficou olhando para aquela pessoa que seu filho jurava ter certeza de que era a antiga vizinha.

Como o pai não falava nada, o rapaz começou a se inquietar.

— O senhor não está reconhecendo?

— Como você pode ter tanta certeza de que é ela? Eu me lembro muito bem daquela menina, jamais esqueci o seu rosto. Mas, essa aqui, não se parece muito com ela.

— Pai, o senhor precisa levar em consideração que dez anos se passaram. Naquela época, a Amanda tinha apenas quatorze anos, mas, hoje em dia, ela já é uma mulher adulta.

— Exatamente, hoje em dia, ela é uma mulher adulta, e a imagem que você tem dela é a mesma que eu tenho, a imagem de dez anos atrás... Ou seja, nada nesta foto pode confirmar que realmente...

— Tudo bem, eu já entendi. — O rapaz não permitiu que o pai continuasse, começava a ficar bastante chateado. — Eu não devia ter acordado o senhor pra mostrar essa foto.

— Você ficou chateado comigo? Eu só quero que você entenda que...

— Pai, deixa pra lá — disse ele mais calmo e já arrependido por ter sido meio rude. ­— Acontece que essa é a primeira pista que surge em dez anos... Antes disso, eu não tinha nada. Agora eu tenho.

Pedro não disse nada, apenas o olhava com amor, enquanto o rapaz continuava a falar:

— Eu sei que pode muito bem não ser ela... Mas também existe uma boa probabilidade de que seja. O senhor compreende?

— Claro. Me desculpe se acabei parecendo tão pessimista. Você está certo. Existe sim uma boa chance de ser a nossa antiga vizinha, mas esteja preparado para o caso de não ser, ou então, você ficará arrasado.

Em seu íntimo, Rodrigo sabia que seu pai estava certo.

Na manhã seguinte, debaixo de uma chuva torrencial, Rodrigo apareceu no consultório com um semblante feliz. Em seus olhos havia um brilho especial. Mesmo tendo chegado bastante atrasado devido ao engarrafamento terrível que pegou, mesmo assim, estava feliz. Nada poderia acabar com o seu contentamento. Absolutamente nada.

Havia passado a madrugada toda acordado, lendo um livro aparentemente comum, de uma autora que não era famosa, mas, para ele, e somente para ele, aquele livro tinha um significado demasiadamente precioso e muito mais que especial. Enquanto lia, podia ver toda a vida de Amanda sendo contada ali. A tal personagem chamada “Samantha”, tinha um irmão caçula chamado “Robinho”, o qual fora sequestrado pelo padrasto “Marcão”. E a garota era apaixonada pelo vizinho, um rapaz maravilhoso de dezessete anos, que se chamava “Ricardo”.

Ele sabia que ele mesmo era o tal Ricardo, e ele também sabia, de todo o coração, que aquela autora era a sua Amanda. Se, na noite anterior, enquanto conversava com o seu pai, ele ainda tinha alguma pequena dúvida, agora não tinha mais nenhuma. Por esta razão, nada naquele dia poderia estressá-lo, nem a chuva exagerada, nem o engarrafamento, nem uma criança pirracenta, nem ninguém.

Naquela noite, ao chegar a sua casa, entrou novamente no site da escritora e logo percebeu algo novo. Havia ali um aviso que não estava no dia anterior. Neste aviso dizia que haveria uma tarde de autógrafos com a autora no shopping de Madureira, no sábado, às 16 horas. Rodrigo mal podia acreditar no que estava lendo. Aquilo era bom demais para ser verdade, ainda faltavam alguns dias, mas parecia que todo o universo estava conspirando para que os dois finalmente se encontrassem.

A previsão do tempo dizia que haveria muitos dias de chuva pela frente, mas nada no mundo poderia abalar a sua certeza de que aquele reencontro seria simplesmente perfeito.

No sábado, ao levantar-se da cama pela manhã, Rodrigo abriu a janela e pôs-se a contemplar o dia maravilhoso que surgia diante dele. Depois de uma noite ainda chuvosa, o sol agora nascia para o mundo, acenando gentilmente para aqueles que aguardaram ansiosamente por sua presença.

Obviamente, passara a noite em claro, afinal, como poderia simplesmente dormir, se estava prestes a reencontrar a pessoa pela qual era apaixonado havia uma década? Teria sido maravilhoso conseguir pegar no sono e ainda ser presenteado pela vida com um sonho romântico, onde pudesse contemplar Amanda, mas estava ansioso demais para conseguir adormecer.

A manhã foi passando lentamente, enquanto a inquietação do rapaz só aumentava. O ponteiro do relógio quase não se movia e aquilo era apenas para torturá-lo.

E assim, naquela lentidão insuportável, a manhã finalmente foi embora. E, algum tempo depois, Rodrigo sorriu satisfeito ao verificar que já eram 15 horas.

Ao entrar no shopping, o rapaz sentia-se tão ansioso que seu estômago começava a dar voltas. Sua visão ficara meio turva e teve medo de acabar desmaiando, pois a emoção era intensa demais. Estava feliz e extremamente nervoso.

O que sentiria quando a visse com seus próprios olhos? O que lhe diria quando estivessem frente a frente? E o mais importante: Qual seria a reação dela quando olhasse para ele? Eram essas as perguntas que fervilhavam em sua mente no momento em que seguia apressadamente para o terceiro piso, onde seria a sessão de autógrafos.

Quando finalmente saiu da escada rolante e começou a procurar o local exato onde seria realizada a sessão, conseguiu avistar, a alguns metros dele, uma pequena fila de pessoas, cada uma com o livro em mãos. O rapaz aproximou-se mais, sendo que, agora, não estava mais andando apressadamente, pelo contrário, andava devagar, olhando para a figura feminina que aparecia sentada atrás de uma mesa, autografando o livro de uma senhora.

O rapaz parou de olhar para a escritora, pois sua visão continuava turva. Entrou na fila e tentou se acalmar enquanto folheava o livro. Quando finalmente chegou sua vez, Rodrigo olhou diretamente para o rosto da escritora e quase teve um choque.

Eu te olhava pela janelaOnde histórias criam vida. Descubra agora